quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Contei pra ele

Ele diz que sou perfeita mesmo sabendo de todos os meus defeitos, que não são poucos. Ele ri quando eu espirro e acha o máximo quando faço cara de birra e escondo meu rosto entre as cobertas. Ele me pega no colo como se eu pesasse o mesmo que uma pena e não cansa de dizer que, se pudesse, me carregaria a vida toda no colo, pra ficar o mais perto possível dele. Hoje, brigamos no telefone pra ver quem desligava primeiro. Nenhum dos dois queria desligar. O que sempre pareceu tão ridículo tornou-se tão bonito...
Ele segura minha mão em qualquer lugar - nas festas, na rua, no carro e até na missa. Nas pouquíssimas vezes em que fui, ele segurou minha mão. E a sua mão dá quase duas da minha e meus dedos ficam doloridos de tão espaçados, mas é a minha vez de nunca cansar: seguraria sua mão pelo resto da vida.
Demorou, mas finalmente falei. Contei pra ele que dividiria uma cama de solteiro pra sempre com ele, que estava querendo acordar com aquele sorriso do meu lado todos os dias da minha vida, que eu aceitaria ter três filhos com ele mesmo sem ele nem ter pensado nisso ainda e que casar na praia seria demais, mas que eu queria também entrar na igreja com um vestido lindo de morrer arrastando no chão. Eu contei pra ele qual o nome que queria dar pra nossa primeira filha, falei que não me importaria de brigar em todas as viagens pra ver quem vai dirigir nosso carro, acabei desabafando sobre como eu imaginava nossa casa de praia, nossa lua de mel, nossas fugidas durante o trabalho. Eu olhei pra ele e disse que tinha certeza que jamais cansaria daquela risada leve, gostosa e contagiante, contei que queria mudar de cidade pra ficar mais perto dele e que já havia feito os cálculos pra ver a probabilidade dos nossos filhos nascerem com olho claro. Mas desde que eles se parecessem com ele, tivessem sua beleza, seu caráter, sua integridade, seu sorriso, seu bom humor... Eu nem ligaria pra cor dos olhos. Eu disse pra ele que dois anos não era nada perto do que eu queria passar ao lado dele, mas falei tudo meio vomitado, pra não dar tempo de desistir no meio, pra ver se ele não entende nada e eu tenha chance de pensar duas vezes.
Ele sorriu e, mesmo sabendo dos meus defeitos, mesmo sabendo que eu erro e tropeço e falo rápido demais, disse que também imaginava tudo assim, exceto pela filha que tinha que ser igualzinha a mim.
Eu não entendo o que ele viu em mim, mas eu sei exatamente tudo que vejo nele. Ele sabe que volto atrás quando sou contrariada e que morro de ciúmes de todo mundo, e mesmo assim me quer por inteira. Ele sabe que faço manha sem motivo e fecho a cara só pra ele me mimar, e mesmo assim ele adora isso. O homem que eu jurava que não merecia, me fez pela primeira vez a mais merecida da vida. Difícil é encontrar algo nele que eu não consiga amar, enquanto antes amar era o problema. Ele é apenas solução.

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