terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Destino

Hipoteticamente falando, eu poderia ter tentado mais um pouco. Abrir mão tão ridiculamente fácil de um algo que foi “tudo” uma hora pra mim e tornou-se “nada” logo depois não foi a mais sábia decisão que já tomei. Mas foi precipitada o bastante para me deixar na dúvida do que teria acontecido se não fosse assim. Se eu não tivesse escolhido você, não tivesse magoada o bastante para procurar outro alguém. Cedo demais. Basicamente, isso resume minha nova relação. Rápido, rápido, lento, rápido. Bom, muito bom, maravilhoso, médio, brigas, muito bom, bom. Maravilhoso. Retomando minha questão, talvez hoje houvesse lágrimas, sono, mágoa, raiva, carência, sofrimento, drama, drama e mais drama. Ou quem sabe tivesse voltado ao normal e minha vida se resumiria em incertezas e indagações sem fim ou respostas. Viveria novamente naquele é-nãoé, assume-nãoassume, liga-nãoliga, gosta-nãogosta. Restringindo-me ao que ele aprova ou não.
Hoje... Bem, hoje é um pouco diferente. Muito diferente, pra ser sincera. Eu posso tomar a decisão sozinha se quiser, mas opto por não querer. Divido meu livre-arbítrio com você. Com alguém que, por mera coincidência, simples jogo do acaso, apareceu pra mim um dia depois de minha vida virar de ponta-cabeça. Destino. Gosto de chamar assim. Convence-me de que nada é por acaso.
Enquanto você convence-me de que ninguém tem traçado no seu caminho o sofrer, ah não, isso é só para aqueles que permitem que ele entre. E eu permiti por tanto tempo. Levo mais uma bronca sua por pensar no passado. “Bobagem”, você diz. Passado é pra marcar o tempo que ficou, bom ou ruim, mas ficou. Falo com você, então, do futuro. Brinco descompassadamente sobre nós dois, querendo mudar seus planos agora, planos que foram feitos para apenas daqui três anos. “Ah amor, três anos passa rápido, não vou te deixar ir embora”, falo pra você, mesmo sabendo que nós dois, eu e você, essa nossa relação relâmpago, talvez não dure mais dois meses. Quem diria três anos. Mas mesmo assim, não houve promessas de amor ou ideias para o futuro. Gosto de você apenas por viver o presente, e fazer dele, para mim, o melhor possível. Ele? O passado? O “resto”? Acabou, meu amor, acabou. Só sua agora.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Resto

Pensei em escrever sobre você. Mas não vale a pena. Na verdade, nem dá. Porque as palavras que eu usaria para falar qualquer coisa de você já estão ocupadas demais detalhando outra pessoa. Outra pessoa, outros acontecimentos, outras histórias. Tentei, então, lembrar-me de você. De alguma – qualquer – lembrança nossa. Mas não consegui. Minha cabeça já estava cheia de novas memórias e novos pensamentos, não sobrou espaço pra mais ninguém, quem diria você. Pensei em mandar uma mensagem. Mas minha caixa de mensagens já estava preenchida com outro nome, outras mensagens muito melhores do que qualquer resposta que você poderia um dia mandar pro que eu te enviasse. Cogitei a ideia, quem sabe, de sair com você. Mas se nada disso eu tinha, tempo não estaria sobrando também. Ele estava sendo muito bem usufruído com alguém, e, pensando bem, eu não me arrependia de gastar tanto tempo com esse alguém. E então, você se pergunta, eu me pergunto, eis a pergunta... Se não tenho palavras, lembranças, paciência e tempo para você, porque perdi exatamente essas quatro coisas nesse texto? Bem, porque dizem que cada um tem o que merece... Usei apenas o resto do meu tempo, o resto das lembranças, o resto da paciência e o resto de todas as minhas palavras para fazer jus ao que você é, hoje, para mim. Resto.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Here we go again... It's so insane


Encostada no balcão da cozinha eu ainda me sentia um pouco sem graça com aquilo tudo. As costas nuas dele a alguns passos de mim denunciavam músculos grandes e fortes e uma pele lisa e perfeitamente intacta. A cueca aparecia calculadamente pra fora da calça, o bastante pra deixar ele mais sexy ainda. Ele abaixou o fogo no fogão e olhou para trás, direto nos meus olhos, e perguntou se eu queria mexer um pouco a comida enquanto ele buscava alguns limões. Cheguei mais perto, sendo recebida com um doce beijo na testa, e fiquei um tempo brincando com o macarrão na água fervente, imersa nos meus próprios pensamentos. A música, de fundo, escolhida a dedo dentre tantas outras, enquadrava-se ao momento e embalava tudo o que acontecia ali. Ele havia pensado em cada detalhe, e até agora não havia errado em absolutamente nada. Eu não poderia, nem nos meus sonhos mais profundos ou nos meus textos mais fictícios, inventar uma cena tão perfeita e aconchegante quanto àquela. Sentia-me lisonjeada apenas por estar na companhia dele. Mas, aquilo tudo? Talvez fosse até mais do que eu merecia.
Ele me abraçou por trás, encostando sua cabeça em cima da minha. E ali ficamos algum tempo. Logo depois ele esticou o braço e desligou o fogão, me virando logo para ficar de frente pra ele. Num impulso, ele me levantou e colocou sentada no balcão, chegando perto e encostando seu nariz no meu. Sorriu. E então, saiu da minha frente, deixando-me a vista mais romântica até hoje. Havia aberto a varanda e, na mesa de fora, posto dois coquetéis, que ele havia feito ali na hora. Tinha dois pratos, um em cada lado da pequena mesa, acompanhados de talheres, guardanapo e com direito a um enfeite no copo. Flagrei-me sorrindo e, involuntariamente, com lágrimas nos olhos. Respirei fundo e o abracei, tentando demonstrar o quanto tudo estava sendo ótimo. Ele aproveitou o abraço para me pegar no colo e levar até a mesa, me colocando na minha cadeira e arrumando-a pra mim. Voltou até a cozinha, pegou a vasilha com comida e trouxe até os pratos, servindo-nos. Ainda estava sem camisa quando se juntou a mim na mesa. De frente ele era ainda mais bonito, o peito forte, liso, convidativo. Ele era inteiramente convidativo. E seu sorriso só completava a perfeição que pairava a minha frente. Eu tinha vontade de chegar sempre mais perto, seu cheiro pulsando forte ao meu redor. A nossa conversa não tinha fim. Palavras, assuntos, isso não nos faltava. Era tão automático, tão natural, que parecia um velho amigo de infância e não um cara que eu havia conhecido há alguns dias, algumas semanas. Seu olhar transbordava compreensão, calor, vida, paz, harmonia. A harmonia que eu estava procurando há tanto tempo.
Novamente, com um beijo na testa, ele pediu licença para tomar uma ducha, que durou alguns breve minutos. Saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura e outra secando o cabelo. Parou o perfeito movimento apenas para me fitar e sorrir, depois entrou no quarto e voltou vestido. Arrumado, cheiroso, divino... não, sem exagero, isso não basta. Ele merecia muito mais. Elogios não chegavam aos seus pés. Ele havia sido a pessoa mais paciente a noite toda. Havia cozinhado um jantar para nós dois. E agora estava sentado do meu lado no sofá, com os cabelos molhados, abraçado em mim e me fazendo um leve carinho na nuca, sussurrando no meu ouvido, e às vezes me olhando com um olhar infinito, explosivo, direto. Ele parecia me considerar sua futura esposa, tamanha a compaixão e química que havia ali. Eu o abracei e perguntei a mim mesma se já estava na hora, se eu já estava pronta. Para ficar vulnerável, desprotegida, entregue novamente. Se já estava na hora de me apaixonar de novo. Como se lesse meus pensamentos, ele afrouxou nosso abraço e, colocando minha cabeça entre suas mãos, me beijou delicada, calorosa e encantadoramente. Eram mil emoções misturadas em um beijo apenas. E eu percebi que talvez eu estivesse errada, talvez apaixonar-se não seja ficar desprotegida, mas achar alguém que te proteja. Eu vi isso nele. E eu desejei, de verdade, que desse certo dessa vez.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O amor não tira férias

"Mas acontece que ele não me amava como eu esperava... Bom, o que estou tentando dizer é que eu entendo o que é se sentir a menor e a mais insignificante das criaturas do mundo e isso faz você sentir dores em lugares que nem sabia que existiam no corpo. Não importa quantos penteados novos você fizer, ou em quantas academias entrar, ou ainda quantas taças de frisante você tomar com as amigas, você ainda vai pra cama, toda noite, pensando em cada detalhe, imaginando o que fez de errado, ou como pode ter interpretado mal, e como foi que por um breve momento, você achou que podia ser tão feliz. Às vezes você consegue até se convencer de que ele, num passe de mágica, irá ate à sua porta... e depois de tudo isso, demore o tempo que tenha que demorar, você vai para um lugar novo, vai conhecer pessoas novas que fazem você se valorizar e pedacinhos da sua alma vão finalmente voltar. E aquela época turva, aquele tempo ou a vida que você desperdiçou, tudo isso começa a se dissipar." O amor não tira férias.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ah não, de novo não


Comparar-te, talvez, fosse insanidade. Por ser diferente, por ser novidade.
Mas aquela sensação ali, nada tinha de novo. Era exatamente aquilo que eu sentira meses atrás, aquele sentimento-sem-nome, que causava um desconforto agradável, uma falsa alegria. Causava aquilo que eu não sabia nomear, não conseguia explicar, aqueles pensamentos tão contraditórios... os quais me faziam amar e odiar, sem meio termo, sem nem uma linha para separar. Voltou? Renovou-se? Ah não, de novo não...
Você riu quando, ao me espiar com o canto dos olhos, me flagrou perdida em pensamentos te olhando. “O quê você está pensando?”, eu não sabia responder. Pensava em tanta coisa enquanto não pensava em nada. O toque da sua mão na minha perna causou um arrepio que alcançou minhas costas. Meu coração, coitado, gritava horrores dentro de mim, pedindo pra eu sair dali, mas eu não escutava; àquela altura do campeonato, sentia-me surda em relação a sentimentos, havia cansado de me preocupar com eles. Mas, de novo? Ah não, de novo não.
Era tanta ternura e diversão naquele olhar que eu simplesmente não conseguia desviar o meu. Repassei nossos momentos na cabeça, nossos corpos juntos e nossas mentes discordando-se. Tinha algo de conhecido, de tão obviamente reconhecível naquilo que brotava no meu peito. O calorzinho que parecia tão familiar, na verdade, já fazia parte de mim. O calorzinho misturado com a aceleração dos batimentos cardíacos e aquelas malditas borboletas no estômago. Ah não, de novo não!
Droga. Tentava expulsar tudo de mim, por mais que gostasse, por mais que desejasse muito, muito mais. Não conseguia pensar claramente. As coisas poderiam ser mais fáceis se eu aproveitasse um pouco mais, e não me preocupasse o tempo todo, com tudo, com todos, com cada detalhe, e com nada. Mas aquilo era inevitável. Era a mesma sensação cruelmente viva que eu desejei uma vez nunca mais sentir. Não tinha dúvidas, era ela, de novo. Não, não, não, de novo não...
Detestei-te por um tempo, por me submeter a tudo que eu custei a esquecer, a superar. Odiei-te por ter tido tanta facilidade de recolocar o terror de volta ao meu redor. Enquanto te amei incondicionalmente por conseguir trazer novamente o que eu só havia sentido uma vez na vida. Admirei-te. A melhor das sensações, com a impressão agora de ter dado a volta no mundo quando a expulsei, e retornado a mim, devota, só que com muito mais bagagem. Não me importarei enquanto você se importar. A partir do momento em que você não mais ligar, essa deixará de ser minha solução para tornar-se meu problema. E, em minha opinião, estar apaixonado não devia ser, jamais, um problema. O pior de tudo é não saber que sente isso sozinha - ou se está, na melhor das hipóteses, acompanhada.
Ah não, de novo não?!

“I’m not afraid to try again. I’m just afraid of getting hurt for the same reason.”

Please, sweet heart, don't look back.

Eu... Eu reconhecia aquele cheiro. Aquele perfume misturado ao odor da pele morena que trazia memórias. Eu podia sentir o gosto das lembranças, quase tocá-las, pareciam tão reais, tão exasperadamente perto de mim... e ao mesmo tempo tão distantes, com um leve gosto de mofado, como algo que havia sido esquecido. Esquecido após ser molhado por lágrimas e saliva, ser olhado, admirado, cobiçado e... estragado. Talvez passado da data de validade, se é que continha uma. Uma coisa que foi usada frequentemente, por um longo período de tempo, que envolveu sentimentos e um toque de algo a mais. Tratada com carinho resistiu ao sol, à chuva, às piores das tempestades – e nada a abalou. A solidão, somente a solidão, conseguiu derrubá-la. Abandonaram-na. Esse “algo” ficou exposto às mesmas condições impostas anteriormente, mas sem atenção. Não durou; mofou. Morreu. Ou, quase morreu. Dizem que o que foi intenso de verdade não morre. Na verdade, foi assassinado. Por alguém que pertencia, que montava aquelas lembranças também. E nem assim saiu da cabeça. Havia achado que sim, mas no mais súbito rastro daquele cheiro elas vieram à tona. Apenas para mim. Odiava minha capacidade de associar os fatos a cada detalhe, e ter de lembrá-los a todo canto que ia. Mas aquela memória, em especial, havia sido compactada. Rasgada, pisada, espremida no canto mais escuro e letal do meu cérebro. E nem assim você foi embora. Nem assim. Nem quando eu decorei o odor de outros corpos, nem depois de ter tido tantas outras lembranças, esbarrado com texturas diferentes da sua, nem depois de trocar seus olhos verdes por outros olhos verdes. Você voltava cada vez que tinha chance. Não por querer, apenas inconscientemente. A distância retirou de mim, temporariamente, você. Que foi rebaixado de cargo, deixando de ser meu porto seguro para tornar-se meu pesadelo. Eu temia dormir, pra não sonhar com você. E assim, não dormia. Eu desejava que tudo pudesse ser como antes, desejava tê-lo de volta... não sempre, às vezes só, como nossa brincadeira de não levar nada a sério. Eu sentia sua falta. E queria, por mais egoísta que possa parecer, que você sentisse a minha também. Mas não era assim. E eu continuava forte, olhando pra frente, enquanto essa era a parte fácil. O mais difícil mesmo, era não olhar para trás.

Quero sem querer

As olheiras fortes no meu rosto refletidas no espelho do banheiro apenas deduravam outra noite mal dormida; não dormida. As quatro paredes me sufocavam e pareciam maiores a cada dia, ecoando sempre mais o som que minha solidão fazia. Solidão, não de vários, mas de um só. Saudade embriagada que batia à minha porta toda noite pedindo pra entrar... e eu a deixava me invadir, enquanto alimentava, cuidava, guardava. E a saudade aumentava dentro de mim, explodindo como fogos de artifícios e fazendo doer lugares que eu nem sabia que poderiam doer. Meu corpo latejava, tão carente e amargo como nunca fora antes. Pela primeira vez meu coração, minha mente e minha alma entraram num consenso: almejavam, desejavam, queriam, pediam, chamavam, clamavam, imploravam, choramingavam, amavam, aspiravam, exigiam... loucamente, insanamente... você.

sábado, 27 de novembro de 2010

Boa noite, adeus.

Caminhou demoradamente da porta até o portão. O pequeno trajeto foi traçado com passos que se arrastavam, carregando um corpo que parecia pedir pra não ir embora, fingia exaustão como razão da delonga. Fiquei presa à porta, agarrada à maçaneta, a segurando com tanta força como se pudesse passar pra ela todos os sentimentos que me inundavam. Eu queria sair correndo e pedir para que não fosse - queria desesperadamente. Mas ali fiquei, imóvel e desamparada, azeda comigo mesma.
Ele parou. Hesitou por alguns segundos, encarando o chão. Olhou para trás e fitou-me, como se buscasse um motivo para ficar, como se me pedisse para fazer algo. Nada fiz. Abriu a boca escolhendo as palavras cautelosamente, os olhos tornando-se duas frestas apenas, enrugando a testa. Pensava com carinho, como se fossem as últimas palavras. Aquele pensamento me estremeceu. Ele juntou os lábios, optando por nada dizer. Sábia escolha, o silêncio. Ao invés, sorriu. Um sorriso que me fazia sorrir sempre, mas não naquele momento. Parada ali eu sentia um crescente desespero no peito, como se eu devesse dar uns passos para frente e abraçá-lo como há tempos não fazia. Cada vez que o assistia ir embora, sentia um aperto no peito, uma vontade de pedir para ficar um pouco mais. Pensava quando ele voltaria aqui de novo, sabendo que não demoraria muito. Mas não daquela vez... Ali eu senti saudade. Saudade dos ossos, músculos, pêlos, cheiro, voz, língua, dentes, força, caráter, paixão e tudo o que formava aquele corpo presente logo à minha frente, preso ao chão. Preso, brevemente, ao chão. Saudade do que não se fora ainda. Ainda, eu pensava. Como podia ter tanta certeza?
Sorri de volta – ou fiz qualquer coisa parecida. Parecendo exatamente aquilo que ele esperava, virou-se pra frente e não tardou a andar. Saiu por aquele portão, não olhou mais pra trás. Não olhou, literalmente, mais pra trás. Embrulhou o passado e deixou-o comigo. Desfez-se do presente. Levou consigo o futuro. Levou também, além de tudo, um pedaço de mim.
Boa noite, meu amor. Adeus.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Do I need to say something else?


Ainda não superei certas ideias que correm na minha cabeça. Uma delas insiste em vir à tona toda vez que te vejo, que dá aquele friozinho na barriga, o coração dispara. Talvez ele não seja o cara certo pra você. Essa frase me tira do sério. Já não sei se é um mecanismo de defesa que automaticamente tenta me afastar de todos os homens que chegam perto, principalmente esses que me deixam sem fôlego, que me tiram o sono, que mexem com meu coraçãozinho já tão sofrido. Até pode ser. E junto com tudo isso, lembro-me de quantos caras eu nem sequer olhei ou deixei falar por simples medo de me apaixonar – e consequentemente sofrer de novo. Talvez eu esteja procurando pela coisa errada. Procuro por alguém que goste de mim a ponto de não olhar mais ninguém quando caminhar na rua. Alguém que me faça rir, não me deixe chorar, não brigue comigo, me mime. Que fique no telefone por horas comigo até que eu durma, e ainda me sussurre boa noite sabendo que já não estou ouvindo. Procuro um cara que não me faça sofrer jamais, que evite todas as conversas que eu não goste, que queira um futuro parecido com o meu. Que seja moreno, alto e bonito. Que me procure todo dia, seja por uma ligação, uma mensagem, pelo computador ou uma simples visita. Que diga que me ama e que sente saudades sempre que ficarmos sem nos ver.
E chamamos isso de cara certo. Ideal, perfeito, tudo de bom. E na verdade, não é nada disso. Todos nós procuramos pela pessoa errada. Alguém pra brigar, e depois fazer as pazes, que é a melhor parte. Alguém que te diga “não” pra algo que você queira muito, sabendo que é o melhor pra você. Procuramos alguém que olhe sim pras outras mulheres, para nos trazer uma ponta de ciúmes e insegurança, e depois ouvir que nenhuma delas se compara a você e o quanto é sortudo por te ter do lado. Queremos uma pessoa que não te procure todo dia, muito pelo contrário, que passe um, dois, três dias sem te contatar, pra quando for atrás, o encontro ser muito mais verdadeiro, pra dar tempo de sentir saudade. Que não fale eu te amo todos os dias, mas que quando fale, sejam as melhores palavras e mais esperadas. Alguém que insista em conversar sobre o que você tem medo, para que o perca. Que queira tudo diferente de você, para terem o que discutir, o que combinar, o que evoluir. Juntos. No fim, ele pode ser loiro, nem tão alto assim, e com uma beleza que além de física, seja construída pelas qualidades e defeitos também. Uma pessoa que não te deixe dormir a noite, que te faça fugir de casa, fazer loucuras que nunca imaginaria que fosse fazer. A pessoa certa. Ou melhor enquadrando-se: a pessoa errada.

Somente...?


Chega a ser engraçado a quantidade de textos que eu escrevi sobre apenas uma pessoa. O quanto eu pareço apaixonada, feliz, ou até magoada. Todos falam coisas diferentes, que na verdade, se resumem a uma só: você. É engraçado porque, na verdade, você não merece. Nenhuma das palavras que cheguei a escrever. Nenhum dos sentimentos que ousei sentir. Sempre tão seguro de si, com tanta certeza do futuro, fez questão de não me incluir nele. E deixar claro pra mim. E mesmo assim, não se importa de sair comigo e fazer o que bem entender, não pensa que quando você se formar, você viajar, você sair da minha vida, sou eu que sofro. Aí, não se trata mais de você. Aí serei apenas eu.
Mais engraçado é pensar que você se julga bom o bastante pra qualquer um. Que na verdade, eu tenho sorte de ter te conhecido e sentido tudo isso por você, e não por outra pessoa. O mundo continua girando ao seu redor, para você, de acordo com as sua regras. Enquanto eu... Eu? Sou apenas uma coadjuvante, descartável, temporária. Diversão, prazer, passatempo. A mesma diversão sempre perde a graça, o prazer torna-se não tão prazeroso assim, e o tempo passa, acaba com o passatempo. Não quero olhar pra trás e pensar que fui só isso. Não quero olhar pra frente e continuar só isso. Então talvez você olhe um dia para o lado e não me veja. Só isso.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Felizes para sempre"


O que fazer quando você pode sentir o fim chegando? O último beijo, a última conversa, último abraço, carinho, troca de olhares, carícia? As últimas risadas, última vez que o coração vai acelerar e depois ficar apertado por um simples sorriso de tal pessoa, última vez que vai ouvir aquela voz? Talvez não seja certo recorrer ao drama, já que o ponho presente no resto da minha vida. Talvez uma pitada de ironia combinasse melhor. Porque irônico é o fato de eu ficar triste mesmo tendo me preparado para isso desde o primeiro dia. Irônico é me deparar com a linha final e mesmo assim deixar a ousadia de ultrapassá-la falar mais alto, sendo que nunca antes ela havia se manifestado. É ver uma atitude incomum, tão grande, tão maior que eu, a ponto de querer sair de mim e tornar-se outra pessoa, apenas pelo fato de sentir que está tudo acabando; e nunca houve atitude em mim anteriormente. Talvez sejam os hormônios se desesperando, precipitando a falta que sentirão. Meus sentidos, quem sabe, angustiados pelo corpo que, não agora, mas brevemente me deixará. Meu coração no peito, suplicando gentilmente para que eu pule essa parte – o fim.
Irônico é subestimar uma pessoa sem ao menos conhecê-la, é achar que ela não vai fazer diferença na sua vida; diferença é fichinha, essa mesma pessoa vira sua vida de cabeça pra baixo. É desejar que uma história não comece e depois dar a alma para que não acabe.
E aqui estou eu, escrevendo sobre finais mais uma vez. No mesmo desenrolar, baseada nos mesmos erros, no mesmo intacto fim. No fundo, todos procuram o seu “felizes para sempre”, até mesmo os mais gélidos corações. Não é só em contos de fadas, nem em mente de criança. Ninguém almeja ficar sozinho; não, pelo menos, até estar apaixonado. E enquanto digo que quero algo intenso enquanto dure, eterno enquanto exista... Espero, na verdade, que o intenso seja eterno – para sempre.

domingo, 31 de outubro de 2010

Parecido, mas não igual

Eles tinham algo conhecido. Não sei direito o quê, cada um tinha uma pequena característica que falsamente me encantava, mas era apenas por ela, não era o conjunto todo. Quantos e quantos loiros me viraram a cabeça nesses últimos dias, sendo que antes nem sequer gostava dessa cor de cabelo. Os olhos verdes mesmo, pareciam destacar-se em cada um que os possuía, me deixando uma leve vontade de olhá-los por alguns instantes. As palavras, até as palavras, as expressões e tudo o que saia da boca de alguns me fascinava – tinha algo de comum, sombriamente comum, que me fazia fechar os olhos para ouvir. Eu só não sabia o porquê. Fazia tanto tempo, não entendia o motivo daquilo tudo, de procurar algo sem saber o que, de me encantar com coisas que nem sabia distinguir ou explicar porque me agradavam. Alguém veio à mente. Sorrateiramente. A verdade é que os loiros não eram exatamente do tom de loiro que eu queria, procurava. Eram apenas loiros, uns demais e outros de menos, nenhum na medida certa. E os olhos... A cor sim, era muito parecida, porém sem aquele toque final. Os olhos, confundiam até; o olhar, jamais. Quanto às palavras, não tinha como serem diferentes, sendo usadas da mesma forma, acompanhadas das mesmas outras palavras. Mas ninguém tinha o mesmo tom, o mesmo timbre, a mesma voz. Nem sequer passava perto. Depois de algum tempo tornava-se apenas um zumbido irritante, que eu implorava para não ouvir mais. Sentia falta de uma cabeleira loira, de um par de olhos verdes, de uma voz e suas infinitas palavras. O resto... O resto era resto.
O que me conforta é o fato de saber que vai passar; de que vou te esquecer, como todos os outros. O que me desconforta é saber que você não tem nada de parecido com os outros, e que talvez essa regrinha não valha para você.

sábado, 30 de outubro de 2010

E agora?

Talvez você leve horas pra conseguir pregar os olhos à noite. Pensamentos inundam sua mente, uma mesma cena teima em se repetir, queimando seu orgulho, arrancando qualquer sanidade que ainda havia sobrado. Sente o coração na boca, ainda batendo freneticamente, te sufocando e fazendo lágrimas surgirem nos olhos. Por quê? Por que tenho sempre que fazer algo errado? Por que não dá de aproveitar a noite uma vez na vida?
Você gritou, apontando o dedo pra mim. Eu não sabia o que responder, gritava de volta. Olhou-me da pior forma possível, virou as costas e saiu caminhando. Rápida e enfurecidamente. Nem que eu corresse conseguiria te alcançar agora. Deixou claro pra não ir atrás, não te procurar. Eu só queria dois minutos pra tentar me explicar, por mais que soubesse que você usaria argumentos muito mais convincentes e me deixaria como culpada, mais uma vez. Mas gostaria de tentar. Pra te ver ir embora da minha vida com um pingo de dignidade, sabendo que ao menos eu tentei te fazer ficar. Eu tentei.
Tudo vinha à cabeça em fração de segundos sem deixar que o sono me atingisse. Suas palavras, seus beijos, seu abraço, sua atenção, seu carinho. As coisas boas, as coisas ruins. Lembrei-me do quanto você odeia meus textos, ou pelo menos odeia o fato de eu usá-los para desabafar e tentar provar o que sinto. Diz que você prova em ações, palavras não bastam. Lembro que odeia que eu coloque os cabelos atrás da orelha, meu jeito folgado, meu modo de te tratar. Acha minha testa grande, meu cabelo feio, baixinha demais, gordinha demais. Nunca boa o bastante. Odeia meu carinho, minha voz, meu “oi” ao telefone. Acha-me criança, imatura, grossa, chata, irritante. E eu simplesmente o adoro. Admiro-o. Acordo sorrindo quando sonho com você, durmo feliz quando você me liga antes. Sinto sua falta quando fica distante, tento te dar a atenção que você me proporciona. Mas te sufoco. Machuco-te, te irrito. Sua paciência acaba da mesma forma que começou.
E agora estamos aqui, não tenho mais coragem de te ligar, quero ir correndo bater na sua porta e ouvir tudo o que você tem pra falar. Quero que diga olhando nos meus olhos. Quero que seja puro e verdadeiro. Magoando ou não. E nesse momento, gostaria de te conhecer um pouco menos, de não saber o que vai acontecer. Gostaria de ter esperança de que você vai deixar tudo assim, vai me ouvir se eu for falar contigo, vai me receber se eu for te procurar. Gostaria que não me excluísse de nada, muito menos da sua vida. Gostaria de ter essa pontinha de esperança, mas não tenho. Porque te conheço, sei como vai ser, tenho medo do que vou ouvir. E tenho mais medo ainda de não ouvir absolutamente mais nada de você. E agora?

Pensa em mim

Inspiração dos meus sonhos, não quero acordar. Quero ficar só contigo, não vou poder voar. Por que parar pra refletir se meu reflexo é você? Aprendendo uma só vida, compartilhando prazer. Porque parece que na hora eu não vou aguentar, se eu sempre tive força e nunca parei de lutar? Como num filme, no final tudo vai dar certo, quem foi que disse que pra tá junto precisa tá perto? Pense em mim, que eu to pensando em você, e me diz, o que eu quero te dizer. Vem pra cá, pra ver que juntos estamos, e te falar mais uma vez que te amo. O tempo que passamos juntos vai ficar pra sempre, intimidade, brincadeiras, só a gente entende. Pra quem fala que namorar é perder tempo eu digo, há muito tempo não cresci o que eu cresci contigo. Juntos no balanço da rede, sob o céu estrelado, sempre acontece, o tempo para quando eu to do seu lado. A noite chega, eu fecho os olhos, é você que eu vejo. Como eu queria estar contigo, eu paro e faço um desejo:
Pense em mim, que eu to pensando em você, e me diz, o que eu quero te dizer, vem pra cá, pra ver que juntos estamos, e te falar mais uma vez que te amo...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Masoquista

Cheguei a uma conclusão: meu coração não é orgulhoso, é masoquista. Nunca vi gostar de sofrer tanto. É um tal de sofrimento pra cá, sofrimento pra lá. E quando não sofro, sinto falta. A verdade é que atrás de toda essa dor tem aquela pontinha gostosa de prazer. Coração apanha, apanha, apanha e continua lá, batendo. Batendo ritmicamente ou totalmente fora de ordem. Batendo em outros corações, dando a eles a mesma “dor prazerosa” que sente.
Masoquista. Ah... Coração burro.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Limite

As coisas têm limites. As pessoas têm limites. Tudo tem um determinado limite, uma linha final. Tudo acaba. Recomeça.
E até onde agüentaríamos? Onde é nosso limite? O relógio parecia apressar-me, cada tique-taque dele me parecia um segundo a menos, tempo perdido. Algo me dizia para aproveitar, não desperdiçar minhas chances. Que estava chegando. Chegando o que? Não faço idéia. Mas vinha. Cada vez mais depressa, me colocando contra a parede e me deixando sem ar. Dessa vez não era ele o causador. Mas era com ele que eu deveria estar. Deveria medir minhas palavras, meus atos. Eu o perdia a cada movimento errado, cada palavra mal colocada. Assistia-o gostar cada dia menos de mim, de “nós”. Se é que houve alguma vez “nós”. Sentia saudade do tempo que ainda estava por vir e não queria deixá-lo passar entre meus dedos. E estava mais perto, mais rápido, o relógio continuava no seu tique-taque. No desespero de fazer as coisas do modo certo, fazia tudo errado. Ele passou da raiva para a falta de paciência, e logo começou a me ignorar. Tudo que fazia era inútil, mas continuava fazendo. Desejava que ele parasse de ir para longe, que aquele tique-taque insuportável parasse de tinir em meus ouvidos. Ele voltava, cada vez mais distante, por mais que estivesse perto. Eu o perdia. Perdia sem nunca o ter tido de verdade. Havíamos nós chegado ao nosso limite?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Encarei-o por alguns segundos. Aqueles centímetros que nos separavam me agoniavam, queria puxá-lo pra mais perto. Não, ele não gosta de muita aproximação. Refleti comigo mesma quantas vezes aquelas discussões nos deixariam nesse silêncio insuportável. Quantas discussões ainda viriam, até onde eu aguentaria, até onde ele aguentaria. Desde que havíamos entrado naquele carro ele não havia olhado pra mim, não se deu ao trabalho de nem ao menos conferir se eu tinha colocado o cinto, como sempre fazia. Isso me preocupava, eu o conhecia, ele não era assim. Na verdade, nem sei se o conhecia direito, aquele lado dele ainda não havia visto.
Perdi-me nos meus pensamentos e nem percebi que o olhava fixamente. Ele virou a cabeça e me lançou o olhar mais frio que aqueles olhos poderiam mostrar. Meu coração apertou-se e eu sabia que aquela noite não terminaria bem, aquilo tudo não era normal.
Tá nervosa? Ele perguntou. Fiz uma expressão de confusão e tenho que certeza que ele notou, e apontou pra minha perna que balançava freneticamente. Não, não estou. Só quero chegar logo em casa e tomar um banho, estou com calor. Eu respondi por educação, porque a pergunta dele havia sido no tom mais sínico possível. Ele apenas sorriu com o que eu disse, não me olhando novamente. Eu perguntei se podia mudar de música, ele me ignorou. Perguntei se queria tomar um sorvete antes de chegar em casa, ele me ignorou. As lágrimas começaram a brotar involuntariamente, eu as limpava com a manga do casaco quando elas insistiam em pular pela borda dos olhos. Aquele sentimento estranho começou a se transformar em raiva, eu não havia feito nada pra receber aquele tipo de tratamento. Estávamos chegando à minha casa, reconheci o caminho. Pensava em tudo o que ia lhe falar no momento em que parasse o carro, ia ser sincera, falar que não aguentava mais aquilo, que não queria mais nada. Tentei não imaginar as consequências, os dias sem ele, o vazio que iria ficar. Respirei fundo. E de novo. E mais uma vez. Ele percebeu que eu estava alterada, mas dessa vez quem não olhava era eu. Chegamos na minha rua, ele parou exatamente na mesma vaga que parava toda vez que ia me buscar. Tirei o cinto lentamente, virei-me para ele e ia começar a falar, quando ele de surpresa puxou meu rosto com as mãos e me deu um beijo demorado, espontâneo. Deu aquele calorzinho gostoso, tranquilo, saudável no peito. Coloquei uma mão na sua nuca, apertando-o contra mim, mas ele logo recuou e tirou minha mão. Esqueci que ele não gosta de muita aproximação. Chegou perto e sussurrou na minha orelha: eu te amo. Com a outra mão abriu a porta do carro e eu saí. Entrei no meu quarto, sentei na cama, ainda com a mesma expressão. Não sabia se ria, se chorava, se sentia raiva ou adoração. Mas sabia que adorava aquelas surpresas dele, aquelas oscilações de humor. Amava aquele sorriso, aquele beijo. Sabia, acima de tudo, que não viveria sem ele. Eu o amava.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Realidade dos sonhos

Finalmente sinto aquele cheiro de terra de novo. Meus pés tocam e equilibram-se, exatamente como antes. Um gesto familiar, do qual eu sentira tanta falta. Afinal, havia muito tempo que eu estava viajando. Viajando na minha própria mente, minhas próprias ideias, meus autênticos sentimentos. Sentimentos que ainda não nomeei, que são tão intensos que ninguém consegue definir. Eu viajei para um mundo só meu. Acreditava no que queria, via o que queria. As pessoas eram boas, elas não tinham intenção de te magoar. Tudo dava certo no final. As lágrimas, apenas de alegria. Sorrisos em todas as faces ao meu redor. Eu podia sentir o aroma da felicidade, dos sonhos de cada um, que eram os mais verdadeiros possíveis. Estava no meu próprio sonho. Há quem chame de criança. Imatura. Uma mente que ainda tem muito a aprender. Não discordo. No fundo, todos são crianças. Todos desejam algo que não podem ter, criam um mundo que gostariam que fosse o real. Apenas não demonstram, não se entregam. Eu me entreguei, adorei. Passei muito tempo vendo a alma das pessoas apenas olhando nos seus olhos. Não tinha, realmente, os pés no chão. Eu flutuava, voava, como se ninguém jamais pudesse me alcançar, me parar. Fosse isso um sonho de criança ou não, foi maravilhoso. Às vezes a realidade torna-se insuportável, dura demais, ruim demais. Mentiras nos enchem os ouvidos, nos furam o coração. O egoísmo vira a base de tudo, cada um por si, você mesmo vem em primeiro lugar. As outras pessoas não tem vez na sua vida. Você as deixa passar, as deixa ir embora, apenas pelo simples fato de aceitar que muitas e muitas pessoas passarão ainda. Falta a vontade de tornar algo inesquecível. Falta a vontade de tentar. E muitas vezes as coisas saem do controle, porque a vida acontece a cada segundo, você perde segundos o tempo todo, enquanto deveria aproveitá-los. Não leve a vida tão a sério. Devemos ter nossos momentos de realidade, de pé no chão, de cabeça madura. Mas ninguém é feliz se não viajar. Viajem. Olhem ao redor e vejam o mundo com outros olhos, talvez a expressão certa seja até com “olhos de criança”. Inocência, honestidade, carinho, compaixão. Nem tudo vem pra te atingir. Quando cair, levante, siga em frente. Você cairá muitas vezes ainda. Talvez o segredo de uma mente sã seja fechar os olhos para certas coisas, não acreditar em outras, e sonhar. Sonhar a cima de tudo. Podem tirar-te tudo, mas jamais tirarão seus sonhos. E enquanto julgam o resto realidade, real mesmo são os sonhos, que não te abandonam.

“De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.” Fernando Pessoa

“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
acreditar nos sonhos que se têem
ou que os seus planos nunca vão dar certo
ou que você nunca vais ser alguém...” Renato Russo

“Somos do tamanho de nossos sonhos.” Fernando Pessoa

"Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras." Marcel Proust

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Nunca mais

Vê-la dormindo me trazia um pouco de paz. Depois de um dia como aquele, desejava que todas as noites terminassem assim. Nossas brigas deveriam cessar, nossa relação estava ficando desgastada por causa disso. Toda vez que ela ameaçava ir embora, meu coração gelava. Nunca fui homem o bastante para pedi-la com palavras objetivas que ficasse. Nunca implorei para que não fosse embora. Fingia indiferença, era irônico o tempo todo com ela, e via o quanto aquilo a irritava. Ela realmente nunca teve coragem de partir, falava muito e fazia pouco. Ameaçava todo dia, toda hora, a cada briga nossa, no fundo esperando uma reação diferente minha, talvez precisando saber que a queria comigo para ficar mais segura. E até hoje me arrependo de não ter dito tudo o que realmente queria. Era uma gritaria repulsiva, seja por ciúmes ou por qualquer outro motivo. Ela arranjava briga por tudo, fosse por eu não me lembrar de algo que ela havia me contado ou por não parar de ser irônico, cínico, o tempo todo com ela. Odiava quando ela me tratava como um objeto, como uma propriedade dela, apesar de não termos nada significantemente sério, e isso nos causava mais brigas. Acabava sempre em choradeira, as lágrimas corriam involuntariamente pelo rosto dela e aquilo me dava náusea, sentia nojo de mim mesmo por magoar ela daquele jeito. Sem perder a postura, continuava sério e indiferente perante sua famosa ceninha, que se repetia sempre. Pelo menos continuava assim por fora. Por dentro, eu desmoronava a cada dia que passava. Ela desistia depois de alguns minutos e corria pro meu colo, ficava lá me abraçando e beijando meu pescoço, pedindo desculpas por algo que nem era culpa dela. Logo vinha o momento de raiva, levantava e dizia que iria embora, que depois que saísse por aquela porta não voltaria nunca mais, dramatizava todas as suas palavras. Eu não me movia. Ela esperneava e chorava mais, muito irritada. “Dá pra você fazer alguma coisa? Vai ficar aí me olhando? Não liga pras nossas brigas?” – ela gritava. “Não” eu respondia. Aquilo bastava pra começar o fim da briga, ela saia correndo na minha direção, me estapeando e falando coisas incompreensíveis, feito uma louca. Eu segurava seus braços que relutavam contra os meus, a pegava no colo e jogava na cama, e ali a segurava ate que parasse um pouco. Depois vinha os beijos, o amor, a noite. E finalmente chegávamos a esse ponto, ela dormia pacificamente do meu lado.
De repente começou tudo de novo. Ela acordou, sorriu, me deu um beijo. Sempre tentando arrancar um sorriso meu. Fiz uma brincadeira por causa do seu cabelo desgrenhado e ela riu. Conversamos um pouco e ela quis saber porque eu não chorava. “Eu não choro, acho desnecessário” respondi. Ela não se satisfez. Incomodou tanto, mas tanto. Disse que sempre havia a primeira vez. Eu a lembrei que sobre primeiras vezes conhecíamos bem, havia sido o primeiro para ela em muitos sentidos. Isso nos fez rir, ela me deu um abraço forte, encostou sua testa na minha e perguntou de novo como eu aguentava viver sem chorar, que o choro era um desabafo humano. Não me aguentei, fiz uma piadinha qualquer sobre aquilo e fui extremamente grosso, mas ela já estava acostumada, nem retrucou. Estúpido. Só vai dar valor quando perder – a ouvi sussurrar, mas ignorei. Ouvi seu suspiro desapontado e fui para a cozinha pegar algo para comermos.
“Quer suco de laranja?”, “não amor, obrigada”. “Hum, quer panqueca?”, silêncio. “Quer ou não?”, nada de resposta. Fui até o quarto e não a achei. Banheiro, sala, quarto de hóspedes. Nada. “Onde essa safada de meteu?” pensava. Liguei pro celular dela, desligado. A bolsa dela também não estava ali, devia ter ido embora. Como sempre, indiferente, sentei na frente da televisão e fiquei a tarde toda assistindo um jogo de futebol. No fim do segundo tempo, meu celular começou a tocar. Deve ser ela, não vou atender, quem mandou sumir. Tocou de novo, e mais uma vez. Peguei pra ver o número, ela não costumava ligar com tanta insistência. Desconhecido. Resolvi não atender. Passada uma meia hora, minha campainha tocou. Sabia que ela ia voltar. Fui até a porta e a abri, pronto pra ser ligeiramente grosso e mandá-la para casa, me deixar em paz por um tempo, ia dizer que estava de saco cheio das nossas brigas e que queria ficar sozinho um pouco. Quem pairava na minha porta não era aquele corpo pequeno com os dois olhinhos verdes e cabelo escorrido. Era uma senhora mais velha vestida de branco, e um homem, esse vestido de preto. Antes de qualquer coisa, a mulher me pediu pra ficar calmo que iriam me explicar tudo e depois gostariam que eu os acompanhasse até o hospital para reconhecer um corpo. Depois disso, tudo aconteceu tão rápido que não me recordo direito. De repente eu estava sentado no sofá, incrédulo, a senhora falava algo, cabisbaixa, mas eu não conseguia ouvir nada, via apenas seus lábios se movendo lentamente. Senti enjoo e uma ânsia de vômito, corri para o banheiro e não saiu nada. Fiquei lá parado apoiado na pia enquanto pinguinhos de agua caiam ali. Olhei pra cima e vi que os pingos vinham de mim. Tentei não chorar, mas aquilo era muito mais forte que eu, saia deliberadamente como se eu não pudesse controlar o que estava sentindo. Com o rabo do olho, espiei o meu quarto, vi minha cama bagunçada. Não meu amor, você não pode me deixar. Não agora. Tenho muita coisa pra dizer. Por favor, esteja bem. Desejei com todo meu coração. Procurei desesperadamente as coisas dela que ela deixava na terceira gaveta do meu armário, mas não havia nada ali, ela levou tudo. Acompanhei os senhores até o hospital. Reconheci seu rosto, impossível não reconhecer. Peguei na sua mão, que dessa vez se encontrava gelada, aquela mão que me acalmou e me esquentou, que me fazia ficar louco de raiva ou louco de amor. Ela estava amassando algo, uma foto. A nossa foto. Tirei dela, sem conseguir conter as lágrimas de novo. Atrás estava escrito eu te amo, não importa o que aconteça, vou sempre te amar. Ela tinha me dado aquela foto no meu aniversário, como não pude dar importância pra simples palavras? Que hoje fazem toda a diferença. Queria ter dito tudo o que se passava aqui dentro, queria ter chorado pelo menos uma vez com ela, fosse de alegria, raiva ou tristeza. Eu tive que perder pra dar valor. Desejei tanto que as brigas cessassem, e agora que não havia mais brigas, desejava-as toda manhã. Sentia falto daquele cheiro, aquele sorriso, aquele beijinho de bom dia. Saibam dar valor enquanto há tempo, tudo acontece tão rápido que sai do controle, e não há nada que possamos fazer. O que eu não faria por uma segunda chance agora... Não podia imaginar que, quando ela disse que depois que saísse por aquela porta não voltaria nunca mais, esse nunca mais realmente duraria pra sempre.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Hoje me deu uma loucura. Deu saudade de pessoas que não vejo há tempo e outras que não falo há mais tempo ainda. Senti uma vontade absurda de falar coisas que em dias normais não falaria - e falei. Fiquei com um desejo insano de vê-lo e enchê-lo de beijos e carinhos e mimos e abraços e mordidas. De sussurrar no ouvido dele tudo o que está preso aqui dentro de mim, de falar tudo o que penso, não importando o quão ridículo ele ache minhas palavras dramáticas. Deu vontade de fugir de casa, sumir por algumas horas, deixar todo mundo preocupado. Desligar o celular e ir pra praia, aproveitar o sol, não pensar em nada o dia todo. Talvez algumas pessoas precisem sentir minha falta e ficar loucos de preocupação pra perceberem que na verdade se importam comigo, que gostam de mim. Ah, mas hoje... Quis fazê-lo sentir ciúmes e brigar comigo, só pra sentir depois o gostinho da reconciliação. Quis fazê-lo me odiar muito, só pra depois poder reconquistá-lo novamente. Deu-me vontade de ser grossa com as pessoas, de esquecer essa coisa de ter que ser tão educada sempre, fiquei com um desejo de explodir e ser o mais sincera possível, falar tudo o que viesse a mente. Resolvi não ir à aula, passar a tarde vendo televisão e comendo, ficar no computador até tarde falando com quem me desse na telha. Senti falta de dias que deixei passar e de coisas que poderia ter feito. Falta de pessoas que foram embora e não retornaram. Hoje eu percebi que muita gente passou na minha vida, apenas passou, e agora não faço ideia de onde estão, como estão. Percebi que posso desejar com todo meu coração, mas certas pessoas não retornam, certos dias não se repetem, o tempo não volta. E não há nada que eu possa fazer.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Acabou

Quantas vezes você acorda de manhã depois de um sonho maravilhoso, levanta sorridente pensando na pessoa que te alegrou a noite, passa o dia bem humorado esperando encontrar com ela? E aí, num súbito flash de realidade, você infelizmente se lembra de que a pessoa não faz mais parte do seu dia a dia. E pior ainda, não faz mais parte da sua vida. Você se lembra da despedida dela, da maneira repentina na qual ela te deixou. Começa a tocar no seu iPod “tell me that we belong together... i’ll be your crying shoulder, i’ll be love’s suicide…” e dá aquele aperto no peito. Por que chegamos a esse ponto? Foi algo tão bom, tão intenso, demorou pra sairmos, nos conhecermos, pra acontecer nosso primeiro beijo. Demorou pra criar confiança, intimidade, sentimento. E de um dia pro outro acabou. Você, simplesmente, não é a mesma pessoa que eu conheci meses atrás. Não foi por essa pessoa que eu me apaixonei. Você se atualizou nesse mundo moderno, mas eu me acostumei com sua versão velha. Você que dizia sempre que nada acontece de uma hora pra outra, ninguém começa a namorar de um dia pro outro, não funciona assim. Então por que deixou nosso mundo rachar aos pouquinhos e não ligou pra isso? Por que não teve o menor trabalho de consertar essa rachadura? Deixou crescer e aumentar... Então pensando bem, não foi tão repentino assim. Você nos assistia acabar aos poucos. As brigas, os gritos, o orgulho, os ciúmes. Você deixou acontecer. E eu, apaixonada, cegamente permiti que você nos levasse ao melhor caminho. E aqui estamos nós, parados no fim do caminho, tomando agora rumos separados, e me pergunto se fiz a escolha certa lá trás, numa encruzilhada, quando você mandou irmos para a direita. Deveríamos ter ido por outra estrada, qualquer outra, mas não essa. Não essa que nos trouxe a nada, ao fim. Mas lamentar-me não vai te trazer de volta. Lamentar-me só vai fazer o martírio que sinto pior. Seguro o celular contra o peito, apertando-o. Fecho os olhos e vejo você fazendo o mesmo, segurando-se para não ligar, para não ouvir minha voz. Lembro-me da sua e me arrepio. Quanto tempo faz? Que não nos vemos, não nos falamos? A dor da saudade é tanta que chega a ser pior do que qualquer dor física. Recordo-me daquela tarde que passamos num parque, correndo, rindo, nos divertindo. Dos seus beijos que, apesar da distância e do tempo, ainda parecem tão recentes. Sinto-o segurando minha cintura e apertando-a contra a sua e de me olhar profundamente nos olhos, como se pudesse enxergar minha alma. Lembro também daquele nosso jantar, num lugar todo refinado e com gente certinha demais, e nós ríamos disso. Ríamos dos bons modos das pessoas e do jeito que todas pareciam metidas e mimadas demais. Como poderia esquecer o dia dos namorados, que você me levou a praia à noite, onde vi o mais belo luar da minha vida. Onde vi o mais belo olhar da minha vida. Onde vi, ao olhar para o lado, o amor da minha vida. E não queria que aquela noite jamais acabasse. Mas acabou. Não só a noite, como todo o resto. Tudo o que construímos, absolutamente tudo, desfeito da noite pro dia. Como um castelo de areia grande e bonito, todo detalhado e enfeitado, digno do primeiro lugar se entrasse numa competição. E aí alguém vem e chuta o castelo. Desmorona. Destrói. E por mais que as palavras marcantes e dolorosas que você dirigiu a mim ainda estejam ecoando na minha mente, devo agradecê-lo. Pelo que me ensinou e ajudou. Pelos momentos, pelos sentimentos, pelo amadurecimento. Se não houvesse tanta coisa boa eu não sentiria essa falta que esmaga o peito. Sinto falta das horas de conversas no computador ou no seu carro. Do jeito que você parecia inteligente debatendo qualquer assunto com a minha mãe sentado no sofá da minha sala. Sinto falta do seu vício por futebol e sua mania se mexer no cabelo. Não quero que depois desse tempo fiquem apenas os momentos ruins. Quero lembrar-me de você como uma parte boa da minha história, um orgulho. Desculpe por tudo que a causei a você. Mas acabou. Feliz ou infelizmente. E nada nessa vida é pra sempre, exceto as mudanças. E o amor. Ah, maldito amor...


P.s.: texto sobre término pra menina do formspring. beijos!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Insônia


Agora, nesse exato momento, eu queria seu colo. Queria que você me deixasse agir feito uma mulher e depois chorar feito uma criança. Queria segurar na sua mão e senti-la afagando a minha devagarzinho. Queria seu abraço, suas palavras de consolo, seus argumentos, suas infinitas explicações. Porque você repete, repete, repete e eu continuo sem entender. Conformo-me momentaneamente apenas por estar ali com você, mas quando a distância de mim te separa e bate a saudade, eu esqueço tudo que foi dito a mim, não me importo com os porquês e os motivos, continuo te culpando por ser tão ocupado. Você vem de novo e me explica, se desculpa, me encara. Encara-me nos olhos, sem medo, sem pretensões. Não sei o que pensa, não sei nem o que pensar. Beijo-te, te seguro, não pretendo te largar. Mas você tem sempre que ir, não pode nunca ficar. Não sei mais ler nas entrelinhas, era tão divertido no começo, mas tornou-se complicado demais. Não me surpreenderia se, ao me deixar, fosse bater na porta de outro alguém. Fosse dar as mesmas explicações, o mesmo afago na mão. Não me surpreenderia se essa outra pessoa fosse perdidamente apaixonada por você e aceitasse ser sua melhor amiga e viver nas condições por você impostas. Nunca sei se, quando não pode estar comigo, você não está com ela. Se tivesse que escolher alguém, certamente a escolheria. Mais velha, mais madura, mais independente. Mas não tem que escolher ninguém, sabe jogar, sabe enrolar. Não me surpreenderia se aparecesse namorando de um dia pra outro. Não seria novidade ouvir-te dizer que gosta de mim, mas que inúmeras coisas nos impossibilitam de ficar juntos. Ah, ouvi essa história várias vezes de você. E tudo aquilo que parecia tão novo e inesperado foi tornando-se cada vez mais morto e apagado. Você não me liga mais e quando atende meus telefonemas sua voz não transmite mais animação. E eu sei disso tudo, eu enxergo perfeitamente bem. Vejo que você não sente minha falta e que tem outras na sua vida. Mas eu penso “hoje vai ser o último dia, deixe-me tirar a sua última lasquinha, última lembrança, amanhã eu lido com a dor, amanhã eu penso eu te esquecer, mas deixa-me aproveitar hoje pela última vez”. E chega o amanhã, e eu quero mais. Busco-te, insegura. Precisando, cada vez, mais de você. Exigindo algo que não poderia, querendo o que não deveria. Sentimento demais pra pouco tempo, pra uma pessoa só. Sentimento demais pra quem não merece, pro que não é recíproco. E esses textos que não tem mais nexo, não queria escrevê-los para você, não queria de verdade. Mas quando busco inspiração só vem você. Você, você, você. Vício? Que seja. Mas todo vício faz mal. Fique longe de mim, mantenha suas mentiras afastadas. Deixe-me respirar algo que não seja somente você, deixe-me ver algo além do que você quer que eu veja. Permita-me viver. Porque, todo esse tempo, enquanto eu me culpava frequentemente por não abrir os olhos, na verdade eles estavam abertos, mas você pairava na minha frente, com a leve intenção de não me deixar ver mais nada, só você. Hoje, só vejo você. Vejo aonde não tem, vejo em todo lugar. Tudo tem seu jeito, tem seu cheiro. Mas não me chame de maluca. Você tem parcialmente culpa nessa história, nega sentimentos enquanto os sente arder no peito. Nega o ciúme enquanto ele o corrói e enraivece. Dá-me um pouco, deixe-me provar desses sentimentos. Deixa eu me sentir amada por você, desejada. Eu vejo seus olhos brilharem quando me vê e ficarem foscos quando me assiste ir embora. Esse muro vai desmoronar uma hora, ninguém aguenta pra sempre. Essa sua barreira tão gigante e reforçada tem defeitos, pequenas entradas, basta achá-las. Você as faz propositalmente, para que a pessoa certa a perfure, invada. Não tenho paciência para seus joguinhos. Vou explodir sua barreira. Olha no meu olho e diz que não quer. Olha no fundo dos meus olhos e nega a vontade de me beijar. Vai, nega. Novidade nenhuma. Não me surpreenderia se você o fizesse. Acredite, as pessoas não sabem como são felizes até tropeçarem na tristeza. Não sabem dar valor, e só percebem a falta que alguém faz depois que perde. Mas você é diferente do resto das pessoas. Suas palavras, seu jeito de sentir. Martirizo-me por gostar tanto de você. Esse nó na minha garganta que me sufoca e me impede de falar tanta coisa, você o causa. Você é causa de tudo. Chega. Chega de você. Quero festa, quero gente. Do que adianta dar exclusividade se não passo de mais uma? Que seja. Faça como quiser. Mas, antes de tudo, deixe-me esclarecer uma coisa: estou enlouquecendo. Por você, por sua causa, por causa do resto. Não sei mais o que escrevo, o que penso. A insônia me trouxe até aqui, a terceira noite sem conseguir pregar os olhos. Extremamente cansada e sem a mínima ideia do que quero expressar. Mas tento. Fico falando mal e criticando, tentando colocar defeito em você e impor minhas vontades. Tento mostrar-te o quanto eu sofro com você. Ou o quanto eu morro parcialmente sem você. Na verdade, o que eu quero mesmo agora, 1:54 da madrugada, é fugir de casa e ir te assistir dormir. É te contar o quanto eu adoro seu sorriso ou seu jeito estranho de sorrir. O quanto eu adoro seus dentes alinhados perfeitamente brancos. A vontade de passar a ponta dos dedos na marca que as espinhas deixaram no seu rosto e depois percorrer com eles pelo resto do corpo. Queria puxar sua coberta e pular na sua cama, fazer a maior bagunça possível, te acordar e gritar “ei, será que você não consegue me ver? Não sou tão pequena assim”. Queria, então, que você sorrisse e me abraçasse forte, uma mão na minha cintura e a outra acariciando meus cabelos. Queria bagunçar, além da sua cama, seu cabelo também. Deixar suas roupas amassadas e sua casa uma desordem. Fazer com você e com tudo que lhe pertence exatamente aquilo que você faz com meu coração. Brinca, bagunça, desordena, confunde, mistura. Não liga. Coloca tudo no lugar com sua grosseria repentina, diária, adorável. Pare de ser assim adorável. Eu odeio isso. Odeio porque você é assim com todas, todas são apaixonadas por você, e sempre sobro eu. Não é justo, não é! Vem falar comigo hoje, tá? Não esquece, estou esperando. 02:02, estou pensando em você. Convida-me pra sair fim de semana. Insiste. Irrita-me do jeito que só você sabe até me convencer de não ir naquela festa que eu paguei caro pelo ingresso só pra desperdiçar umas horinhas com você jogando conversa fora no seu apartamento. Fala o que quiser, prometo que hoje não reclamo da sua grosseria. Quando eu finalmente aceitar, me busca em casa e debocha da minha roupa quando eu entrar no seu carro. Faça qualquer comentário inútil sobre meu cabelo ou minhas olheiras. Ria, coloque suas músicas estranhas que por algum motivo mais estranho ainda eu sei cantar. Cante, enquanto dirige e me olha rindo esperando que eu cante junto. E aí pare o carro em qualquer parte de uma rua qualquer só pra rir mais um pouquinho da minha irritação e me puxa pra dar um beijo. Um beijo que, quando mal o percebo, você já me largou e está dirigindo de novo. Deixe-me encantada e suspirando como sempre, viajando nos meus próprios pensamentos. Diga que estou estranha e mais chata do que normalmente, por mais que pareça impossível. Diga que sentia falta desse meu jeito irritado e de me mandar falar baixo. Dê-me aquela lambida nojenta na bochecha que você sabe que eu odeio. Novamente, me puxe para o seu colo e, ainda rindo, beije meus lábios suavemente e os pressione cada vez mais forte. Faça eu me apaixonar mais uma vez, como faz todo dia. Droga, eu gosto de você! E tem como não gostar?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Talvez

Talvez amanhã o mar não esteja tão agitado. Talvez cesse a chuva e nasça um belo sol. Talvez até, quem sabe, eu veja um arco-íris. Talvez você mude de opinião em relação a mim. Talvez, se eu sumir por um tempo, você até sinta minha falta, ou talvez não. Quem sabe amanhã eu tenha conseguido esquecer tudo, talvez acorde com mais força e menos dor. Ou talvez eu acorde pior e precisando mais de você. E, infelizmente, ou felizmente, não consigo prever o amanhã. É sempre uma incerteza, um talvez nunca decifrado. Posso planejar meu dia, mas nunca vai sair exatamente como imaginado. Imprevisível, almejado, inevitável... Tanto quanto você. Porque não consigo nunca, por mais que eu tente, prever qualquer palavra ou ação sua. E mesmo assim, cada dia é uma surpresa diferente, por isso almejo tanto acordar e falar com você, te ver. E independente de decidir que quero esquecer ou nunca mais falar contigo, não consigo evitá-lo. Mas, quem sabe, talvez um dia eu consiga... Prever você, não desejá-lo, evitar-te. Talvez um dia você deixe de brilhar tanto pra mim. Até consiga agir naturalmente perto de você. Talvez eu pare de sofrer precocemente e tirar conclusões precipitadas. Pare de me apaixonar sempre pela pessoa errada. Talvez, quem sabe, eu consiga fazer você se apaixonar por mim... Ou talvez você simplesmente se apaixone. Amanhã, não sei, talvez eu deixe de gostar tanto do seu sorriso e da sua risada. Pare de revirar minha barriga a cada beijo seu. Talvez essa magia entre nós dois acabe, talvez ela não tenha nunca começado e seja coisa da minha cabeça. Quando meu celular tocar, talvez seja você me pedindo pra olhar pela janela e estando lá fora na frente do meu portão me esperando. Talvez nem se lembre do meu número, da cor dos meus olhos. Meu sorriso, minha insegurança. Talvez se lembre apenas de como eu era chata e como te olhava sempre apaixonada. Ou quem sabe... Quem sabe você se importe comigo e acorde amanhã com vontade de me ver. Talvez não sinta nem vontade de falar comigo. Mas talvez dê tudo certo entre a gente... Talvez cessem as brigas e os problemas, talvez você queira algo mais sério no futuro, talvez passe a gostar de mim. Mas só talvez.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Acordei feliz

Não, não dormi por muito tempo, na verdade foram poucas horas e ainda sinto-me cansada. Não, também não recebi nenhuma mensagem de bom dia. Ninguém me ligou ontem antes de dormir ou falou alguma coisa bonitinha também. Não te vejo há dias. Estou com fome e preguiça de levantar. Na verdade queria poder desligar o despertador e voltar a dormir, voltar a sonhar. Mas ainda tenho que tomar banho, nesse frio, e ir pra aula. Falar nisso, já estou atrasada. E a droga do despertador ainda toca na melhor hora do sonho. Mas essa noite... Essa noite você veio me visitar. Trouxe seu abraço, sua calma, seu colo. Aquele seu cheiro que parece tão real, e mesmo quando acordo ainda consigo senti-lo. Mas é claro que eu tive que despertar no melhor momento, sempre é assim. E por isso tenho mil motivos pra levantar de mau humor. Mas por apenas um único motivo, a exceção, hoje eu acordei feliz. Você é sempre a exceção.

Foda-se

Então foda-se. Foda-se o que você sente, foda-se o que eu sinto. Porque isso realmente nunca importou muito pra você, não é? Nunca deixou de ser grosseiro quando eu pedi ou demonstrou alguma coisa quando eu precisei. Nunca. É assim mesmo, vai levando com a barriga, achando que vai ser sempre do seu jeito. Mas deixe eu lhe explicar uma coisa... Eu estou farta de tanta falta de respeito, de tanto ter que agüentar seu mau humor ou suas críticas diárias. Por motivos desconhecidos eu ainda procuro nos seus olhos meu antigo amor, a pessoa que existia no lugar disso que está aí hoje. Traga-me de volta tudo aquilo. Eu sei que você não é assim e eu não entendo porque continua batendo na mesma tecla. Num dia diz que sente minha falta e pede pra me ver, no outro diz que eu incomodo de qualquer forma. E agora? Não, realmente, e agora? Desculpa, mas eu me sinto mais perdida do que em qualquer momento anterior. Eu to confusa. Quero me encontrar, e continuo tentando me achar em você. Abre os braços, sinta. Sinta o que eu quero mostrar, pare de regular seus sentimentos, pare de regular mixaria. Não me importo de que seja sempre do seu jeito desde que saiba fazer do meu às vezes. Só às vezes. Dizer alguma palavra carinhosa ou o que realmente se passa aí dentro. Perdoa-me por reclamar tanto, por falar tanto. Perdoa-me, meu amor, por ser tão irritada e sem paciência com você. Por ter a mania chata de gritar quando falo e ser tão insegura. Por te fazer sentir ciúmes indesejados e por colocar meu cabelo atrás da orelha do jeito que você não gosta. Por te incomodar e sentir tua falta por causa de um dia longe de você. E não espero perdão. Na verdade, não espero mais nada de você. Só fique aqui comigo enquanto estou brava e gritando contigo. Fique aqui e espere esse momento de raiva passar. Nunca, jamais, vá embora, não importa o quanto eu peça; porque se por acaso um dia eu te pedir isso, não acredite. E tenho tanto pra falar, tanto pra mostrar... Quero te provar tanta coisa e te explicar tudo... Tanta coisa... Muita coisa... Mas, sabe? Foda-se.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sumiu

Queria fazer você admitir o que sente. Tentei, tentei, mas tentei tanto que enchi teu saco. Virei um grude carente, necessitado, impossível de controlar. Eu que controlava você, quando entrava ou sair do computador, quando o celular estava desligado ou quando se desligava de mim. Esquecia, momentaneamente, dessa sua barreira interna, que não transparecia absolutamente nada, e me deixava sempre angustiada e sem a certeza do que você pensa. Como se isso me fizesse parar mesmo. Ouvia sempre que o que você estava fazendo era pro nosso bem, que queria o melhor para nós e que eu iria entender depois. Falou tanto, disse muito, e na verdade não quis significar nada. Falou sem pensar, disse sem pretender, e escorregou nas próprias palavras. Como pôde ser tão cruel? Usar expressões horríveis, dizendo coisas que sabia que iam me afetar? Tirando de mim tudo aquilo com o que eu me importava? E então me viu ali, tão pequena, tão menina, tão desesperada e desamparada... Enxergou-me tão indefesa e magoada, tão ingenuamente triste e sem pretensões de devolver-lhe as horrorosas palavras a mim dirigidas. E aí sumiu. Por horas, por dias, realmente não contei, porque não esperava seu retorno, achei que era definitivo. Juro que tentei me superar, me neguei a sofrer, fui à busca de outro alguém. Pouco me importava se você estava bem ou se iria ficar. Fosse injusto, cruel, não me preocupei em correr atrás e pedir explicações. Tentei minimizar a dor desabafando-a em textos e mais textos, detalhando seu comportamento e a saudade que por você sentia, como se não houvesse outro jeito de te trazer de volta, mas no fundo sabendo que você iria lê-los. Porque, sinceramente, alimentava uma falsa esperança de que ligasse um pouquinho ainda para mim e me vigiasse escondido. E mais rápido do que eu podia imaginar, lá estava você de novo. Veio falar comigo tão naturalmente que quando vi seu nomezinho piscando na minha tela comecei a chorar. Não sei, meu coração realmente parecia que ia pular fora. Não foi uma conversa como todas as outras; foi formal, estranha. E aí você me convidou pra sair. Inventei mil desculpas e lutando contra minha vontade não sai. Estava em estado de choque. No outro dia, veio falar comigo de novo... Dessa vez mais natural do que qualquer outra conversa. Comentei seu sumiço e você simplesmente desconversou. Chamou-me de louca exagerada. Tudo bem, porque não foi você que ficou aqui sentindo falta, sem saber que iria voltar, não é? Chamou-me para sair de novo. E lá se foram mais mil desculpas esfarrapadas. Esse medo de te ver de novo, de gostar tanto e não conseguir mais desgostar. De sentir seu cheiro, seu toque, o calor que seu corpo emite ao meu, de ficar descontrolada procurando seu beijo mais uma vez enquanto você some sem deixar explicações. Não vá embora novamente. Não me deixe sozinha nos fins de semana em que você me fazia companhia. Não minta dizendo que não gosta de mim e fazendo um buraco no meu peito, dizendo que precisa de um tempo longe de mim, que não quer me ver, que não sente minha falta. Não diga isso sem realmente pretender. Não minta dizendo que vai sumir e que isso vai ser melhor para nós. Não fale nada disso pra depois me contar que na verdade era tudo mentira. Que você prefere que eu te odeie ou não te queira do que seja apaixonada por você... Porque não tem mais tanto tempo assim pra dedicar a mim, e que vou sofrer se não tiver seu carinho e sua atenção de antes e por isso prefere sofrer e levar toda a responsabilidade do que me sujeitar à dor de alguém apaixonado. Mas deixe-me te dizer que sofro mais sem você do que apenas com um pedacinho seu. E na verdade, nunca reclamei pelo tempo. Sei que se sumir, terá seus motivos. E eu te quero, mas posso te querer todo domingo ou duas vezes por mês. Posso te querer nos seus horários vagos ou nas suas noites tão cansadas te fazendo companhia e esperando você dormir. Porque independente de quando, eu te quero. Quero-te hoje, te quis ontem, vou te querer amanhã. Quero agora, depois e quis antes. Quero pra sempre, quero enquanto dure. Mas não me impeça de querer. Deixe ser verdadeiro. Intenso. Pare um pouco, por favor, de controlar todas as situações; deixe-me sofrer se necessário, deixe-me amar se for cabível. Com meu jeito de criança, meu coração inocente. Só não suma, não vá embora – de novo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Chato

Eu juro que esses pensamentos que me assombram são loucas vontades, insaciáveis, impossíveis de afastar. E o pior é que eles vêm nas horas mais inapropriadas... No meio da aula na explicação da matéria mais difícil, no almoço quando minha mãe está falando alguma coisa importante, quando estou tentando me concentrar para estudar, quando estou tendo uma conversa com algum homem bonito e tentando me interessar por ele. Mas me perco. Perco-me nas imagens que vem de repente e inundam minha mente como ondas num mar agitado, meu olhar se perde no nada. E eu tento afastá-las. Tento, mesmo no fundo não querendo. Na verdade, queria poder deitar e fechar os olhos, implorar por mais e mais pensamentos como aquele, relembrando tudo o que já vivemos. Pouco tempo? Não ligo. O tempo é o de menos entre nós.
E então meu celular toca, volto pra realidade. Antes de olhar o número, coração dispara inconscientemente pensando: é ele. Mas nem é. É aquele ex-namorado chato que me viu tocando a vida e agora quer perdão. Na outra vez, era aquele menino que, quanto mais eu ignorava suas chamadas, mais ele ligava. Chatos, todos chatos. E não ache que você está fora dessa lista, é chato também. Mas é um chato tão chato que me irrita. Tira-me profundamente do sério e sinto vontade de segurar seu pescoço, esganando-o, e te deixar sem ar por apertá-lo um pouquinho forte demais pra ver se você aprende a lição. Mas você gosta, adora. Faz tudo por querer, conhece meu temperamento. Irrita-me, me provoca, somente pra depois poder me pegar no colo e colocar contra a parede, prensando-me e rindo da minha repentina mudança de humor. Mas não tem como não ceder. Faz minha raiva virar paixão, e minha vontade de estrangular-te serem minhas mãos na tua nuca te puxando pra mais perto de mim. Deixar-te sem ar, mas por causa de um beijo, ou então vários. E te matar, sim, mas de amor.

sábado, 14 de agosto de 2010

Quebra-cabeça


Não entendo. De verdade, não entendo. Como é possível, no meio de tanta gente, sentir falta de uma só? E quando falo “muita gente” me refiro a seis bilhões de seres humanos, de indivíduos, de pessoas que poderiam completar meu dia... E simplesmente não completam. Como se faltasse um pedacinho em cada uma, ou sobrasse algo, como se não fosse a peça pro meu quebra-cabeça. Sinto-me exatamente assim, procurando a última peça, como se eu tivesse bilhões de opções e a única, e certa, não estivesse ali. Não digo que ela deixa um buraco em mim; só sei que pareço incompleta, faltando alguma coisa pra dar o toque final. E esta tal coisa, no meu caso, seria você.
Acho que os únicos entendedores do que falo serão aqueles que já passaram por isso. Não tenho ideia de como explicar a sensação que tive hoje, o turbilhão de sentimentos e lembranças que me atingiram como um raio, quando eu, tão desligada e apoiada no vidro do carro, coloquei meus olhos naquele carro do outro lado da estrada. Quando eu, sem querer, perdi o fôlego por dois breves segundos, avistando você dirigindo despreocupadamente, de óculos escuros, com aquele mesmo sorriso, o qual ficara gravado em minha cabeça. Foi tão rápido. Tão bom. Minha vontade era de pular da janela e sair correndo em sua direção, pro seu colo, implorando perdão e um pouquinho de amor. Querendo, nem que fosse pelo menor tempo possível, ter sua atenção de novo, conseguir fazer você ver em mim o que via antigamente. Me senti extremamente impotente, como se você estivesse ali e, por mais que eu esticasse o braço, nunca conseguia te alcançar.
Admito que fui pega de surpresa. Eu, que me julgava tão forte e determinada, que aprendi tanto contigo em relação a homens e a sofrimento. Havia me ensinado que vocês, homens, eram todos iguais e que sofrer por vocês era perda de tempo, mas inevitável, e que o remédio para tudo isso seria a indiferença, ou não se apegar e depender tanto de alguém. Mas hoje tenho que discordar desse pensamento. Se os homens são todos iguais, por que não podemos simplesmente substituí-los? Parar nossa vida quando estivesse sofrendo ou descontente, e falar “ei, juiz, substituição! Entra o 9 e sai o 7...”. Diz-me, não seria tão menos complicado? Mas é claro que não é assim. Tirar alguém da nossa vida dói, sem contar que leva tempo para ser superado. Basicamente, não é só conhecer outra pessoa e querer que ela fique no lugar daquele que foi embora. Porque, infelizmente, só ele foi embora. O maldito não levou as lembranças, as fotos, as cartas. Ele deixou seu cheiro na minha roupa, seu gosto na minha boca, sua voz no meu ouvido... Deixou suas manias que viraram minhas manias, e me flagro fazendo exatamente aquilo que eu reclamava tanto que ele fazia. Deixou saudade no meu coração, lágrimas nos meus olhos. Suas mensagens no meu celular e sua foto no meu plano de fundo. Ficaram as dúvidas que nunca tiveram suas merecidas respostas. Foi embora, mas não levou absolutamente nada, que quando viro pro lado me esqueço de que você não está mais aqui. Porque as memórias ainda estão frescas. Às vezes fico me perguntando por que ele não me ligou hoje nem entrou no computador. Foi tão repentino e sem motivos que não consigo entender a razão de ter desistido de mim. De nós. Será que eu era a única, sinceramente, que acreditava na gente? Que ainda acredita? Que vai dormir toda noite com um pinguinho de esperança de que você venha com saudade no dia seguinte? E você... Você não se importa? De jogar tudo fora, de me deixar desamparada? De sair e fechar a porta na minha cara, me puxar o tapete e tirar a base na qual eu havia construído tanta coisa em cima? Será que você pode, por favor, largar esse orgulho por um minuto e vir me encontrar em casa só pra me explicar o que está acontecendo? Porque eu não escolhi ser mais nova que você, nascer anos depois. Não escolhi te conhecer e gostar de ti. Essa minha mente adolescente, com tantos problemas e princípios diferentes dos seus, a qual eu não queria ter. Maturidade, meu amor, não é algo que vem do nada, que ganhamos quando queremos. Porque se fosse, escolheria ser a pessoa mais madura do mundo, largaria minha infância, minha adolescência, excepcionalmente pra agradar-te, para acompanhar-te. Mas não é assim. E você, injustamente, ao em vez de me ajudar a crescer, simplesmente vira as costas e diz que volta quando eu fizer isso sozinha. Como você espera que eu lide com tanto sofrimento e ao mesmo tempo torne-me uma mulher? Sinto lhe dizer, mas era assim que eu me sentia contigo. Forte, poderosa, mulher. E por mais que você tivesse seus momentos infantis, que predominavam seu comportamento, nunca lhe cobrei mais do que isso. Aceitei tudo, afinal é assim que você é, que eu sou. Pedir pra alguém mudar é algo tão injusto. Mas mesmo pensando assim, mudaria se você pedisse.
E aqui estou, novamente, procurando a tal peça do meu quebra-cabeça. Eu sei que a acharei. Talvez eu tenha que, momentaneamente, colocar aquelas pecinhas que parecem encaixar-se tão bem, que de perto montam certinhas, mas que olhando de longe você enxerga a diferença delas pro resto do quebra-cabeça e, quando cansa dessa diferença, volta a buscar a peça certa. Seis bilhões de almas que poderiam me fazer feliz. Sinto falta de uma. Seis bilhões de corações batendo freneticamente, que poderiam bater por mim. Sinto falta daquele único que se nega a me ter como motivo de sobrevivência. No meio de uma multidão, sinto-me sozinha. Falta você.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Olhos

7:20. Atrasada, novidade nenhuma. Abri o portão do meu apartamento e sai correndo, sempre uma luta pra chegar no horário. Corri um pouquinho e logo cansei, fui caminhando pelo resto do trajeto. Todo dia o mesmo caminho, o mesmo horário, mesma preocupação. Resolvi reparar no resto. Passava todo dia pela mesma caminhonete branca que estava sempre na mesma vaga, tinha decorado até a placa dela. Dava bom dia pro mesmo inspetor de outro colégio. Lá estava o mesmo flanelinha de sempre, chamando os carros e ajudando os motoristas a estacionar. Via os alunos passando por mim, e encarava-os nos olhos, sem querer ser rude, apenas tentando enxergar algo mais. Algo que eu pudesse ver, que pudesse ser dito apenas por um olhar. E na verdade, descobri que os olhos nos dizem coisas que muitas vezes palavras não sabem explicar, que o rosto esconde numa feição contrária ao que sente. Vi que de manhã cedo são raras as pessoas com bom humor ou um sorriso no rosto, que te cumprimentam na rua. Eu, inclusive, não sou uma delas. Acho-me até meio grossa por passar por tanta gente e não, simplesmente, sorrir.
Mas então, passei por uma menina do meu tamanho que me olhou e logo desviou o olhar. Um homem uns vinte anos mais velho, de terno e gravata com uma maleta na mão, que, ao meu olhar, só vi irritação, e eu mesma fui obrigada a desviar. Um menino um pouco mais velho que eu, que me olhou e igualou meu olhar, ficou lá me encarando e sendo mais corajoso do que todos os outros. Posso dizer que ali se formou um breve começo de sorriso. Mas ele foi embora. E não só nesse dia, passei a fazer isso em todos os outros. Antes da aula, depois, à tarde, no shopping, nas festas. Com certeza os olhos podem transparecer muita coisa, como dizem que os olhos são o espelho da alma, e só posso concordar. Tento enxergar nas pessoas o que elas escondem dentro de si.
Ta, quanta mentira. Não sobre as pessoas, ou o que diz seus olhos. Mas sobre meu motivo de encará-los. Eu procuro, desesperadamente, achar alguém que seja compatível comigo. Algum olhar que, ao encontrar-se com o meu, cause aquela faísca, aquela sensação boa. Não busco a mesma cor, porque os seus não tem cor definida em minha opinião, são um mistério. E na verdade, é esse mistério que eu busco. Essa barreira, esses sentimentos em códigos, tão difíceis de decifrar. Procuro olhos que sejam raros e que não transpareçam o que se passa por dentro. Sei que busco o contrário daquilo que todos querem, mas é isso que me satisfaz. Foram esses olhos, que ao me olharem, ao rolarem por meu corpo inteiro, me encheram de dúvidas. E eu não gosto da certeza, gosto das perguntas indecifráveis que correm por minha mente, gosto do fato de você não respondê-las e eu não saber quando é mentira sua. Gosto de correr o risco de você estar oco por dentro enquanto se diz preenchido. Gosto de chegar bem perto dos seus olhos, olhá-los com toda minha vontade, e não enxergar absolutamente nada. Conseguir ver apenas o que você quer que eu veja, apenas o que você permite que fique fora da barreira e eu possa ver. O resto, meu caro, pode ser sofrimento tanto quanto paixão, que nunca vou saber. E é esse mistério que me puxa sempre de volta a você. Porque é triste tentar gostar de outra pessoa e conseguir enxergar sua alma. Triste pra mim. Acostumei-me com seus olhos, suas brincadeiras, seu jeito que não da de entender, tão intocável, seguro e estupidamente grosseiro. Não queria que fosse de outra forma. Não queria que fosse outra pessoa. Mas agora que não tenho mais seus olhos, procuro no olhar de outros aquilo que encontrava unicamente no seu. Busco severamente, diariamente, desesperadamente alguém que deixe as mesmas dúvidas. Não encontro. Continuo então, contra minha vontade, tendo que ler o que se passa internamente em cada um e ver o que todos poderiam tentar me proporcionar; enquanto só você, na verdade, mesmo sem me mostrar, conseguia me fazer sentir.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Minha noite


Veio me buscar em casa. Entrou, ficou jogando conversa fora com meus pais, que o adoravam. Já passava das dez, eu estava atrasada como sempre. Cabelo molhado, só metade da maquiagem pronta, não achava o outro par do sapato nem o cinto. Ouvia aquela risada doce vindo do andar de baixo e era obrigada a parar dois segundos enquanto ela me invadia e deliciava. Fazia arrepiar a nuca só de pensar no seu toque. Apressava-me, então, para ficar pronta logo e ir ao seu encontro. Dei mais uma olhada no espelho e gostei do que vi. Desci as escadas contando os degraus de dois em dois e meu olhar encontrou o teu. Sem querer, deixei escapar um sorriso, inevitável.
No carro, fiquei insistindo pra saber aonde íamos. Você simplesmente soltou uma risada, achando graça da minha curiosidade, e disse que era surpresa. Fiquei em silêncio enquanto aquele rap que você tanto gosta tocava baixinho. Virei-me no banco e te encarei, analisando seu rosto, sua roupa. Sempre tão arrumado, tão cheiroso. Aquele perfume que me fazia morrer de vontade de encostar meu rosto no seu pescoço e deixar-me ser ninada enquanto o sentia misturando-se ao meu, mas me controlei. Você me espiou com o cantinho dos olhos, enquanto dirigia velozmente sem precauções. Parou na frente de um apartamento desconhecido, me fez esperar 5 minutos no carro, e voltou com duas taças e uma garrafa de champagne. Sem dizer uma palavra, continuou dirigindo enquanto minha aflição aumentava. Parou em um lugar escuro, que pelo barulho logo vi que havia mar ali perto. Saiu, deu a volta no carro, parou na minha frente e me serviu de champagne. Deu dois passos pra trás, pediu para eu tirar o salto alto e acompanhar-lo. Mais à frente, meus olhos pairaram na reflexão da luz da lua na água. Tão bela, tão hipnotizante. Caminhamos em silêncio, enquanto nossos braços roçavam-se. Eu queria chegar mais perto e segurar sua mão, queria olhar nos seus olhos naquela noite escura e ser iluminada só pelo seu brilho, mas continuei andando. Encaramos o céu por alguns segundos naquele mesmo silêncio que só tornava tudo muito mais misterioso. Depois de falar alguma besteira e sentir meu corpo arrepiar-se por causa da sua leve risada, olhei fixamente pra você. Aproveitei pra memorizar bem aquela cena enquanto o álcool não fazia efeito. Perguntei-me se realmente te conhecia. Se por trás daqueles olhos de cor indefinida existia a mesma pessoa que se mostrava ali do meu lado. Confiante, forte, inatingível. Queria saber se essa barreira toda, se esse poder todo não era fachada. Se não era um modo de defesa por algum motivo desconhecido por mim, porque você não deixava ninguém chegar perto. E do seu lado me sentia pequena e carente, como se eu buscasse por seu abraço, sua atenção, sua proteção. Via-te como um homem, que me passava uma força indescritível, e por isso, além de tudo, me sentia mulher. Você me fez mulher.
Quando meu olhar pressionou demais sua pele, você virou-se pra mim e deixou aquela faísca entre nossos olhos acontecer, a mesma que fazia minha barriga revirar. Como se pudesse ler meus pensamentos, sorriu brevemente enquanto inclinava-se na minha direção. Quanto mais perto chegava, mais rápido meu coração batia, explodia dentro de mim. Eu queria fechar os olhos, mas temia que quando os abrisse não te encontrasse mais. Mas logo não conseguia mais pensar, muito menos respirar. Centímetros separavam meu rosto do teu, conseguia sentir seu hálito bom por causa do halls verde, via sua boca ainda meio sorridente. De repente você volta ao seu lugar, toma um longo gole de champagne e começa a caminhar de volta para o lugar de onde viemos. Eu fiquei ali parada por mais um tempo, não sei exatamente quanto, encarando a praia. Daria tudo pra não ter saído de casa hoje, para não ter passado por isso. Meus olhos começaram a embaçar, odiava o fato de ser tão fraca e me sentir pior ainda quando você se afastava de mim. Então você chamou pelo meu nome, soltou sua risada mais extrovertida, arrancando-me de meus pensamentos. Sua voz me dava força de novo, me puxava. Caminhei na sua direção cabisbaixa, sem saber ao certo o que falar, o que fazer. Você segurou meu queixo, levantou meu rosto e deixou a faísca correr solta de novo, enquanto eu não sentia mais a ponta dos meus dedos de tanto frio, já que o calorzinho que você causava era tão breve e momentâneo. Como se, novamente, você pudesse ler meus pensamentos, puxou minha mão direita e deu-lhe um beijo, logo depois entrelaçando nossos dedos que se encaixavam tão bem. Queria saber por que o tempo corria tanto em noites assim. Queria saber por que nós não podíamos deitar na areia e ficar olhando o céu, que, naquela noite, tinha a maior e mais bela lua que eu já havia visto na minha vida - sem estrelas, sem nuvens. Mas você, com seus planinhos e organizações, nunca fez minha vontade. E daí que era dia dos namorados? E daí que eu tinha passado os melhores minutos naquela praia e você fugiu de mim? Você não se importava, na verdade adorava a briga que ocorria dentro de mim, sem conseguir obter respostas pra tantas perguntas, adorava ser o único que explicaria minhas dúvidas.
Despediu-se com seus lábios na minha testa enquanto, inconscientemente, eu trancava a respiração. Sorriu, o sorriso mais sexy e irresistível, enquanto entregava-me na porta de casa, ligava o carro e ia embora. E, mesmo sem preencher nenhuma das minhas expectativas ou vontades, sem fazer absolutamente nada do que eu queria ou esperava, você fez daquela a melhor noite da minha vida. E me deixava lá, como sempre, querendo mais.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Você


Ah, você. Você e essa mania de achar que está sempre certo, como se a minha palavra tivesse menos valor que a sua.
Mania de me xingar e colocar apelidos irritantes, mas não aceitar nenhum e odiar todos.
Mania de ser indiferente, grosso, bipolar. E mesmo assim não admitir ser nada disso.
Essa sua liberdade de dizer tudo que vem na cabeça, sem pensar duas vezes.
Ou o jeito que passa a mão no cabelo, tentando deixar ele um pouquinho em pé.
Seu vício maluco por futebol, de assistir todos os jogos, independente dos times que estiverem jogando.
Ahhh, sua mania horrível de tirar as duas mãos do volante quando dirige. Ou fazer uma ultrapassagem com o joelho enquanto escreve uma mensagem no celular. Me assusta.
Quando briga comigo, me chama de imatura, criança, sem noção, exagerada – e não percebe que faz igual ou muito parecido.
Ou quando me pega no colo e deixa minha cabeça apoiada na curva do seu pescoço.
Falar que te sugo com os olhos. Quem sabe eu sugo mesmo. Sua imagem, seu cheiro, seu gosto, seu toque. Você.
E sempre dá tudo errado com a gente. Quando saímos, quando não saímos. E mesmo assim fico sem saber quando vou te ver de novo.
Quando me chama de neném, querida, amor.
Ou quando costumava chamar.
E a mania ridícula de colocar meu nome no diminutivo... Eu odeio. Odeio mesmo. Mas isso não te impede de continuar me chamando assim.
Teu jeito objetivo, prático, direto, focado. Isso eu adoro.
O fato de odiar o quanto eu dependo de ti e de me achar uma louca. Como se tu não fosse.
E adorava me lamber, sei lá qual era a graça disso. Mas pena que adorava, daria tudo pra adorar ainda.
Seu jeito insensível, que não sente ciúmes nem se importa. Ou pelo menos não se importa mais.
Ou quando dá aquele sorriso gostoso e perfeito, aquele sorriso que faz parar o tempo e congelar tua imagem ali, na minha cabeça, como se nada mais importasse.
Ser tão egocêntrico, confiante, abusado, nojento, irônico. E ao mesmo tempo educado, paciente, carinhoso, confiável, realista.
E odiar toque. Não podia tentar te tocar que você esquivava. Inevitável.
Tua mania de me criticar quando uso maquiagem e criticar quando não uso.
Como se fosse meu oposto e ao mesmo tempo tão igual a mim. Enquanto procuro por alguém, você espera alguém te achar. Você não vai mudar. Eu nem quero. Porque cada mania, cada detalhe seu, é essencial pra mim. Preenche meu dia, meu final de semana. E tanta coisa em você que eu odeio... Odeio tanto que chego a amar. Se amor e ódio andam tão juntos, são tão parecidos e diferentes, se onde tem um tem o outro, acho que não sei mais os diferenciar. E acho que te odeio. Ou, simples assim, não consigo te odiar.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Minha opinião

Cansa, tudo cansa. Fico cansada com cada coisa agora. Não me refiro à estúpida educação física que sou obrigada a freqüentar, nem ao futsal, academia. Me refiro as pessoas. Ao que elas dizem ou fazem. Não suporto mais a indiferença das mesmas frente a tantas situações, frente a tantos sentimentos. Cansei de acessar sites na internet e ter algum mal-amado-sem-noção expondo meu nome e sua insignificante critica a meu respeito, sem nunca ter AO MENOS olhado nos meus olhos ou trocado meia dúzia de palavras comigo. Cansei desses julgamentos esnobes que as pessoas acham que tem direito de fazer. Elas não têm. Simplesmente não passam de indivíduos a mais no meio de mais seis bilhões. Me incomoda ver que elas se acham melhores ou superiores do que o resto. Elas não são. Não é a roupa, o carro, a casa, as festas que freqüenta, o celular que tem, o número de chamadas nele ou qualquer outra superficialidade que te dá o direito de acreditar e aumentar uma história, sem saber se é verdade, sem saber de quem ta falando. Sinceramente, esse mundo está vazio demais pra mim. Ta faltando muita coisa. Faltam princípios, objetivos, sentimentos. Falta carinho, honestidade, reconhecimento. Tem muita inveja, muita mentira, muita cara de pau. Mas a cara de pau me impressiona. Porque é facílimo se esconder atrás de um perfil falso, sem ter seu nome exposto, e falar mal dos outros. Ah sim, isso eu faria também. Mas e aí, cadê a cara de pau pra falar isso pra mim? Ou pra cada um? Não, quando se trata do mundo real as pessoas fogem, ninguém encara. Não tenho recadinhos no meu Orkut dizendo “oi, te acho uma safada! Beijinhos”, mas tem isso escrito logo abaixo do meu nome num site no qual as pessoas não se responsabilizam por suas palavras. Ah vá. É vergonha? Fala que alguém é feio e gordo, o outro é falso e ridículo, a menina é safada e fácil... “Ah, mas é só minha opinião”. NÃO. Não é a TUA opinião. É a opinião de alguém que não existe, de uma pessoa criada virtualmente, logo “sua opinião” não vale m... nenhuma. Deve ser falta do que fazer, não te culpo por ter uma vida monótona, e para ter um pouquinho de auto-estima ter que falar mal dos outros anonimamente. Vai ler um livro, sair pra alguma festa, estudar, fazer um exercício físico.
E antes de digitarem qualquer outra besteira, procurem olhar para seus próprios defeitos. “Puta” é aquela que transam em troca de dinheiro. Logo, não creio que haja tantas meninas que possam se enquadrar nesse quesito, como as pessoas costumam julgar. Se transaram ou não com o namorado, o rolo ou o menino que gostam, continuam não sendo nada disso. Fazem isso por sentimento, vontade, e não por dinheiro. Beijar na boca também não é crime, e todos tem o direito de matar essa vontade, até porque a própria pessoa tem essa mesma vontade e tenho certeza que a mata também. Cadê a moral para falar dos outros? “Falsa”, como saberás tu, alguém que nunca sequer passou horas conversando com a pessoa, que ela é isso mesmo? Será que a falsa aqui não é tu de olhar na cara dela e dizer “bom dia querida” enquanto anonimamente critica-a assim? E não entendo também o que leva alguém a meter o dedinho na vida pessoal das pessoas, falar que fulano traiu ciclano, que não presta, que é ridícula, que é corna. E se não for? Parem pra pensar, e se fossem com vocês? O que uma pessoa faz ou deixa de fazer com outras é problema delas, não tem que virar fofoca, não tem que ser criticado ou apoiado, pois ninguém é 100% correto pra dizer o que está certo ou errado. Ter muitos amigos não significa “pegar” todos eles, muito menos dar em cima. Há, sim, muita diferença entre amizade e rolos. Mas isso não é problema seu! Cada um sabe da sua vida e de suas amizades, não precisa de um desocupado pra dar palpite. E, se querem saber, ISSO se chama opinião. Essa é a MINHA opinião, com meu nome assinado no final. Porque eu, ao contrário de muitos outros, não preciso esconder meu rosto pra falar o que penso.

Marina Cunha

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tempo

Tempo, tempo. Vai, vem, me domina, me abandona. Me relembra, me esquece, me ama e me ignora. Maldito tempo que não tem limite nem hora. Passa, marca e simplesmente vai embora. Me pergunto se ele vai parar, se um dia vai me entender. Mas nem me escuta, só traz o passado e o tira de novo sem querer. Traz o futuro e desarruma os fatos. Me perco. Me acho. E me encontro tão perdida quanto o vento no furacão, a chuva no verão. Sem perceber, me encaixo nele tanto quanto me encaixava em você. E mesmo assim, sem piedade, o imperdoável tempo de mim tirou você. Tempo sem te ver, tempo sem te beijar. Tanto tempo que nem lembro mais. Faz falta. E a falta dói, machuca, corrói. A falta me assombra e me tira o sono. Me faz implorar pra voltar no tempo. Mas o tempo não volta - me consolo.
Não, o tempo me deixa estendida no chão chorando minhas mágoas. Não estende a mão nem oferece ajuda, assiste a cena enquanto não para. Não para mesmo, independente do quanto eu peça. Sussurra no meu ouvido: “eu não paro, mas só eu curo. Quanto mais rápido eu correr, mais rápido te tiro desse escuro. Dessa escuridão, sofrimento. Te trago de volta aquele sorriso e todo e qualquer sentimento.” Quero acreditar, tento. Disseram-me que o tempo não cura, só desloca o incurável do centro das atenções. Choro enquanto lembro que o tempo também levou embora meu amor, minhas paixões. A esperança, o calor. Trouxe-me direto ao inverno, a esse frio espantoso que machuca a mão. Que machuca o peito, machuca o coração. Junto ao frio do inverno, ele te fez frio também... Friamente falastes que não tinhas tempo pra mais ninguém. Nem pra mim, nem pra aquela, que o tempo agora era curto e que não podia desperdiçar com miséria. Miséria, sim, me comparastes a isso, mas não me importei e te pedi mais tempo. Comigo, ao meu lado, me esquentando do frio, me livrando do gelado. Do gelado sentimento que antes me queimava o peito, e que agora, você no seu momento frio, nem mais chama de sentimento. Cogitei a ideia de dar-te mais tempo, mais horas no dia, mais dias na semana, pra parares de ser birrento. E mesmo sabendo que tempo não podia comprar, tinha certeza que se mais tempo lhe desse, comigo não ia gastar. Usaria essas horas para estudar, comer, dormir. Sair, beijar, sorrir. Falar com todos, com qualquer um. Fugir de mim, sem receio algum.
E essa falta de receio que me preocupou, porque tempo nunca lhe faltou. És tão decidido, objetivo e intocável, não para por ninguém, nenhuma vontade é insaciável. Quando usastes o tempo como desculpa, percebi que do tempo não era a culpa. Era minha. Sempre foi e ainda é. Mas culpei o tempo, o ignorava e odiava pelo meu peso na consciência. Pois é. Acho que nunca admiti estar errada. Porque errado mesmo é o tempo, que não para por nada. Que não parou naquele dia, quando estava tudo maravilhoso. Não parou naquele dia, quando minha cabeça, no seu peito, sentia-o subir e descer silencioso. Ouvia seu coração bater desregulado, um suspiro meu e o tempo já havia passado. Acabou tão rápido quanto começou. Viramos desconhecidos tão rápido quanto viramos amigos. Amigos que trocaram beijos, carícias, sentimentos. Vontades, sorrisos, pensamentos. Olhares, mãos dadas, respeito. E tão rápido quanto começou, já estava tudo desfeito. Espero que não tenha acabado. Espero que o tempo que passa tão rápido quando estamos juntos, passe igualmente enquanto estivermos separados. Porque eu vou esperar, sempre esperei. Não queria me tornar dependente desse pouco tempo, de você, mas contra tudo, todos e o tempo, simplesmente me apaixonei.

Tudo você

"(...)Você nunca mais pegou na minha mão e me fez sentir segura. Nunca mais falou a coisa mais errada do mundo e fez o mundo valer a pena.
Eu treinei viver sem você, eu treinei porque você sempre achou um absurdo o tanto que eu precisava de você para estar feliz.
De tanto treinar acostumei.
Eu só queria que ele aparecesse, o homem que vai me olhar de um jeito que vai limpar toda a sujeira, o rabisco, o nó.
O homem que vai ser o pai dos meus filhos e não dos meus medos.
O homem com o maior colo do mundo, para dar tempo de eu ser mulher, transar para sempre. Para dar tempo de seu ser criança, chorar para sempre.
Para dar tempo de eu ser para sempre.(...)" Tati Bernardi