terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tempo

Tempo, tempo. Vai, vem, me domina, me abandona. Me relembra, me esquece, me ama e me ignora. Maldito tempo que não tem limite nem hora. Passa, marca e simplesmente vai embora. Me pergunto se ele vai parar, se um dia vai me entender. Mas nem me escuta, só traz o passado e o tira de novo sem querer. Traz o futuro e desarruma os fatos. Me perco. Me acho. E me encontro tão perdida quanto o vento no furacão, a chuva no verão. Sem perceber, me encaixo nele tanto quanto me encaixava em você. E mesmo assim, sem piedade, o imperdoável tempo de mim tirou você. Tempo sem te ver, tempo sem te beijar. Tanto tempo que nem lembro mais. Faz falta. E a falta dói, machuca, corrói. A falta me assombra e me tira o sono. Me faz implorar pra voltar no tempo. Mas o tempo não volta - me consolo.
Não, o tempo me deixa estendida no chão chorando minhas mágoas. Não estende a mão nem oferece ajuda, assiste a cena enquanto não para. Não para mesmo, independente do quanto eu peça. Sussurra no meu ouvido: “eu não paro, mas só eu curo. Quanto mais rápido eu correr, mais rápido te tiro desse escuro. Dessa escuridão, sofrimento. Te trago de volta aquele sorriso e todo e qualquer sentimento.” Quero acreditar, tento. Disseram-me que o tempo não cura, só desloca o incurável do centro das atenções. Choro enquanto lembro que o tempo também levou embora meu amor, minhas paixões. A esperança, o calor. Trouxe-me direto ao inverno, a esse frio espantoso que machuca a mão. Que machuca o peito, machuca o coração. Junto ao frio do inverno, ele te fez frio também... Friamente falastes que não tinhas tempo pra mais ninguém. Nem pra mim, nem pra aquela, que o tempo agora era curto e que não podia desperdiçar com miséria. Miséria, sim, me comparastes a isso, mas não me importei e te pedi mais tempo. Comigo, ao meu lado, me esquentando do frio, me livrando do gelado. Do gelado sentimento que antes me queimava o peito, e que agora, você no seu momento frio, nem mais chama de sentimento. Cogitei a ideia de dar-te mais tempo, mais horas no dia, mais dias na semana, pra parares de ser birrento. E mesmo sabendo que tempo não podia comprar, tinha certeza que se mais tempo lhe desse, comigo não ia gastar. Usaria essas horas para estudar, comer, dormir. Sair, beijar, sorrir. Falar com todos, com qualquer um. Fugir de mim, sem receio algum.
E essa falta de receio que me preocupou, porque tempo nunca lhe faltou. És tão decidido, objetivo e intocável, não para por ninguém, nenhuma vontade é insaciável. Quando usastes o tempo como desculpa, percebi que do tempo não era a culpa. Era minha. Sempre foi e ainda é. Mas culpei o tempo, o ignorava e odiava pelo meu peso na consciência. Pois é. Acho que nunca admiti estar errada. Porque errado mesmo é o tempo, que não para por nada. Que não parou naquele dia, quando estava tudo maravilhoso. Não parou naquele dia, quando minha cabeça, no seu peito, sentia-o subir e descer silencioso. Ouvia seu coração bater desregulado, um suspiro meu e o tempo já havia passado. Acabou tão rápido quanto começou. Viramos desconhecidos tão rápido quanto viramos amigos. Amigos que trocaram beijos, carícias, sentimentos. Vontades, sorrisos, pensamentos. Olhares, mãos dadas, respeito. E tão rápido quanto começou, já estava tudo desfeito. Espero que não tenha acabado. Espero que o tempo que passa tão rápido quando estamos juntos, passe igualmente enquanto estivermos separados. Porque eu vou esperar, sempre esperei. Não queria me tornar dependente desse pouco tempo, de você, mas contra tudo, todos e o tempo, simplesmente me apaixonei.

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