sábado, 27 de novembro de 2010

Boa noite, adeus.

Caminhou demoradamente da porta até o portão. O pequeno trajeto foi traçado com passos que se arrastavam, carregando um corpo que parecia pedir pra não ir embora, fingia exaustão como razão da delonga. Fiquei presa à porta, agarrada à maçaneta, a segurando com tanta força como se pudesse passar pra ela todos os sentimentos que me inundavam. Eu queria sair correndo e pedir para que não fosse - queria desesperadamente. Mas ali fiquei, imóvel e desamparada, azeda comigo mesma.
Ele parou. Hesitou por alguns segundos, encarando o chão. Olhou para trás e fitou-me, como se buscasse um motivo para ficar, como se me pedisse para fazer algo. Nada fiz. Abriu a boca escolhendo as palavras cautelosamente, os olhos tornando-se duas frestas apenas, enrugando a testa. Pensava com carinho, como se fossem as últimas palavras. Aquele pensamento me estremeceu. Ele juntou os lábios, optando por nada dizer. Sábia escolha, o silêncio. Ao invés, sorriu. Um sorriso que me fazia sorrir sempre, mas não naquele momento. Parada ali eu sentia um crescente desespero no peito, como se eu devesse dar uns passos para frente e abraçá-lo como há tempos não fazia. Cada vez que o assistia ir embora, sentia um aperto no peito, uma vontade de pedir para ficar um pouco mais. Pensava quando ele voltaria aqui de novo, sabendo que não demoraria muito. Mas não daquela vez... Ali eu senti saudade. Saudade dos ossos, músculos, pêlos, cheiro, voz, língua, dentes, força, caráter, paixão e tudo o que formava aquele corpo presente logo à minha frente, preso ao chão. Preso, brevemente, ao chão. Saudade do que não se fora ainda. Ainda, eu pensava. Como podia ter tanta certeza?
Sorri de volta – ou fiz qualquer coisa parecida. Parecendo exatamente aquilo que ele esperava, virou-se pra frente e não tardou a andar. Saiu por aquele portão, não olhou mais pra trás. Não olhou, literalmente, mais pra trás. Embrulhou o passado e deixou-o comigo. Desfez-se do presente. Levou consigo o futuro. Levou também, além de tudo, um pedaço de mim.
Boa noite, meu amor. Adeus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário