quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Nada mudou

Eu só queria dizer que ele causa inspiração demais em mim. Depois desses anos, ele ainda causa. Só queria dizer que o tempo passa, mas o que não passa são as borboletas no estômago me socando de dentro para fora, implorando para que ele chegue logo e depois barganhando para que ele nunca mais se vá. Qualquer minuto que ganho a mais com ele já é vitória. E eu sempre ganho, ele sempre cede, nos atrasamos para o ônibus, mas damos sempre mais um beijo, mais um abraço, sussurramos mais um "eu te amo". E não importa quantas vezes ele diga essa frase, todas elas me elevam e me envolvem e me matam de paixão. Saber que a pessoa que você mais amou na vida te ama de uma forma mútua é simplesmente indescritível.
Os olhos dele não têm uma cor definida, cada hora, cada local, em cada luz é diferente. No sol, são mais verdes do que os meus. O tempo inteiro são mais lindos do que os de qualquer outra pessoa. Ele é simplesmente espetacular.
E de ser tão simples, ele é tão tudo, tão lindo, tão mágico. Quando digo que quero três filhos, apesar de ele querer só dois, diz que faria qualquer coisa pra me fazer feliz. E ele faz. Faz mesmo. Achei que era só coisinha boba que todo homem fala pra encantar e descartar as mulheres, mas ele faz tudo pra me fazer feliz. E faz questão de explicar que a única coisa que pretende descartar é o nosso passado imundo e irrelevante, porque ele quer mesmo o meu futuro. O meu presente. E não cansa de repetir isso toda vez que eu sinto medo, insegurança ou fraquejo. Ele simplesmente não cansa de me provar isso.
E eu que sempre fui tão independente e tão displicente e tão desconfiada, entreguei meu mundinho todo de uma vez só na mão do desconhecido mais charmoso que já havia visto. Ele faz tanto jus a isso que me faz sentir as coisas mais lindas e quentes da vida. Eu o faço esquentar e queimar e explodir de tantas formas diferentes que já até perdi a conta...
Aprendi a melhorar, a improvisar, a respirar fundo nas situações difíceis. Aprendi que amar é tropeçar, fraquejar, cansar, chorar, repensar, sentir medo, meditar, sentir saudade, até sentir dor, mas nunca desistir. Amor de verdade é aquele que às vezes nos cansa, às vezes testa nossa paciência, às vezes machuca, mas nunca nos abandona. Não significa que você nunca vai pensar em terminar ou que nunca vai chorar ou que as brigas não serão feias, significa que no final nada disso vai importar.
Ele estará lá, te esperando na porta de casa, com os braços abertos e o coração escancarado, sabendo que nada mudou.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Contei pra ele

Ele diz que sou perfeita mesmo sabendo de todos os meus defeitos, que não são poucos. Ele ri quando eu espirro e acha o máximo quando faço cara de birra e escondo meu rosto entre as cobertas. Ele me pega no colo como se eu pesasse o mesmo que uma pena e não cansa de dizer que, se pudesse, me carregaria a vida toda no colo, pra ficar o mais perto possível dele. Hoje, brigamos no telefone pra ver quem desligava primeiro. Nenhum dos dois queria desligar. O que sempre pareceu tão ridículo tornou-se tão bonito...
Ele segura minha mão em qualquer lugar - nas festas, na rua, no carro e até na missa. Nas pouquíssimas vezes em que fui, ele segurou minha mão. E a sua mão dá quase duas da minha e meus dedos ficam doloridos de tão espaçados, mas é a minha vez de nunca cansar: seguraria sua mão pelo resto da vida.
Demorou, mas finalmente falei. Contei pra ele que dividiria uma cama de solteiro pra sempre com ele, que estava querendo acordar com aquele sorriso do meu lado todos os dias da minha vida, que eu aceitaria ter três filhos com ele mesmo sem ele nem ter pensado nisso ainda e que casar na praia seria demais, mas que eu queria também entrar na igreja com um vestido lindo de morrer arrastando no chão. Eu contei pra ele qual o nome que queria dar pra nossa primeira filha, falei que não me importaria de brigar em todas as viagens pra ver quem vai dirigir nosso carro, acabei desabafando sobre como eu imaginava nossa casa de praia, nossa lua de mel, nossas fugidas durante o trabalho. Eu olhei pra ele e disse que tinha certeza que jamais cansaria daquela risada leve, gostosa e contagiante, contei que queria mudar de cidade pra ficar mais perto dele e que já havia feito os cálculos pra ver a probabilidade dos nossos filhos nascerem com olho claro. Mas desde que eles se parecessem com ele, tivessem sua beleza, seu caráter, sua integridade, seu sorriso, seu bom humor... Eu nem ligaria pra cor dos olhos. Eu disse pra ele que dois anos não era nada perto do que eu queria passar ao lado dele, mas falei tudo meio vomitado, pra não dar tempo de desistir no meio, pra ver se ele não entende nada e eu tenha chance de pensar duas vezes.
Ele sorriu e, mesmo sabendo dos meus defeitos, mesmo sabendo que eu erro e tropeço e falo rápido demais, disse que também imaginava tudo assim, exceto pela filha que tinha que ser igualzinha a mim.
Eu não entendo o que ele viu em mim, mas eu sei exatamente tudo que vejo nele. Ele sabe que volto atrás quando sou contrariada e que morro de ciúmes de todo mundo, e mesmo assim me quer por inteira. Ele sabe que faço manha sem motivo e fecho a cara só pra ele me mimar, e mesmo assim ele adora isso. O homem que eu jurava que não merecia, me fez pela primeira vez a mais merecida da vida. Difícil é encontrar algo nele que eu não consiga amar, enquanto antes amar era o problema. Ele é apenas solução.

sábado, 24 de maio de 2014

Não foi amor à primeira vista

Quando o vi pela primeira vez, bem, faltou ar. Admito. O casaco amarrado em volta do pescoço e o cabelo irritantemente um pouco maior do que deveria e o sorriso impecável de quem só queria ser gentil. Eu passei a noite toda pensando nele e entrei em casa gritando pros meus pais: conheci o amor da minha vida!
Não foi amor à primeira vista. Certamente, não. Foram várias coisas; pensamentos e sentimentos e sensações estranhas. O tempo passava rápido e tudo ia acontecendo meio torto, meio errado, mas sempre fazendo sentido. Sempre me fazendo sentir. Mas não foi amor à segunda vista.
Quando ele me beijou pela primeira vez, mesmo eu estando relutante para tentar parecer difícil, explodiu algo dentro de mim que me fazia querer chorar e gritar e abrir os braços pra me entregar. Não era amor. Era tudo: o fato de se encaixar tão bem, de acontecer com tanta facilidade, de parecer tão certo. Eu só queria continuar ali, pra sempre; apesar disso, saí correndo.
Ele me ligou, veio atrás, me beijou pela segunda vez. No carro, em cima da mesa, no colo dele contra a parede. Eu respondi reciprocamente da forma mais intensa que consegui.  Só não me entreguei porque, bem, ainda não era amor. Não foi amor nem à terceira vista.
Eu liguei pra ele, corri atrás, senti a vontade mais absurda do mundo de me entregar ao desconhecido que não despertava amor, mas despertava todas as melhores sensações que eu conseguia imaginar. Eu queria ligar pra ele todo dia, então eu ligava, sem mistério, sem jogo, sem bagunça. A bagunça vinha quando a gente se encontrava.
Ele virou, literalmente, meu mundo de cabeça pra baixo. Tudo isso sem amor. Nem à quarta vista. Nem quinta, sexta, sétima. Eu olhava pra ele e meu peito explodia cada vez. E cada vez mais. E cada vez melhor. Eu não sentia necessidade de o amar. Eu nem queria.
Esquentou, esfriei, queimou, eu fugi, eu voltei, eu me entreguei. Toda. E não era amor. Nem meu nem dele. Não era amor, mas pouco nos importava, era algo muito mais divertido e atraente e elegante. Era novo e totalmente sincero. Nossos corpos se falavam como se nossas bocas não conseguissem expressar tudo. E nem tinha o que expressar porque não era amor.
Eu errei. Eu menti, e depois voltei e chorei e implorei, sem ele nunca saber que havia mentido. Compensei meu erro, culpada, apesar de não ser amor. Apesar de não ser namoro. Apesar de não ser nada além de entretenimento e tesão e distração. Talvez paixão...
Ele me aceitou sem saber meu erro, me aceitou depois de saber do meu erro e continuou me aceitando eternamente - sem ter amor. Nem na vigésima vez foi amor. Era leve e espontâneo, um procurava o outro sem pesar as consequências, sem pensar duas vezes, sem esperar o outro ligar primeiro. Dava vontade, batia saudade, eu ligava. A gente ligava, no começo, duas ou três vezes por semana. Passou a ser todos os dias. E depois todas as horas de cada dia. Eu o procurava, e cozinhava pra ele, o mimava, ríamos até a barriga doer e depois nos entregávamos um ao outro pela terceira ou quarta vez no mesmo dia. Incansavelmente.
Mas não era amor. Pela centésima vez, não era amor.
E não ligava se ele saía todo dia, se via outras mulheres, se encontrava outros olhos por aí. Eu gostava de tê-lo sem preocupação nenhuma, sem compromisso, e era sempre tudo recíproco. Intenso. Lindo.
Um dia eu acordei do seu lado, rindo, recebendo um beijo na testa com a cabeça apoiada em seu peito. Me assustei. O enxotei. Não era amor, de jeito nenhum.
Mas ele nunca rejeitava ou deixava cair na caixa postal uma ligação minha, respondia minhas mensagens, matava minha vontade a qualquer hora do dia. Ele me ligava e deixava de ligar pra qualquer outra pessoa e ignorava seu celular quando estava comigo; aos poucos percebi que ele ignorava também quando não estava comigo, menos quando era eu ligando. Eu sorria.
E quando os outros não nos importavam mais, e a gente chegava ao êxito, e você queria dormir comigo ao invés de me levar até a porta... Bem, acho que foi aí que passou a ser amor. Não foi à primeira vista, nem à segunda, e na verdade nem foi com os olhos. A gente se amou porque se sentia, se precisava, se queria. A gente se amou porque ninguém encaixava melhor no meu molde, porque ninguém te tirava mais do sério do que eu, porque nenhum beijo na vida se encaixou na primeira vez tão bem quanto o nosso. A gente se amava porque não precisava se amar, não havia necessidade. Nos amávamos pelos simples fato de que estarmos juntos era melhor do que separados e que não precisamos de um compromisso pra isso. Diferente de tudo anteriormente, o amor aconteceu antes, no meio e depois de nós, sem sabermos quando ele chegou ao certo, tendo a certeza de que ele não vai embora. Ele aconteceu porque o amor, quando tem que acontecer, acontece. Sem pressão, sem força, sem pressa. Apenas porque precisa acontecer.

domingo, 30 de março de 2014

Só com você

Você me perguntou inúmeras vezes o motivo de eu não escrever sobre você. Queria saber, insistentemente, o porquê de eu ter feito tantos textos para os outros e quase nenhum para você. Bem, aí está sua resposta. É quase uma maldição. Quando você começa a sair pela minha boca, eu começo a sair pelo seu coração. Começa a dar tudo errado.
É por isso que evitei tanto tempo te pôr nas minhas palavras escritas. Eu gosto mesmo é de escrever do que já passou, do que já deu errado. Até do que anda dando errado. E é por isso que agora você está aqui, por livre e espontânea vontade minha. Porque está tudo dando errado.
Eu queria poder voltar atrás e apagar tudo que já escrevi para você, independente de terem sido poucas coisas. Queria poder voltar atrás e desfazer todos os meus erros e todas as minhas mentiras, que talvez não tenham sido tão poucos. Esperava que o tempo e todo esse sentimento pudesse lavar e levar embora o passado, te fazendo me perdoar por não ter acreditado em você desde o primeiro minutos juntos. Eu não tinha como saber. Não tinha como te conhecer em tão pouco tempo.
Felizmente, as coisas mudaram de um tempo pra cá. De um ano pra cá. Não que não sejamos ingênuos e infantis, mas com certeza não somos mais tanto. Foi um dando pezinho para o outro que escalamos essa jordana juntos. Agora é difícil voltar lá pra baixo cada um por si.
"Difícil, mas não impossível", foi o que você me disse. E você realmente pensa dessa forma? Ou quer me atingir com todas as armas que o mundo possa proporcionar? Porque se for isso, eu te perdoo. Te perdoo e ainda te ajudo a me matar aos poucos, desde que isso te traga de volta. Não por inteiro, apenas um parte pequeninha sua. O resto eu garanto que dou um jeito, te convenço, te conquisto de novo e de novo e mais uma vez. Eu não me cansaria de você nem que tivesse que fazer isso todos os dias, pro resto da vida.
E pensando bem, não é uma má ideia. Infelizmente preciso do seu consenso pra isso. Preciso que você queira ser amado e conquistado todos os dias. Eu te provaria todo meu amor e te faria sentir no lugar mais seguro do mundo. Exatamente como você faz comigo.
Talvez assim eu não precise mais te pôr nos meus textos, te pôr pra fora, te expor pros outros. Talvez assim eu possa só te pôr pra dentro, de todas as formas. Possa te manter perto de mim.
Eu não tenho certeza do que to falando porque é a primeira vez que me sinto assim. Não sei se é burrice, falta de experiência ou cegueira causada pelo amor, mas nesse momento te prometeria qualquer coisa que você me pedisse, menos ficar longe. E só não prometo isso porque não consigo. Não dá.
Mas todo o resto, bem, eu me esforçaria. Menos ficar longe, porque além de não conseguir, eu também não quero. De jeito nenhum. Você é a luzinha que apareceu no fim do meu túnel e me mantém em movimento. Parar agora seria terrível. Não dá, sabe?
Sei que as coisas andaram meio difíceis ultimamente, mesmo antes dessa última explosão. Sei que estava tudo meio torto, meio desgrenhado, que cada um pensava em soltar o seu lado da corda, mas ninguém o fez. Não o fizemos porque seria triste demais largar a corda e ver o outro caindo do outro lado, afinal, te ver se machucar simplesmente me machuca muito mais. Eu não largaria a corda.
Se você largar a corda... Bem, daí a decisão é toda tua. Vou ficar esperando você voltar pra restaurar o balanço, o equilíbrio. Se for preciso, seguro as duas pontas por um tempo, segurando a barra pra nós dois. Te dou o tempo que for necessário.
E olha que paciência nunca foi o meu forte. Sempre preferi estourar e jogar tudo pro alto. Mas com você dá medo de jogar pro alto e não voltar. Ou jogar pro alto e voltar em muitos pedacinhos e eu não conseguir catar todos eles de novo. De ficar faltando alguma coisa. Dá medo de tudo que não nos pertence nesse momento.
A única coisa que me dava medo e agora me faz sonhar, é o futuro. Você me ensinou que o futuro é lindo se pensado da maneira correta e do lado da pessoa certa. Do amor da minha vida. E agora eu consigo pensar no futuro. Difícil mesmo é não pensar nele.
Mais difícil ainda de não pensar, é em você. Mesmo em meio a turbulências e buracos e erros e uns 800 km de distância, é literalmente impossível não pensar em você. Como a gente esquece quem mais se ama?
E se um dia te prendi, foi por medo de te deixar partir. De te ver partir. Então eu te prendia para que você ficasse embaixo da minha asa, sem chance nenhuma de partir. E olha lá agora, você partindo, mesmo eu te prometendo toda a liberdade do mundo...
Nesse momento não sei o que falar pra te fazer mudar de ideia. Talvez nenhuma palavra no universo te faça mudar de ideia. Então deixa eu acariciar teu cabelo, te fazer um cafuné, encher teu corpo de beijinhos e me enfiar embaixo dos teus braços pra fugir do frio. Deixa eu ir até aí, sofrer horas de viagem, chorar até a última gota e prometer tudo o que você já sabe. Deixa eu te provar, mais uma vez - porque eu sei quantas vezes já te provei isso - o quanto você pode confiar em mim. Não podia antes, mas agora pode. Há muito tempo. Deixa eu te provar que confiança demora, mas se restaura, se recomeça, se refaz. Demora, é difícil, mas como você mesmo disse "difícil, não impossível". Deixa eu tentar te fazer por mais um dia o homem mais feliz do mundo, com minhas comidas meio sem sal e minha massagem com as mãos pequeninhas, com meu corpo te amando insistentemente, com meu coração sangrando e explodindo por você. Por tudo isso que você o causa.
E como eu te disse: nunca senti nada assim. Coisas tão boas ou tão ruins. Meus desesperos nunca foram tão grandes; quando você não atende o celular por horas eu choro de preocupação, quando você vai mal numa prova me encho de culpa, quando você chora eu sinto vontade de morrer. Tudo que te atinge me atinge muito mais. Se eu pudesse te proteger de todo o mal do mundo, eu seria teu maior escudo, apesar de ser minúscula. Me transformaria pra e por você.
E não posso garantir que seria ou vou ser a única a fazer tudo isso. Você é digno disso e muito mais. Muitas se matariam pra estar no meu lugar e fariam o mesmo. Só que eu gosto quando você pensa que eu sou a única mulher que existe capaz de abrir mão do seu verão e viajar horas pra ficar com você por uma noite. Eu amo quando você diz que não me merece, apesar de eu não te merecer, e gargalha quando morro de ciúmes por te achar o homem mais lindo e espetacular do mundo. Amo como você valoriza tudo que eu faço, mesmo que às vezes nem eu mesma tenha percebido. Amo cada pedacinho seu, absolutamente tudo em você. Como sempre dissemos um para o outro, o que temos é único. Ninguém entende porque ninguém tem. Jogar tudo fora seria patético, até mesmo pra nós. Então nos agarramos ao amor, eu me agarro a ele, esperando que tudo permaneça assim. Esperando que eu tenha a chance - talvez outra - de te merecer.
E pronto, cá está você, em um dos meus maiores textos! Que decepção. Quem sabe você muda aquela história de que nos meus textos só está o futuro passado. Porque quero você no passado, contanto que esteja no presente e no futuro também. Quero ainda me inspirar em você pra muitas outras coisas. Quero ser tua eterna inspiração, amor. Amor.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Teria te encontrado

Eu teria te encontrado. Eu teria te conhecido de qualquer forma. Se não fosse naquela cidade lotada, seria na tua mais pacata. Se não fosse naquele táxi barato, teria sido na esquina. No banco. Na praça. Teria sido tirando dúvida com algum professor ou sentando do lado na sala de estudos. Você poderia ter conhecido mais cem meninas naquele teatro, eu poderia também, mas ele só aconteceu pra nos encontrarmos. Cada erro tornou-se um acerto, mas tão certo, que se tivesse dado certo na hora não teríamos dado certo também.
Se eu não tivesse te encontrado naquele teatro, seria no shopping. Seria no cinema, no escurinho do cinema, mesmo assim. Eu teria te encontrado numa festa muito bêbada ou muito sóbria no mesmo local de vestibular. Você teria me notado naquele mesmo dia em qualquer outro lugar, mesmo sem termos nos notado o ano todo vivendo tão perto um do outro. Nós sorriríamos tímidos, apesar da sensação de nos conhecermos uma vida toda. Afinal, seria só mais uma vida que estaríamos nos encontrando...
Eu teria que passar por todas as minhas decepções, pelas relações mal sucedidas, pelos clássicos cafajestes e términos desesperados. Eu teria que conhecer o mundo todo, achando que conhecia o mundo todo e todo mundo. Eu teria que sentir um pouco de tudo, achando que já sabia o gosto de todas as sensações. Teria que achar tudo isso pra que você pudesse chegar de mansinho e me abraçar no meio dos meus gritos, até então desamparados. Pra que eu pudesse descobrir que todas as coisas ruins valeram a pena, porque aquele abraço me completava. Me cobria, eu desaparecia, mas me encaixava. Eu chorei de medo de você. De todas as pontadas de coisas novas que você me trazia e me mostrava e me regava. Eu, que pensava conhecer um pouco de tudo, muito de todos, não sabia de nada. Você trouxe o carinho, o amor, o afago, o afeto, o ânimo, o apego, a atração, a bondade, a inspiração e tudo que eu consigo imaginar. Eu li que os seres humanos tem 356 sentimentos e aquilo não fez sentido nenhum pra mim. Só 356? E todos aqueles outros milhões que você me causa?
É por isso que eu sei que mesmo embaixo da chuva, naqueles dias onde a cidade está alagada e ninguém sai de casa, eu teria te encontrado. Eu teria te conhecido na praia, num barzinho, mesmo se nós dois fôssemos comprometidos. Estava escrito. Eu teria te encontrado... Porque o que foi feito pra acontecer, quem foi destinado a ficar junto, nada nem ninguém separa. Nem todos os 356 sentimentos.