terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Please, sweet heart, don't look back.

Eu... Eu reconhecia aquele cheiro. Aquele perfume misturado ao odor da pele morena que trazia memórias. Eu podia sentir o gosto das lembranças, quase tocá-las, pareciam tão reais, tão exasperadamente perto de mim... e ao mesmo tempo tão distantes, com um leve gosto de mofado, como algo que havia sido esquecido. Esquecido após ser molhado por lágrimas e saliva, ser olhado, admirado, cobiçado e... estragado. Talvez passado da data de validade, se é que continha uma. Uma coisa que foi usada frequentemente, por um longo período de tempo, que envolveu sentimentos e um toque de algo a mais. Tratada com carinho resistiu ao sol, à chuva, às piores das tempestades – e nada a abalou. A solidão, somente a solidão, conseguiu derrubá-la. Abandonaram-na. Esse “algo” ficou exposto às mesmas condições impostas anteriormente, mas sem atenção. Não durou; mofou. Morreu. Ou, quase morreu. Dizem que o que foi intenso de verdade não morre. Na verdade, foi assassinado. Por alguém que pertencia, que montava aquelas lembranças também. E nem assim saiu da cabeça. Havia achado que sim, mas no mais súbito rastro daquele cheiro elas vieram à tona. Apenas para mim. Odiava minha capacidade de associar os fatos a cada detalhe, e ter de lembrá-los a todo canto que ia. Mas aquela memória, em especial, havia sido compactada. Rasgada, pisada, espremida no canto mais escuro e letal do meu cérebro. E nem assim você foi embora. Nem assim. Nem quando eu decorei o odor de outros corpos, nem depois de ter tido tantas outras lembranças, esbarrado com texturas diferentes da sua, nem depois de trocar seus olhos verdes por outros olhos verdes. Você voltava cada vez que tinha chance. Não por querer, apenas inconscientemente. A distância retirou de mim, temporariamente, você. Que foi rebaixado de cargo, deixando de ser meu porto seguro para tornar-se meu pesadelo. Eu temia dormir, pra não sonhar com você. E assim, não dormia. Eu desejava que tudo pudesse ser como antes, desejava tê-lo de volta... não sempre, às vezes só, como nossa brincadeira de não levar nada a sério. Eu sentia sua falta. E queria, por mais egoísta que possa parecer, que você sentisse a minha também. Mas não era assim. E eu continuava forte, olhando pra frente, enquanto essa era a parte fácil. O mais difícil mesmo, era não olhar para trás.

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