sábado, 24 de novembro de 2012

Sem querer

Sei que você pensa em mim. Sei que, apesar de o dia ter sido cheio, apesar das provas da faculdade e a pressão do trabalho, você chega em casa exausto e pensa em mim. Sei que, por mais que você não tenha tempo pra nada, consegue arranjar dois minutos no computador pra saber alguma notícia minha. Sei como é porque faço a mesma coisa. Meu celular não fica quieto, passo o dia inteiro ocupada, não tenho tempo pra sentir saudade. Outras pessoas, com outras vozes e cabelos e cheiros, fazem o favor de me manter sempre distraída. Mas uma hora todo mundo dorme. Todo mundo, menos eu. Uma hora eu deito no travesseiro e a cidade inteira está adormecida. Menos eu. Menos você. Você relaxa o corpo na cama pela primeira vez no dia e é tão bom que chega a doer. A mente quase vazia é "quase" pois desloca de algum lugar obscuro a minha imagem. E você se pergunta o que eu estou fazendo, ou com o que estou sonhando, enquanto eu estou pensando o mesmo de você. Dá saudade. Uma saudade quase saudável. Uma saudade gostosa que aquece o peito e delicia a alma. Faz tanto tempo que não te vejo que às vezes é difícil visualizar teu rosto, como se ele fosse se apagando aos poucos da memória, mas teu sorriso torto está marcado fortemente... Teu cabelo liso, teus olhos escuros e penetrantes. Você está todo marcado por aqui. E eu penso, penso sem querer, quase involuntariamente. E sei que você pensa em mim também. Sem querer ou por querer. Estou sentindo tua falta, hoje mais do que esses dias que tem se passado. Já não sei se faço falta também, mas sei que você pensa nisso. Essa é a única certeza que eu tenho. Porque o resto é dúvida e elas não me importam realmente. Tenho escrito bastante, mas não termino nenhum dos meus textos. Ficam todos sem final, transparecendo o quão incompleta eu estou. Nunca tinha acumulado tantas palavras soltas e sem finalidade, nunca até você. Até essa maré de pensamentos noturnos e duvidosos me encher toda noite, deixando saudade. Uma saudade que não pede volta, perdão, palavras. Ela pede mais um braço apertado de um corpo que costumava ser um só comigo. Pede compreensão por não saber ir embora e de vez em quando ligar pra você. Sinto-me culpada por ainda sentir um frio na barriga quando te vejo ou por chorar por saber que você estava com outra pessoa. É triste ver um amor tão bonito ser entregue a um outro alguém. Um amor que era meu, dividia espaço com o meu e se entregava só pra mim. Sei que, apesar de toda a negação, nenhum sentimento que foi tão forte morre assim do nada. Virão muitas pessoas e muitos sentimentos e muitas estações. Os invernos serão piores do que os verões. Seu pé gelado vai procurar involuntariamente o meu embaixo das cobertas. Sem sucesso. Coloque outro pé pra te esquentar, outra voz no teu ouvido pra te acordar, outro corpo pra ir jantar com você. Não me importo porque sei que nenhum vai me substituir, de um jeitinho ou de outro. Continuo marcada aí. Orgulho-me de ter te deixado tão mal acostumado. Assim, toda vez que alguém não entender tuas brincadeiras ou não insistir pra rachar a conta com você, eu estarei na sua cabeça. Porque você pensa em mim. De vez em quando eu sei que você pensa em mim.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Queria em você

Tô tentando, mas não sei mais amar. Não sei mais. Tô tentando, eu juro! Você ficaria orgulhoso se visse o cara que está na minha vida. Você choraria de raiva e inveja, e doeria um pouco o peito com aquela sensação de “te perdi”.
Saio por aí, procurando amor ou qualquer coisa parecida com isso, tô naquele ponto que já tô aceitando genéricos. Porque amor de verdade ta muito caro! Exige demais da gente. Às vezes tenho certeza de que vale mais a pena um falsificado, mais barato, com menos exigências.
Encontrei o cara mais legal do mundo, mil vezes melhor do que você. Se eu colocar mais uma qualidade nele, vai transbordar. Pedi tanto em oração, mas tanto, que acabei recebendo o bendito. Ô, menino bonito... Tira o fôlego, não só meu, mas de todas as outras pessoas. Correto, inteligente, educado. Do tipo que corre pra abrir a sua porta no carro e anda de mão dada com você na rua. Absurdamente lindo. Completamente o meu oposto. O cara perfeito pra todas as mulheres. Mas sou a única que não parece merecê-lo. E sou a única que ele quer merecer.
Queria ele pra ser pai dos meus filhos. Queria sua postura, seu caráter, seu gene. Queria ouvir um milhão de elogios incansáveis, mesmo quando tô toda suada ou com o rímel borrado. Porque ele é assim. Ama em mim tudo o que eu não gosto, e faz-me amar também. Aprendi a me amar um pouquinho mais, a me colocar em primeiro lugar, tudo graças ao menino. Mas é menino, sabe? Não é homem feito. Não tô falando de idade, de maturidade, de experiência. Ele é ingênuo e puro. Puta merda, ele é tudo o que eu pedi, você sabe, você me conhece. Ele abaixa a tampa da privada, deixa o último sushi pra mim, me oferece o casaco se eu tô com frio... E tudo o que eu consigo pensar é em como você não fazia nada disso. Como você era egoísta e comia o último sushi, me deixava passar frio e largava a maldita tampa sempre levantada. Tudo o que eu consigo pensar é em como eu odiava brigar com você por isso inúmeras vezes e por muito mais. Porque nós dois não brigávamos. Eu e o cara perfeito. Não brigávamos de jeito nenhum, por nada. Eu arranjava motivo pra brigar, mas ele não comprava minhas brigas. Tinha medo de que qualquer atrito fosse nos estragar, mas acabamos descobrimos jeitos melhores de brigar. Jeitos melhores ainda de reconciliar. Agora, brigamos bastante, mas nos reconciliamos tão rápido que nem consigo lembrar dos motivos de ficar brava com ele. Bem diferente de como era com você.
Encontrei, finalmente, paz. Procurava por tudo isso. A paz, a paciência, a ingenuidade que ele carrega no olhar. Você sabe, eu sempre te disse que era isso que eu queria em você. Te cobrei essas coisas por tanto tempo, e hoje que eu tenho, elas parecem tão banais. Banais sim, porque percebi que é o mínimo que alguém pode oferecer numa relação. Às vezes o melhor pra nós não é o que queremos, e sim o que merecemos. Mas, sabe, tô tentando ainda achar defeito nele. Parece que não tem nenhum. E o cara sem defeitos simplesmente me desespera porque não ter defeitos é praticamente o pior defeito que existe. Eu não conseguia gostar nem dos seus pequenos defeitos, mas me apaixonei pelo maior defeito do mundo nele.
Você se morderia, certamente, de ciúmes se me visse com ele na rua. O cara é digno de uma nota dez. Tenho certeza de que até você, daquele jeito estranho, admitiria isso. Porque ele é. Ele é tudo. Jesus, ele é tudo e mais um pouco. A facilidade que ele tem pra me tirar do chão é incrível. E olha que não tô falando metaforicamente não, é literalmente! Ele é muito forte e seguro de si, ao mesmo tempo em que é inseguro também. Quando ele é inseguro, meu Deus, tenho vontade de abraçá-lo até não poder mais. Ele também tem uma família de ouro, tipo a minha. É todo ligado neles. E eu sou ligada nele. Até certo ponto, sabe? Ele não discute comigo nem nas músicas, gosta de tudo o que eu gosto, apesar de não gostar realmente. Mas ta sempre agradando, sempre sorrindo, sempre adorável. Eu tô sorrindo só de pensar nele. Queria que você o conhecesse, queria saber tua opinião. Se você fizesse aquela careta amarga, bem, então aí eu saberia que acertei na escolha dessa vez. Porque ninguém te deixava inseguro, mas ele com certeza faria seu ego tremer.
Minha barriga revira quando eu o encontro, minha bochecha cora quando nos falamos. Me cuido toda pra não falar palavrão na frente dele nem parecer muito idiota. Mas, amar? Amar de verdade? Dá medo. Quando eu tento chamar alguém de “amor”, travo toda. Gaguejo. Repenso. Mas tô tentando, ta? Você ficaria orgulhoso. Depois de me aconselhar a seguir em frente, você pediria pra eu voltar atrás de remorso. Mas só posso agradecer. Tudo que ele me causa, tudo que ele me faz... Nunca senti nada parecido antes. Por isso, quando penso em amor, no amor que senti por você, não consigo encaixá-lo nele. É como se ele fosse muito melhor do que aquele sentimento murcho e morno que eu sentia por você. "Amor". Talvez seja por isso que travo quando quero chamá-lo assim, porque certamente não é do mesmo jeito que te chamava. Se tivesse algo maior que isso, o chamaria assim. Agora que aprendi o que é amor de verdade, o que é se sentir amada, eu não preciso de apelidos pra ele. Mas amor, com certeza, se encaixaria nele. Pelo menos esse amor que sinto agora, cheio, quente; tão quente que chega a me queimar. Esse amor, sim - é totalmente e somente ele. Ele é amor.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Quase dois

Você foi a melhor parte de um ano desesperadamente assustador. Você foi o primeiro de, espero, não muitos, mas não foi o último. Você foi um amor indecente, verídico, impensado, corrompido. Você foi a alma de projetos e ideias e sonhos, você foi a essência de cheiros e gostos e moldes. Você, amor, foi pesadelo e depois o ombro pra reconfortar. Foi o peito que me acolheu nas noites frias e o pé que esquentou o meu. Você foi a barba mal feita que arranhou meu rosto e meu corpo nos momentos que eram nossos, e que hoje não são mais. Você... Você foi dor e foi cura, foi ferida e cicatrização. Você era a última coisa que eu via na sexta à noite e a primeira que eu enxergava quando abria os olhos sábado de manhã. Nunca quis nada além de você, porque você sempre bastou. Desse teu jeito torto e egoísta e dulcíssimo. Sempre tão honesto e desonesto e incompreensível. Você foi grande parte dos meus problemas e a maioria das minhas soluções. Foi a paciência, a compreensão, o afago, a manha. Você foi o certo e o errado, minha eterna contradição. Você foi meu melhor amigo. O melhor amigo que era namorado e marido e amante e encaixe. Você foi meses de briga, e de mais amor ainda. Meses de medo de te perder, de sorrisos sem motivo nenhum. Você é saudade. Você é choro, calúnia, desgraça. É pesadelo e não mais reconforto. É sonho que faz questão de me visitar toda noite, é uma dor no peito sem explicação. Você, hoje, é um vento que passa e me dá frio e arrepio. Você é um estranho que me olha e não me reconhece, não me cumprimenta, não me oferece mais sorrisos. Você é mágoa e lembranças e memórias vívidas. É inúmeras fotos, sensações, calafrios. Você é um amor acabado, mas inacabado, daqueles que a gente tem que jogar tudo fora porque cada coisa lembra você, e tem que se esforçar ao máximo porque é difícil esquecer. Você é o amor que a gente se convence de que está morto, mas que soca a nossa cara quando aparece sem querer no mesmo restaurante que você, revira a barriga, te tira a fome e te faz ir embora. Você é pingo de mistura de sentimentos e memórias que fica guardado sempre compactado dentro do peito, esquecido, mas não some de jeito nenhum. Eu sou o pingo que não sumo de jeito nenhum pra você. Entendo como deve ser difícil seguir em frente vendo tudo o que eu estou fazendo, observando fotos novas minhas, reatando o relacionamento com os velhos sentimentos que só sabem incomodar. Não entendo, no entanto, a tua ignorância. A tua fuga, a tua covardia. Não entendo porque pra ser feliz não pode mais falar comigo. Se a infantilidade é tanta, só tenho a falar: você foi e você é criança. Você foi quase dois anos de uma absurda alegria, de choros intermináveis, de discussões calorosas e recepções marcantes. Você foi a minha paz, a minha maturidade, o meu encontro comigo mesma. Foi meu piadista, meu intelectual, minha vida. Minha vontade de levantar durante a semana pra ela passar voando pra te encontrar. Você foi coisa ruim, mas muito mais coisa boa. Foi amor de madrugada, em cada canto da cidade. Foi amor a qualquer hora, por qualquer coisa. Você é a melhor das minhas lembranças, a melhor parte do meu passado, o ponto mais interessante das minhas histórias. Meu pior equívoco e meu maior acerto, meu mais valioso investimento. Você era feliz e não sabia, tinha tudo e não via. Eu era feliz e não sabia, nunca soube, até hoje não entendo direito, mas eu era a pessoa mais feliz do mundo. Você me fez a pessoa mais feliz do mundo. Você foi felicidade, cumplicidade, êxtase. Você é saudade. Você foi amor.

sábado, 22 de setembro de 2012

Todas as manhãs

Eu procuro você na cama extremamente vazia, que o outro lado agora não está preenchido por roupas e livros e bagunça como sempre. Talvez ele esteja arrumado assim dando espaço pra alguém o ocupar, apesar de nós dois cabermos em só metade da cama, quando a outra metade era um caos. Nunca me importei em dormir na beira da cama, de lado, envolta nos seus braços. Era melhor do que ter ela inteira só pra mim, lembrando-me de que você não vem hoje à noite jogar vídeo game até sentir sono e depois dormir comigo apertadinho como se eu não tivesse aula amanhã. Sinto falta das minhas desculpas pra faltar a aula no sábado de manhã serem você, e não de faltar a semana toda sem motivo nenhum. Eu sei, eu sei. Eu tenho que focar nos estudos, tenho que me distrair, seguir em frente. Eu sei. Nunca ouvi tanto esses conselhos como nesse último mês. "Você merece alguém bem melhor", "você está bem melhor sozinha", "ele não te merece, nunca te mereceu", "vocês estavam em épocas diferentes, com cabeças diferentes, ele ainda é uma criança". Sabe, to cansada de ouvir isso. Alguém tem alguma outra desculpa? Melhor em que sentido? Mais bonito, mais inteligente, mais compreensivo? Mereço. Mas quem disse que não me bastava o pouco que ele era? Porque bastava...
Substituir amor, só com outro. Tem escapatória. Não to dizendo que não vou amar de novo, que não vou te substituir, porque eu vou, porque você não é insubstituível. To dizendo que ta difícil substituir as outras coisas. Colocar alguém no seu lugar enquanto você ainda arde vivo em todos os cantos da casa, do peito, da cidade. Construir tantas memórias e tirar mais fotos e ganhar mais presentes. Acumular tudo. Porque as memórias, as fotos, os presentes, tudo ainda ta aqui. Faço o que com eles? Eu ainda não sei. Apesar de ter passado bastante tempo, eu ainda não sei. Não te espero voltar, não te quero de novo. Mas não sei o que faço com tanta lembrança. Te jogo fora durante o dia todo, mas você volta à noite e me assombra em todos os sonhos, e eu lembro de cada um vivamente. Acordo sem a mínima noção de que era sonho, procuro você nas cobertas, no celular, na cabeça. E aí lembro que não vou te achar. Te amaldiçôo mentalmente. Choro baixinho, e não sinto vontade de levantar da cama. Todas as manhãs.
Eu só acho tão ridiculamente patético viver tanto tempo com um pessoa, construir uma fortaleza junto com ela, sonhos, esperanças, brincadeiras, confiança, e simplesmente abandoná-la. A fortaleza. Fingir que nada aconteceu, que nada existiu, que não se conhecem mais. Essa é a parte mais escarnificante do ser humano. Apesar de conhecê-la tão bem, não consigo deixar de me surpreender. As pessoas são tão insensatas quando acham que ignorando as memórias e deixando algo inacabado, vão se livrar de todo o resto. O muro, a fortaleza, ta de pé ali, ó. Pode ver. E isso, felizmente, é a única coisa que ninguém derruba, nem mesmo quem o construiu.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Desconhecido

A novidade tornou-se velharia, e as pessoas têm essa mania tosca de trocar o velho pelo novo, mesmo sabendo que panela velha é que faz comida boa. Mesmo sabendo que a próxima novidade vai ser empolgante - momentaneamente -, mas que o desconhecido tem muitos pontos fracos. Intimidade, brincadeiras, apelidos, carícias, medos, vícios, compreensão, colo, choro, entendimento, facilidade, coração aberto, e amor - claro -, não se encontra no desconhecido. Quando o brilho ficar fosco, você vai deitar na cama querendo o abraço de uma pessoa só, e te garanto que não é do desconhecido. Você vai sentir falta da mão te procurando do outro lado da cama no meio da noite no escuro, te encontrando afastado e chegando perto pra envolver tuas costas com os braços. Esse tipo de calor não dá pra substituir. Você vai se encontrar sábado a noite em casa, meio sem rumo e chão, pensando no que fazer. Seu celular vai tocar e inconscientemente você vai achar que ela, mesmo sabendo que não é, e você vai dar um suspiro de alívio. Alívio por não ser ela, alívio porque você não queria que fosse ela, não queria trazer tudo à tona. Seus amigos vão te convencer a ir pra alguma festa, sem dificuldade nenhuma, e você já vai de carona com o intuito de beber muito e esquecer de tudo. Pode beijar uma, duas, ou quantas bocas quiser. Elas serão pequenas ou grandes demais para a sua, engraçadas e diferentes. Não é tão bom. A novidade faz parecer melhor do que realmente é. Você a afasta por um segundo e olha nos seus olhos, não verdes, procurando alguma coisa, que também não sabe o quê. Ela vai sorrir e o sorriso vai ser branco e bonito e não como você tava acostumado. Por um segundo bate um desânimo, mas você joga fora, ignora. Cinco da manhã você chega em casa, com aquela sensação de que ta faltando alguma coisa. Tira toda a roupa, as lentes, e deita na cama sentindo um frio absurdo que nenhuma coberta consegue cessar. Um frio que vem de dentro pra fora e esmaga o peito, e você aceita que é só a bebida te dando mal estar. Tem coisas que uma noite de festa não consegue te dar, tem faltas que desconhecidos não conseguem suprir. Um domingo vazio, de vídeo game e um almoço clichê. Sempre uma incógnita tua semana, mas também teus apoios e escapes. A vida te deu um tapa e mandou você aguentar e fingir que nada aconteceu. Você é fiel demais a isso. Leva em frente como se tivesse e quisesse aceitar a nova realidade, com lembranças afogadas no canto do cérebro. Você não vai voltar atrás porque se acha melhor do que isso. E você é. Atrás não tem mais nada, você está certo em escolher seguir em frente. Mas a opção de ir sozinho ou acompanhado é só sua.

sábado, 1 de setembro de 2012

Venci(da)

O silêncio ocupou o espaço que era dos risos e das conversas. Qualquer lugar era o lugar perfeito pra olhar desde que não fosse um para o outro. Dois corpos que não sabiam mais preencher o mesmo espaço e não estavam na mesma sintonia, mas insistiam em tentar. Tentar, não sei pra quê, porque na verdade era um tentando e o outro apenas levando em frente; ou não levando a lugar nenhum. Os olhos se encontravam, mas não se achavam, não se entendiam. As palavras não faziam mais sentido e por isso eram poupadas. Levamos muito tempo numa brincadeira meio sem razão e meio sem entender nada, jogando fora e depois catando de volta. A perda não é fácil pra ninguém. Nós sabíamos, mas não entendíamos. Nunca faltou amor. Não faltou atração, nem cumplicidade. Somente morreu a palpitação no coração e o frio na barriga e a sensação de conquista. Mas nós não tínhamos morrido, apenas não sabíamos mais nos reinventar, e desistir parecia mais fácil. Mais fácil pra você, pelo menos.
Você queria desistir e eu queria insistir. Uma briga que só teria um fim e a gente sabia. Mas nenhuma guerra é de verdade se um dos lados não insistir, não é? E lá fui eu, espada numa mão e escudo na outra, tentar buscar o que perdemos. A verdade é que eu já tinha jogado meu escudo fora há muito tempo, e minha espada não tinha mais ponta. Eu lutei por força do hábito. Eu lutei por acomodação. Lutei porque não quis aceitar que tinha que sair da nossa rotina e do nosso castelo, mesmo vendo ele desmoronar a minha volta. Eu lutei porque era a única coisa que eu sabia fazer ainda, e de tanto ter feito, tornou-se automático. Minha reação era lutar e tentar manter unido o que não tinha mais ligação. Mas se me perguntassem, eu não saberia explicar porque estava na guerra. Eu olhava pra você e implorava um pouquinho de ajuda, mas você jogou a toalha, rendendo-se. Não sei porque gastei as últimas palavras sabendo que eram em vão. Não sei porque tentei continuar em algo que eu nem sabia mais se era o que eu queria. Não sei porque eu hesitei em vez de aceitar a derrota. Força do hábito. Amor, talvez.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Compreender

Quando você chegava em casa e eu te ligava tarde da noite querendo conversar e você dizia que tava cansado, eu ficava brava. Nunca entendi todo esse teu cansaço. Achei por muito tempo que era desculpa tua, não sei pra quê. Quantas vezes criei uma briga enorme por causa disso, e você só ficava mais cansado de ter que ouvir uma hora a namorada reclamar da falta de atenção pelo telefone. Muita gente trabalha e estuda e namora, e você é o única que fica cansado? Nunca entendi. Nunca tentei entender. Sempre tive essa coisa de mulher de ficar procurando defeito onde não tem, e achava fielmente que era tudo mentira tua porque não queria falar comigo. Achei que o problema era eu.
Hoje, te vejo sozinho chegando em casa... E cansado. Fazendo exatamente as mesmas coisas que fazia quando tava comigo. Chegava em casa estragado de fome, limpava a geladeira, assistia televisão e depois jogava o sagrado video game. Jogo de futebol, seu preferido e o único que eu não sabia jogar. Ficava quieto, não queria falar, não queria pensar. Queria teu tempo, teu espaço, teu silêncio. E eu nunca entendi.
Quando eu chegava em casa e te ligava tarde da noite, eu dizia que tava carente e queria conversar, e você ficava bravo. Você nunca entendeu minha carência e minha necessidade de atenção. Achou por muito tempo que era drama meu, só pra te incomodar. A gente brigava pelo teu cansaço, minha carência, nossa falta de diálogo e excesso de discussão. Um não via o lado do outro e isso matava aos poucos, lentamente.
Eu chegava em casa, estudava o dia todo, e não falava com você. Tudo o que eu queria era largar os livros, pegar o carro e ir até o teu trabalho pra te dar um beijo. Quando te mandava uma mensagem, você demorava pra responder, alegando que estava ocupado demais trabalhando. Tarde da noite, a hora que você chegava em casa, eu te ligava saltitante querendo jogar papo fora e ouvir tua voz. Cansado. Você tava cansado demais pra ouvir ou pra falar ou pra explicar. Tua grosseria e minha sensibilidade batiam de frente e magoava.
Me surpreendo de saber que foi isso que nos levou ao fundo do poço. Isso, principalmente. Justo nós, que sempre decidimos pelo diálogo quando houve alguma problema, deixamos a falta dele nos enforcar até matar. E matou. Matou porque faltou compreensão na hora mais simples do relacionamento. Você tava cansado e eu tava carente, não custava um ceder pro outro. Mas não, na verdade a gente sempre esperava que o outro fosse ceder todas as vezes e não cedia nenhuma. Egoísmo.
Eu deveria ter ido até a sua casa e te levar um chocolate e fazer uma massagem em vez de ligar. Deveria ter engolido a carência um dia ou outro e ter te dado o teu querido silêncio. Você, em troca, podia matar a carência que ficou acumulada pro outro dia me ligando e conversando um pouco comigo, ou só vindo me ver. O cansaço deixava pra hora de deitar a cabeça no travesseiro.
Um erro tolo, básico e simples de ser resolvido, e nós deixamos escapar. Tão óbvio que parecia invisível. Me perdoa se sentia tua falta só de ficar sem ti o dia todo. Me perdoa se te liguei carente e não entendi o teu lado. Hoje eu preferia passar o dia sem ti do que passar todo esse tempo longe. A falta que eu sinto acumula, e eu desabafo aqui. Espero que um dia, sem estares cansado, você possa ler aqui o nosso erro e, finalmente, compreender o meu lado.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Pra você

Nos olhos dele eu vi algo que não conhecia. Encarei-o, com o corpo formigando de excitação, observando cada traço de um corpo que preenchia perfeitamente o meu. Incrível como ele era exatamente tudo o que eu nunca quis e nunca procurei, como ele era absurdamente o contrário de todos os outros, todos os meus outros, o oposto do que eu sempre moldei pra mim. Inteligente, mas engraçado. Sincero, mas carinhoso. Altura, olhos, cabelo, voz, jeito, gostos, manias, defeitos e qualidades que não cabiam nos meus requisitos. Ele tinha tudo pra não passar no teste, mas foi o único que passou. É por isso que me intriga, excita, encanta e deixa meu corpo assim. Formigando.
Cheguei mais perto, passando de leve a mão nas suas costas, beijando-a toda e indo direto pra nuca. O cheiro que eu jamais vou esquecer, o cheiro que está por todo o meu quarto e fortemente marcado na minha cama. Ele ria e sua risada tremia seu corpo, que me tremia também. Arrepiava. De todos os amores que eu já senti, aquele era o mais vivo. O mais vivo e o mais calmo. Vivo, calmo, ardente, real, inspirador, sincero, adulto, palpável. Meu amor por ele era tão único que o medo de perdê-lo morava no meu peito. Como podia um amor tão grande habitar numa pessoa tão pequena...
Toda vez que eu assistia um filme romântico, me derretia em lágrimas e dizia pra ele o quanto eu queria viver uma história de amor como aquelas. Uma história difícil, verdadeira, intrigante. Ele sorria e beijava minha testa, nunca retrucou. Ontem ele me olhou nos olhos depois de um desses filmes e perguntou "queres uma história mais bonita do que a nossa? No dia em que a gente se conheceu, foi sorte você sequer olhar pra mim. Se não tivessem te magoado um dia antes, você não estaria aberta pra me conhecer. Mas, por alguma razão, você estava. Quando eu subi as escadas e te vi, não consegui disfarçar a surpresa. Eras tão linda que eu fiz papel de bobo na frente de todo mundo, parado no topo da escada, encarando uma menina que eu não conhecia. Você me encarou também, lembra? Nem sei quanto tempo ficamos lá nos olhando. Naquele momento a gente soube que não seríamos mais dois desconhecidos, mas grandes amantes. Foi naquele dia que nós ficamos a primeira vez e nunca mais nos separamos. Realmente, quer história mais bonita do que a nossa?".
Não, não quero. Eu quero ele hoje, amanhã, e de novo e de novo e de novo. Queria saber explicar o quanto eu gosto de nós dois juntos ou do jeito que ele mexe no cabelo ou fica sem graça quando eu faço um elogio. Ele me completa nas formas mais inimagináveis, nas maneiras mais absurdas. Amor, melhor amigo, porto seguro. Ele merece tudo o que eu tenho pra dar e mais um pouco. Você, meu amor, é a minha história de filme. É meu pedaço do quebra-cabeça e o meu cara certo na hora errada.

Feliz dia dos namorados, amor.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Velho amor

Não é "se cuida". Não é desligar o telefone e ir dormir. Não é ficar duas horas falando besteira pra amanhã esquecer. É "me cuida". Desliga o telefone e vem dormir aqui em casa. Me aquece, me abraça com esses teus braços enormes, me aperta contra teu corpo. Dorme comigo pra acordar comigo e lembrar de mim o resto do dia. Não vá embora. Não vá embora de manhã, de tarde ou de noite. Trago café na cama, peço um almoço bem diferente e capricho na janta pra nós dois. Mas não me larga sozinha na vida de novo. Não volta pra essa tua rotina maluca e esbaforida que insistes em ter. Eu sei que é loucura, mas meu coração ainda dança frenético no peito e as borboletas reaparecem - achei que não existiam mais - na barriga quando te vejo. E é errado. Mas essa erupção que você causa e domina e assiste é incontrolável. Não se brinca num vulcão adormecido.
Eu choro porque eu deveria sentir isso por outra pessoa. Não que não sinta nada, é mais forte e concreto do que tudo isso, mas sinto falta da instabilidade. Sinto falta do cheiro e do gosto. Das brigas. Dos beijos. De verdade e mentira e oposição misturados em nós. Eu sinto sua falta.
E cada passo que eu dou pra frente, acabo endireitando o caminho de volta a você e ando em círculos. Te procurando, me endoidecendo. Nos amando. E sei que a regra é não esquecer o primeiro amor, e que o plano é aparecer de vez em quando pra sempre ser lembrado, mas deixa eu te falar uma coisa. Deixa eu te falar que esse plano funciona muito melhor do que você imagina. E a dor é grande e barulhenta e começa a ecoar desesperadamente dentro de mim, dando consequência nos outros. Você é o distúrbio que eu nunca consegui vencer, mas também nunca tentei de verdade. Porque te manter nas lembranças é muito melhor do que não te manter de jeito nenhum.
Não é que eu te queira de volta ou que eu tenha te perdoado pelos seus erros. Te quero longe e ainda sofro pensando em tudo o que você fez. As pessoas tem que entender isso. Não controlo meu coração, ou as borboletas da barriga, ou a vontade de te abraçar toda vez que te vejo. Mas isso não significa que te quero de volta na minha vida. Até desejo, mas não quero. Você é apenas a saudade que ficou aqui dentro e de vez em quando bate na minha porta pedindo colo. Eu dou colo. Nunca neguei. Mas de manhã cedinho te mando de volta pra casa, sem arrependimentos, sem dúvidas.
Porque todos esses anos eu tive certeza e você insegurança. Eu não sabia te dizer não, você não sabia se comprometer. Eu tentei, você fugiu. E eu continuei ali, esperando você aprender com seus erros e voltar correndo. Eu que aprendi com os meus, por isso hoje não te quero por perto. É por isso que hoje te digo não. E foi com os meus acertos que você aprendeu a reconhecer seus erros. Tarde demais pra se comprometer, não? Irônico.
Começar um texto te falando de saudade e de te querer por perto e terminar falando de mágoa e de não te querer realmente por perto é a maior prova de que você ficou marcado. Negativa e positivamente. Minha contradição, meu vício. Mas você é só isso: uma noite sem dormir, duas horas no telefone, um choro de saudade. Um passado que parece sempre recente.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Amor

É quando você não espera mais a ligação daquela pessoa, porque sabe que vai ter que acabar ligando primeiro se depender dela. É quando buquê de flores e ursinhos de pelúcia são o bastante para colocar a briga embaixo do tapete por alguns dias, mas não acabar com ela. É quando um fim de semana juntos não compensa mais a semana separados, e em todas as vírgulas dá vontade de colocar um ponto final. Existe muito em comum, mas as diferenças tornaram-se maiores e gritantes e absurdas. E elas transbordam por cada orifício de quem tenta dizer o contrário.
É quando você tem que perguntar se o outro te ama. É quando a dúvida é maior que a certeza e vira desconfiança. É quando você chora em todas as brigas por mais frequentes que sejam, porque o medo de perder, mas a vontade de separação são inversamente proporcionais.
É quando você não é levado a sério quando pede consideração, por mais que o outro saiba o quanto errou. É quando você liga pra alguém para conversar e fazer tudo ficar bem, e passa horas tentando fazer ela rir e entender, mesmo quando quem errou foi ela. Ela não gasta mais de cinco minutos para que as coisas se ajeitem. É quando você fala que está tudo bem, querendo que ela insista um pouco mais em você, e a pessoa só finge que acredita e deixa tudo por ali. No meio do caminho, inacabado. Tentando tapar um buraco que só vai ficar mais fundo se não for consertado de vez.
É quando o medo de o tempo estar passando rápido demais e de as coisas estarem ficando sérias te impede de aproveitar por completo. É quando uma pessoa só embarca em um barquinho que foi feito para dois. Falta alguém. Falta alguma coisa. É quando você percebe que está entrando sozinho em uma luta.
Porque o amor, o temido amor, é um campo de batalhas. Não é sempre flores e dengos e cheiros. O amor é turbulento. E ele foi feito com molde para dois, com lugar para dois, com convite para dois. O amor não sabe ser sozinho, não sabe ser egoísta. Ele vai te derrubar muitas vezes, pra ver se você levanta de novo e continua insistindo nele. Ele é uma eterna luta. De dois. Lutar sozinho pelo amor não é certo... Deixa de ser amor.
É quando você não sabe se está acompanhado no barco ou se a pessoa vai pular fora a qualquer hora. É quando você quer dar teu coração, mas não te oferecem nada em troca. E mesmo assim você o entrega.
Porque o amor... É quando você não tem mais motivos pra lutar, pra insistir, pra persistir. É quando o lado negativo às vezes parece maior e mais pesado e quando não há esperanças nenhuma. O amor é quando sua energia esgotou, sua paciência foi embora, suas razões para amar acabaram. Mas você continua lá, firme, lutando por ele.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Tem que perder...

O maior erro das pessoas é dar valor pra alma incorreta. É procurar, chorar, tentar explicar as 2 da manhã que só ligou pra ficar tudo bem. Pra ficar tudo bem? - é o que os errados respondem. Que bom que você ligou - é o que deveriam responder, mesmo sem entender nada. Lembra aquele dia que meu telefone tocou as três horas da manhã, desesperado? E mais desesperada era a voz que me pediu colo e compreensão, falando do pesadelo que teve. Vai ficar tudo bem - foi o que eu respondi. Não, não estava dormindo - complementei. Queria te dar conforto, e não a sensação de culpa por ter me tirado do décimo sono mesmo que eu tivesse aula no outro dia. Nunca respondi diferente disso. Muito pelo contrário. Sempre te fiz sentir em casa, até no mais estranho dos lugares. Achei que era esse o meu trabalho, o de todos. Estender a mão quando o outro precisa. Dar carinho quando a namorada liga chorando ou abraço quando te procura carente. Ela poderia estar procurando outra pessoa. Ela poderia simplesmente não te procurar. E mesmo que a única resposta que ela consiga seja a "caixa de mensagens" após seis toques no celular e sessenta no coração, ela ainda vai te procurar na próxima vez. E dai você pensa "que saco", e até opta por não atender, quem sabe por atender e ser curto e grosso. É um saco porque ela te liga. É um saco porque ela te procura. Ela é chata por ser sensível e querer que a noite termine bem. Mas vai deixar de ser um saco. Vai deixar de ser um saco e vai se tornar um vazio inexplicável quando o telefone que tocar de madrugada não for o seu. Quando outra pessoa der a ela o pouquinho de consideração que ela queria. Quando outra voz usar o mesmo tom dela pra responder, gentilmente, que vai ficar tudo bem. E todos ficaram felizes, não? Ela encontrou alguém que dá o valor que você não soube dar, ele encontrou uma mulher que vai colocar ele em primeiro lugar, e você não tem mais o "saco" pra te encher. E isso funciona tão bem na teoria. Mas saco vai ser tua vida sem ela, vai ser ensinar outro alguém a te fazer rir quando estiveres irritado. E por mais clichê que essa frase possa ser, ela nunca deixará de ser verdade: as pessoas só dão valor quando perdem. Quando outro indivíduo conquista o que era teu. E por mais que muitas vezes tenham volta, algumas simplesmente não têm. E pode ser o forte que quiser, o maduro que quiser, o grosso que quiser, mas certas coisas não têm substituição. Então não espera perder para entender que você gostava das ligações. Não espera outra pessoa entrar na tua vida e não servir no teu molde pra perceberes que ela não era tão ruim assim. Ou que ela era boa demais. E que ela faz falta. O tipo de falta que não se preenche. Quando ela te ligar, respira fundo e atende. Teu dia foi difícil, mas o dela também foi. Oferece um encontro pra ela desabafar. Ou deixa ela falar. Porque enquanto ela te liga, tem outra pessoa ligando para ela. E ela recusa as chamadas. "Quem não dá assistência, só abre concorrência". Não espere até as chamadas ignoradas serem as tuas.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fortaleza


Tenho essa mania chata de me apegar demais às pessoas. Sofro com despedidas, choro com términos, dramatizo cada vírgula dos meus relacionamentos. Intensifico tudo, levando a sério todas as reticências e acentos e pontos finais. Entrego corpo e alma. E meu grande erro é crer que as pessoas entregam os seus também.
Nessa brincadeira de não saber brincar, eu te assusto. Falo de futuro, de passado. Fortaleço o presente. Mas minha fortaleza é tão forte que você tem medo de não conseguir mais sair. Tem medo de que os muros sejam altos demais ou impossíveis de derrubar. Seu equívoco é achar que faço isso para te prender, para nos prender. Mas ao me fortalecer ao extremo, é para não deixar ninguém entrar. É para não bombardearem minha vida com - mais - mentiras, traições, ilusões. É para não deixarem mais marcas como essas que eu já tenho e você conhece bem. E então continuo protegendo o que ainda resta da sanidade, da calmaria, da confiança. Se você quiser sair, é só pedir. Abro a porta da frente e te deixo passar.
Essa sua claustrofobia em relação ao amor me afasta. Magoa. Porque não estou te pedindo em casamento, e um longo relacionamento não significa que é para sempre. Para de ter medo disso. Foca nas partes boas, enquanto são boas. Foca em mim, enquanto estou aqui. E se for para casar, deixa ser. Serei uma boa mãe, uma boa esposa. Você um bom pai, bom marido. E se não for, a gente vai descobrir. Querer adivinhar o futuro não faz bem, melhor parar com isso. Fica protegido aqui dentro dos meus muros, deixa eu cuidar de você, proteger quem eu amo. Proteja-me também, estando do meu lado e ocupando todo esse espaço, todo esse vazio, e assim não deixando mais ninguém entrar. Porque não me interessa mais ninguém. Quando fores embora e deixar de novo o buraco aqui - mais profundo -, acabará entrando outra pessoa. Minha defesa é forte, mas não invencível. Porque eu sinto, eu amo, eu desejo. E acabo acreditando nas mentiras dos outros, esperando que algum deles possa invadir minha fortaleza, acabar com esse medo que eu também sinto e ocupar de vez o cargo que não é permanente de ninguém, mas é temporariamente seu.
Se teus anseios te impedem de ficar, então vá. Mas vá ciente de que a oportunidade é uma só. Se desistir, é para sempre. Se passar pelos muros afora, não volte. Não quero visitas, não ligo para seus arrependimentos. Procuro amor, uma pessoa inteira e não pela metade. Vá ser pela metade em outros lugares, seja inteiro aqui. O portão é serventia da casa, mas garanto que o serviço dentro dela é bem melhor do que lá fora. Mas não dá mais para ficar em cima do muro.