sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Estranho idealizado

Mais uma vez, o escuro do meu quarto parece doer mais os olhos do que a própria luz. Ele faz funcionar um cantinho do cérebro que fica esquecido durante o dia. O escuro me lembra melancolia. O escuro me traz melancolia. E eu, melancólica, encaro desesperada o teto que parece breu, apagado e descolorido. Minha vontade é de sair dali, de não lembrar o que eu sei que está por vir; mas braços e pernas criam desejos próprios e não movem um centímetro. Lágrimas involuntárias correm e escorrem e molham meu corpo rígido. Eu não te amo mais. Eu nunca amei. É tudo invenção dessa parte da minha mente que insiste em criar coisas. Você é uma coisa criada por ela. O que eu sinto foi criado por ela. Parte suja e indesejada. Parte de mim que insiste em aparecer nessas noites mais escuras e sombrias, aproveitando-se da carência, da solidão, do coração ferido. Igualzinho a você, exatamente como você faz. Criação imunda da minha cabeça. Você não passa disso. Um infeliz que suga a alma dos outros, a felicidade. Sugou a minha e não se deu por satisfeito ainda. Continua com suas visitas noturnas, na madrugada. Seja numa ligação ou num pensamento. Você está sempre lá. Meus olhos focam tempo demais o preto do meu quarto, a ponto de criar formas e rostos e dores. Você é dor, é vício, é ilusão. Você é nojo, repulsa e desilusão. Você dói, você machuca. É a parte mais maldosa da minha cabeça, o pedaço em carne viva que nunca se recupera. É a doença sem cura e a vida sem realmente viver. Você é meu lado ruim, meu lado perverso e nojento. Acha que tem poder, que tem domínio. Mas você não tem nada. Porque você, sem mim, não é absolutamente nada. O menino que eu conheci, era realmente apenas um menino. Depois de tanto tempo, continuava um menino. Não crescia, não mudava. A magia negra que me rondava nunca foi sua. Minha mente insana fez você assim. Fez uma imagem sua, uma esperança, uma personagem de você. E eu me apaixonei por ela. Pelo sujo nojento safado ordinário vigarista moleque pervertido assanhado cachorro extremista sem vergonha imaturo selvagem repugnante babaca e vagabundo que eu idealizei em você. Não foi por você. Porque, sabe, se eu te colocasse numa multidão de homens, perderia-te. Você se misturaria à todos os outros, por ser igual, por ser descartável e de caráter tão confundível ao de qualquer outro homem. Você, comigo, na minha cabeça, é muito. É meu sonho, meu pesadelo, minha contradição. É meu mar profundo - e escuro - onde pretendo me afogar. É vida, é morte, é uma linha tênue. Mas, sem mim? Sem mim você não é nada.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Erros

Eu errei. Errei sim. Errei uma, duas, três vezes. Talvez mais. Erros perdoáveis, erros gravíssimos, erros que nem contam. Ninguém sabe deles. Uma ou outra pessoa talvez, as que erraram comigo. Elas sabem. Elas entendem. Algumas delas querem repetir o erro e tentam me convencer a isso. Não conseguem. Não costumo errar duas vezes. Pelo menos, não com a mesma pessoa. É inevitável. Algumas vezes foram inevitáveis. Mais forte do que eu. Outras eu nem me recordo direito. Mas são coisas que você não vai descobrir. Não por mim. Quem sabe você veja no meu olhar, talvez eu entregue tudo por ali. Se você vê, fingiu até hoje que não. Mas se espera confissões, está perdendo tempo. Porque eu errei. Mas meus erros são só meus, continuarão assim. E, meu amor, não garanto que vou parar. Porque, como eu disse, às vezes é mais forte do que eu. Me consume, me possui. Não me arrependo. Não é exatamente arrependimento. Está mais para uma dó, uma vontade de não errar mais, por não ser justo com você. Mas isso não me impediu de continuar errando. Não foram muitos equívocos, apenas alguns. Que você não perdoaria. Que você jamais entenderia. Se soubesse deles, meu amor, deixarias de ser meu amor. Acabaria aquilo que temos, apesar de ser tão lindo, tão mágico. Não quero ser um monstro para você. Não para você. Porque, sim, talvez eu seja um monstro. Mas não me julgue. Nem sequer me questione sobre o que estou falando aqui. Da minha boca não sairá uma palavra. Mas não me odeie. Não me odeie porque eu te amo, te admiro. A verdade dói, meu amor. E você não esta acostumado a isso. Fica como está. Não seja ingênuo de insistir nessa bobagem. Insista em nós. Insista sempre em nós.

sábado, 5 de novembro de 2011

Nossa batalha

Tantas vezes senti vontade de desistir. Desistir da gente, desistir do amor. Sei que esse é o verbo do perdedor, mas acho que perdi. Não a guerra, mas a batalha. A nossa batalha. Porque eu não sei se consigo continuar em pé depois de tanto confronto, não sei se consigo ser forte por nós dois. Eu tento, sempre tentei. Mas as vezes eu sinto vontade de desistir.
Tantas vezes nos perguntamos se ainda valia a pena. Ficarmos juntos, lutarmos por nós. E, por mais que tenha momentos em que quase abrimos mão de tudo, mas decidimos continuar, da certo. A gente da certo. Permitimo-nos mais uma chance, mais uma vez, pra ver se agora funciona. E sempre funciona, sempre da certo. Tornamos melhor do que já era.
Mas então vem as brigas e as oposições e o egoísmo. E eu não sei se devo continuar. Eu não sei se gosto tanto assim de você. Porque eu amava, sabe? Eu amava você. Mas não aguento seus momentos de grosseria e suas explosões repentinas. Eu preciso de paciência. Exijo paciência. E talvez você não tenha mais paciência. Não comigo, não com nós dois.
Admito, tentei desistir. Tentei esquecer da gente, esquecer você. Tentei jogar tudo pro alto. E joguei. Mas sempre voltava pra mim, como se o destino me implorasse mais uma chance. Pra nós. E eu dava. Não só porque eu te amava, mas porque te amo ainda.
E foi assim com alguns namorados, rolos, casos de amor. Eu dava mais uma chance, mesmo não querendo dar. Eu perdoava da boca pra fora enquanto o coração chorava silencioso dentro do peito. Eu não queria continuar, o destino não queria que eu continuasse. Por isso elas acabaram. As histórias. As minhas histórias com outros que não são você. Acabaram porque eles não são você.
Quando eu penso em abrir mão do nosso amor, você chora sem realmente chorar. Chora com a alma, chora com as palavras. E eu choro junto, porque sei que vale a pena. Sei que a gente vale a pena. Você também sabe, amor.
E quando a vida me pergunta porque eu ainda não desisti de nós, eu não tenho resposta. Não que não haja uma resposta, mas são respostas demais, motivos demais. A vida entende o meu sorriso. O sorriso que você criou, que você fez aparecer no meu rosto.
Depois de tantas lágrimas e tantas derrotas, de anos de escuridão, você apareceu. Eu e você criamos "nós". E, independente do quanto isso dure, já valeu a pena. Valeu a pena ter chegado ate aqui com você. Os momentos bons compensaram os ruins, nossos amores compensaram as brigas. Quando acabar, não vou ter perdido a batalha. Vou ter ganhado um amigo, um passado bom, alguém que me salvou. Vou ter ganhado um amor, lembranças boas. Vou ter ganhado você. Que valeu a pena. Valeu as lágrimas e a irritação e a carência. Vou ter ganhado você, que não valeu só a batalha, mas valeu a guerra toda.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Para alguém entender

Vem cá, senta aqui. Eu sei que a vergonha é grande, eu também tenho, mas não sei o que você faz que me seduz a te falar essas besteiras. Seduz-me a te seduzir, te manipular, jogar com teu corpo novinho. Esquece a vergonha, ignora, a tranca em algum lugar. Mas não joga a chave fora, não. Porque tem que ter vergonha, é até bom. Mas com os outros, não comigo. Vai, ignora-a. Escuta-me, me entende. Obedece, amor. Senta aqui do meu lado. Chega mais perto. Sente o cheiro do meu perfume na minha nuca, repara no brinco que eu coloquei. Chega mais perto, até seu nariz roçar na lateral da minha mandíbula, até que sua voz seja um sussurro no meu ouvido. Passa sua mão ao meu redor, num meio-abraço, com a sensação de abraço inteiro. Beija meu ombro nu, ou beija o imaginando assim. Beija meu pescoço, minha orelha. Sinta-me, deixa eu te sentir também. Deixa-me provar do veneno que me fez vir até aqui falar baixinho meus desejos. Tira essa blusa, me deixa lamber teu peito, morder tua barriga. Não, não me pede para parar. Eu sei que não posso, mas eu quero. Deixa-me querer, deixa eu me atrever. Pega-me no colo, me encosta em qualquer lugar. Muito rápido? Ou devagar...? Digo, quer que eu volte pro início? Voltamos então, meu amor. Mas olha pra mim. Encara meu olhar, não foge desse abismo. Deixa ele te consumir, te puxar, te tentar... Isso mesmo, chega mais perto e esquece a insegurança. Porque se você não sabe, eu sei por nós, sou segura por você. Temos tanto tempo, mas temos que ser rápidos. Porque eu tenho muito pra fazer, outros jogos pra jogar... Então para com essa marra, segura meu cabelo e beija minha boca, me deixa louca, tanto quanto estou enlouquecendo com essa distancia entre nós.

Ou fica aí, parado, amedrontado. Vendo-me voltar para os braços de quem eu nunca deveria ter entrado.

domingo, 11 de setembro de 2011

Aquela época

Não queria que você ligasse. Não queria mesmo. Não queria te ver, não queria te ouvir, não queria te sentir. Arrepiava só de pensar nisso. Um arrepio ruim. Pelo menos, eu queria que fosse ruim.
Lutei tanto pra conseguir isso. Esse pavor de você, te evitar. Enganei-me, o máximo que pude, acreditando que tinha finalmente conseguido isso. Mas o meu pavor era de nunca mais receber ligações suas ou de passarmos um dia um pelo outro, seja onde for, e você não me reconhecer. Não lembrar tudo – e tanto – que vivemos. Juntos. Ah, pavor. Terror. Aterrorizava minhas noites.
O telefone tocava. Não era você. Nunca era. Nunca mais foi. Mas costumava ser, sabe, naquela época.
Época que eu reclamei tanto de ti. Mas tanto, tanto. Mal sabia eu que as poucas ligações suas que eu recebia seriam o bastante hoje, até demais, quem sabe seriam tudo. Porque você costumava ser tudo. Pra mim, pra outras. Elas nem sei hoje, mas quanto a mim... Ainda suspiro, revoltada, teu nome.
Não tenho mais mensagens suas – não que eu tivesse tomado coragem de apagá-las, mas quando troquei de aparelho elas sumiram, feliz ou infelizmente, automaticamente -, não tenho mais notícias ou qualquer detalhe da tua (nova) vida sem mim. Se não mudou de perfume, ainda lembro-me dele. Do cheiro. Se tua voz não ficou ainda mais grossa, posso quase senti-la sussurrar novamente na minha nuca. Sabe, igual àquela época.
Maldita época. Tudo parecia difícil, e era difícil mesmo, mas só o comecinho disso. Deixamos a pedrinha ir rolando e virar uma enorme bola de neve. E eu, com esse tamanho todo, não consigo sair dessa bola.
Quantas vezes achei que ainda amava. Talvez ainda amasse. Talvez não. Quanta ingenuidade. Odiava-te com todo o coração, mas era só você me abraçar que ficava tudo bem. Porque eu só precisava de você.
Que clichê. Que meloso e ridículo. Eu posso ter amado. Eu amei, definitivamente. Mas foi isso. Foi, já passou. O que eu sinto hoje é vontade de sentar e conversar com você por horas e dias, sobre tudo o que aconteceu, os motivos, as intenções, os sentimentos. Conversar tanto até a ponta da língua ficar dormente e a mente confusa. Sabe? Como fazíamos... Naquela época.
Liga, aparece, me manda uma mensagem. Deixa eu te ver. Deixa-me saber como você ta. Curiosidade, sabe? Não some, como costumava fazer. Não erra, como costumava fazer. Faz diferente. Diferente de tudo daquela época. Eu entendo. Eu espero. Eu supero quando você resolver ir embora de novo. Igualzinho como eu fazia. Naquela época.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Treinada Para Matar

Naquele dia o espelho, definitivamente, não estava querendo me ajudar. As olheiras fortemente marcadas, os lábios rachados, o cabelo opaco e com pontas duplas, a pele seca, os quilinhos a mais, o esmalte pela metade nas unhas, as espinhas que resolveram aparecer esta manhã no meu rosto... Quem não tem um dia como esse? Um dia infeliz, de merda, como esse? Afinal, ganhar na mega-sena que é bom, nada. Ser amada do mesmo jeito que amamos, impossível. Ser a única em qualquer situação: chance zero. Não seria justo no quesito “péssimo dia” que eu seria a única, não é? Espero que não, pelo menos.
Briguei com meus pais antes de sair para a escola. Com meus irmãos no caminho para a escola. Com meus professores na escola. Com meus amigos depois da escola. E, finalmente, com meu namorado, que graças a deus não tem nada a ver com a maldita escola.
Não consegui fazer nem um simples exercício de matemática. Nem a redação. Nem desenhos no canto da folha. Estava tudo complicado demais. Tudo chato demais.
Saí de casa pra ver se me acalmava, porque eu estava brava. Não sei com quem, nem por que, mas só a cara da minha empregada já me dava enjôo. Aí, olha que bom, tinha um pombo desgraçado na minha frente na calçada; eu não vou desviar do pombo! Então eu o chutei. É, isso ai, chutei mesmo.
Ta, na verdade não chutei, não acertei o bichinho, mas enfim. Finge que eu chutei, porque só de lembrar da velhinha rindo de mim errando o pombo, dá vontade de voltar lá e chutar ele de verdade. Não que eu tenha coragem de fazer isso com ele. Mas, nesses dias... Sei que as mulheres me entendem.
Depois foi a vez do senhor na fila do sorvete me irritar. Ele estava pagando com moedinhas. De cinco centavos. CINCO CENTAVOS. Contando uma por uma! Não agüentei os dez (dois) minutos que tive que esperar, passei na frente, paguei o meu sorvete e o dele. O mal educado nem me agradeceu. Ficou lá, me olhando, com os olhos esbugalhados. Eu não fazia de idéia de que estava tão feia assim. Ou minha cara de irritação deve ter assustado ele, mas tanto faz.
Com o sorvete na mão, pronta pra devorar até o guardanapo, começou a cólica. Sabe? Cólica. Cólica. Cólica. Cólica. Cólica. É SÉRIO, DÓI MUITO. Joguei o sorvete fora, fui pra casa chorar no colo da minha mãe e pedir uma bolsa de água quente.
Claro que eu me esqueci que havíamos brigado de manhã. E eu, orgulhosa, não aceitei ajuda. Fiquei umas duas horas achando que ia morrer, embaixo dos cobertores. Até que eu dormi.
Acordei me sentindo completamente diferente do dia anterior. Cabelo, unhas, lábios, pele, rosto e humor renovados! E justo naquele dia maravilhoso ninguém quis falar comigo. Ingratos, eu pensei. Aí fui ao banheiro e vi. Desgraça. Devia ter percebido antes.
Não mexa (discorde, fique no caminho, brigue, ignore, fale) com uma mulher na TPM.

domingo, 1 de maio de 2011

Relatos de um coração


Nossa diferença de idade nunca foi um grande problema pra mim. Nossas conversas, nossos beijos, nossos carinhos, desejos e pensamentos sempre se encaixaram muito bem. Bem demais, pra ser sincero. Ela tinha alguma coisa especial, alguma coisa que me fazia pular e alucinar toda vez que a via. Ninguém entende. Eu ficava acelerado, batendo freneticamente. No começo, eu concordava com o cérebro. Nós achávamos que dessa vez era diferente, que aquela menina ali ia ser a eterna paixão das nossas vidas, e tudo mais. Chegamos a essa conclusão depois de ver que, por mais que os dias se passassem, os meses, eu continuava a alterar minha rotina diária de batimentos só de olhá-la. Tão extravagantemente linda. Ela fazia cada detalhe seu ser mágico; suas pernas, suas curvas, o jeito de mexer o cabelo, de piscar os olhos, o sorriso... Ah, o sorriso. Não o ver era como se meu sol não tivesse nascido, como se o calorzinho que me aquece não estivesse ali, e eu ficava frio. Mais frio do que gostava de ser. Eu era viciado naquele calor, naqueles olhos, no sorriso, no cheiro. Era – sou – completamente dependente dela. E era só ela, só aquela voz, que me fazia encolher, aumentar, explodir de emoção. Foi ela que me despertou de um sono profundo; de um sono que eu não havia acordado antes. Ela me fez nascer, me fez sentir. Ela me fez amar.
Não sei direito o que aconteceu, ou como. Foi rápido demais para eu acompanhar. Minhas conversas com o cérebro passaram de harmonias para discussões. Fortes discussões. Eu chorava noite e dia, cada dia mais gelado, mais sozinho. Sentia falta dela, do meu sol, meu calor. Eu era o oposto de todo o resto do corpo, queria agir de uma forma, mas ele agia de outra. Se um dia me escutou e me obedeceu, esses dias são passado agora. Ele só se lembra da minha existência por causa da dor que eu causo no seu peito; caso contrário eu passaria, agora, despercebido por seus sentidos. Passei muito tempo sem ter um bom motivo para bater mais forte. Minha única esperança era quando o celular tocava e eu saia do controle, acelerando, achando que era ela. Mas nunca era. Nunca mais vi o nome dela naquela telinha luminosa. E isso só fazia eu me fechar mais, me tornar indiferente pra todos... Menos pra ela.
Foi assim, sem querer, depois de algum tempo, que eu enxerguei. Aquela sombra, aquele cheiro, aquele olhar sedutor. Impossível não reconhecer. Ela sorriu ao ver meu corpo, inalou fortemente meu perfume, e sorriu novamente. Eu, rápido demais no momento, sentia seu coração entrando no meu ritmo. Batíamos juntos, alinhados. Exatamente como era antes. Mas ela não chegou perto, muito pelo contrário, seu sorriso tornara-se um sorriso triste e ela foi embora. Eu fiquei minúsculo, apertado, tão compactado. Foi um aperto horrível pensar em perdê-la de novo, em ficar mais tantos dias sem aquela sensação. Suplicava, sem respostas, para que ela voltasse. Mas não, ela não voltou.
Eu não tinha explicações, não sabia ao certo porque ela ficara tão distante e me deixara tão desordenado como agora. Aquele sorriso triste eu conhecia bem, já havia feito muitas sorrirem assim. Inclusive ela. Mas era diferente, ela sempre voltava. Perdoava meus erros, minha loucura, minha falta de comprometimento. E tudo voltava ao normal. Mas não dessa vez, não dessa vez. Ela decidira ir embora, sem retorno, sem mais chances. Os beijos que antes ela não me negava, os carinhos, os afagos, hoje eram impossíveis de conseguir. Ela virava o rosto, tirava a mão, pedia para o meu corpo não tocá-la; e doía. Ela foi a primeira a me tocar, me encantar, me esnobar e me humilhar. Primeira e última. Mas estava certo quanto a uma coisa: não importa o que acontecesse ou quem entrasse e saísse de nossas vidas, ela era a eterna paixão da minha vida. Sempre me tirará do meu ritmo normal. Com ela, serei um coração alucinado, mas dilacerado...
Enfim entendi o significado de “coração quebrado”. O amor dói.

terça-feira, 29 de março de 2011

Sem indiretas


Disseram-me uma vez que é fácil seguir em frente, que o difícil é não olhar para trás; que espiar o passado é sofrer duas vezes. Que eu deveria parar de idealizar o amor em vez de encontrá-lo, porque às vezes ele é só uma escolha e não sempre um raio que vai cair do nada. Falaram-me que o amor... Que talvez o amor verdadeiro seja só uma decisão - decisão de correr algum risco com alguém.
Cheguei à conclusão de que para ter qualquer mínima chance no futuro - seja no amor, seja comigo mesma -, eu tinha que perdoar, esquecer, apagar... Eu tinha que fazer as pazes com o passado. E precisava de tempo pra isso, muito tempo. Precisava que fossem pacientes comigo, enquanto eu batalhava internamente procurando o remédio pra sarar todas as ferias que estavam dentro de mim. Bem, ninguém havia demonstrado tal paciência até você. Mas não, não quero falar sobre você. Pelo menos não agora... E espero que nunca queira. Porque, sabe, meus textos são sempre falando daqueles que me magoaram e deixaram saudade. Não quero isso pra nós. Se for pra sentir saudade, que seja apenas por alguns dias e eu te encontre segurando um buquê de flores no nosso reencontro. Não preciso colocar você em palavras, não quero. Guardo isso para aqueles que estão ou pretendo deixar no meu passado. Quanto a você... Está perfeito no meu presente.
Sempre soube da verdade, ela é tão óbvia. Ela está escancarada, fazendo com que eu lembre todo dia de que a realidade é que entreguei meu coração há muito tempo e nunca o recuperei de volta. E não importa quantos dias, meses ou anos se passem diante dos meus olhos, a certeza de que será sempre assim já se mudou e instalou no meu peito. No lugar onde costumava morar meu coração. Talvez seja esse o raciocínio mais lógico para entender o porque de não conseguir me entregar a mais ninguém. O porque de ter deixado tantos corações partidos após perder o meu.
Não sei se os fins justificam os meios, ou os meios justificam os fins. Eu sei que o fim nunca é bom; caso fosse, seria o começo. E que eu não preciso ter trinta, quarenta ou cinquenta anos para ser madura; muitas vezes as lições de vida trazem mais maturidade do que os anos.
Por último, só queria registrar uma dica para todos os homens: "Quando achar uma mulher boa demais para você, case com ela."

quarta-feira, 23 de março de 2011

Dica

Se querer fosse poder, eu poderia muito. Esqueceria amores que sei, infelizmente, que são inesquecíveis. Que vão arder sempre no meu peito, por menor tensão que causem, cada vez que eu ouvir seus nomes. Se eu pudesse... Eu gostaria mais de pessoas que gostam muito de mim, e menos daquelas que não gostam tanto assim. Porque, sabe, depois de algum tempo nós chegamos a conclusão de que sofrer é desgastante. Que pode ser um pequeno desafio, uma forma de nos fazer continuar no jogo só para conseguir aquilo que não nos é dado nas mãos, mas mesmo assim, às vezes - na maioria das vezes -, não vale nem um pouco a pena. O ser humano tem essa mania irritante de não gostar do fácil, de querer sempre o difícil. Mas...
Mulheres: Se ele não gosta de você, se fica com outras na sua frente, se diz que não está "pronto" para um relacionamento, se fica com você e com outras ao mesmo tempo, se está claramente te enganando, iludindo, mentindo, fingindo, prometendo e não cumprindo, ou não tão claramente assim... Bem, ABRA MÃO. Deixe-o ir! Pare de correr atrás porque tem gente que é caso perdido. E hoje em dia, a maioria dos homens são. É o seguinte: "Se você ama alguém, deixe-o livre. Se ele voltar, é seu. Se não, nunca foi." Resumindo... Não. Sofra. Por. Quem. Não. Gosta. De Você. Tenha amor próprio.
E por mais diferente que seja de qualquer outra coisa que eu já escrevi, hoje cheguei a conclusão de que perdi muito tempo com essa bobagem de sofrimento. Olhando pra trás, depois de algum caminho andado, vi que cometi erros que agora parecem inaceitáveis pra mim. Mas é bom. Rir do que passou significa que eu superei. E superar é a linha final, um passo da felicidade. Mas até chegar essa linha, cada um faz sua estrada, toma suas direções e escolhas, faz o que bem entende. Eu só queria registrar: se ainda estão fazendo suas escolhas, se ainda tem a chance de optar, então não escolham o sofrimento, a humilhação, porque nenhum homem merece isso. Pensem nisso.
"Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar."

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ironias do amor


Se eu ainda amo?
Ah, querido, não me restam dúvidas quanto a isso. Eu amo sim, e muito. Nunca soube demonstrar, falar, nem sequer explicar meu amor em palavras. Mas você o via só de me olhar, só de sentir meu corpo arrepiar com teu toque. Se eu ainda amo o arrepio que você causava? Sim, é claro que sim. Ele não é um porcento sequer das infinitas lembranças que tenho com você, de você, de nós. E é aí que está todo o meu amor.
Eu amo cada lembrança nossa, todos os erros que cometemos, todos os acertos inclusive. Amo quando você me olhava demoradamente e minha pele queimava em cada centímetro que seus olhos alcançavam. Eu amo, ainda amo, as memórias que guardo - os momentos, as brigas, a pausa para o amor. Nunca deixei de amar essas coisas, nunca deixarei.
Eu amo "nós". Eu nos amo. Juntos, separados, sempre infalíveis. Não só amo, mas admiro, o que se passava entre a gente. Aquele amor todo. Era amor, eu sei que era. Um amor diferente. Que não teve outro igual, nem terá. Amo termos sido tão excêntricos. Sinto por não termos sido nada mais concreto do que isso.
Mas qual parte é novidade para você? Repeti o que você já sabe, em resposta à sua pergunta. Sua pergunta tão óbvia, tão ridiculamente óbvia. Pois é claro que eu amo. Amor é o que não falta aqui. Eu amo o meu passado, eu amo o nosso passado. Eu ainda amo TUDO que pertenceu a nós dois, eu ainda amo NÓS DOIS.
Eu apenas não amo mais você.

quarta-feira, 9 de março de 2011

E se não é amor...


Novamente, lá estava você me fuzilando com aqueles olhos de cor indefinida. Olhando-me de cima à baixo, como se já não conhecesse muito bem, e melhor do que todos, meu corpo inteiro. A intensidade do teu olhar ainda me trazia vertigens, fazia minha mente delirar e desejar você. Ah, sim, essa sensação de novo. Conhecia-a tão bem.
O que era aquilo eu não sei. Na sua cabeça se passavam coisas indecifráveis, que nem você sabia explicar. E também não fazia questão de tentar. Deixava-me na dúvida. Cruel.

Mas, querido, eu te conhecia. Eu te lia, como um texto; lia você por inteiro. Satisfazia-me saber que te incomodava ver todos aqueles homens perto de mim. Perto demais, na sua opinião. Você queria ser um deles e poder substituir todos. Queria estar lá comigo, sendo único pra mim. Mas não admitia. Nunca, jamais, deu o braço a torcer. Nunca vi sua cara à tapas por mim. E nem por ninguém.

Eu sempre disse que uma hora ou outra você ia ter que largar esse escudo, essa máscara toda. Eu estou aberta. Ferida, exposta, aberta. Para você.

E apesar de ninguém ter recusado, ignorado, não-desejado isso, você não conseguia. Não conseguia olhar no fundo dos meus olhos e dizer o que queria dizer. Por mais que eu sentisse aquilo pulsando das suas veias, chegando em mim pelo seu calor, jamais ouvi de ti.

Se foi falta de coragem, pouco me importa. Se foi falta de maturidade, pouco me importa. Tua covardia e tua infantilidade te tornaram o homem que você é hoje. Sozinho. Amargurado. Arrependido. Ainda sinto tudo isso vindo de ti, sem precisar de palavras. Nós nunca precisamos de palavras.

Nos entendíamos tão bem, nos completávamos perfeitamente. Jamais outro corpo irá encaixar no teu abraço tão magistralmente, ninguém vai servir pro meu molde tão bem quanto você. Não precisávamos ser comuns ou convenientes. Apenas sinceros. Mas nem isso soubestes ser.

Sou curiosa, somente isso. Vim atrás de respostas, explicações. Pois não me conformo em ver um sentimento transbordar por casa orifício de um corpo mas não ser colocado pra fora em palavras. Eu preciso dessas palavras. Preciso ouví-las. Preciso que sejam admitidas. Não para ficarmos juntos, não para tentar te convencer - mais uma vez, fracassadamente - de que posso te fazer feliz. Não, hoje não preciso mais disso. Quero ouvir tais palavras para seguir em frente. Para tirar esse peso da minha consciência, de que ficou algo inacabado no passado.

Você arde em ciúmes quando me vê com outro alguém. Tenta me convencer, e se convencer, de que ele não é tão bom para mim quanto você.

Você sorri quando me vê. Talvez não na minha frente para eu não entender, mas sorri. E daquele jeito que eu mais gosto.

Você, antes de dormir, pensa em mim. Talvez tenha algo pra olhar e lembrar. Ou eu subitamente apareço lá, na sua mente, cansada de ficar escondida no canto mais escuro do seu peito.

Por mais que tente evitar, você sente saudade minha. Caso contrário não mandaria de vez em quando uma mensagem como quem não quer nada, ou me ligaria de madrugada, procurando alguém pra te reconfortar. E sou eu a dona dessa função. É a minha voz, as minhas palavras, o meu reconforto que você procura.

Se não é o bastante, darei-te mais infinitos motivos, não me faltam. Mas não preciso. Um dia você vai acordar com um corpo deitado no seu peito. Vai murmurar meu nome, só até encontrar um outro alguém. Vai se dar conta de muita coisa. Pra começar, vai notar que aquela silhueta não se encaixa no seu abraço... que apenas só uma - e você sabe muito bem de quem - era perfeita pra estar ali. E que, na verdade, ela já está com outra pessoa. E que você perdeu... Mas, principalmente, se dará conta de outra coisa. Muito maior.

E se não é amor... então não sei o que é.

Oceano

Eu gosto do jeito que seus olhos fecham quando você sorri. Gosto de como fica inseguro perto de mim. Não admito, mas adoro o fato de você reparar no meu cabelo toda vez que me encontra, ou até na minha roupa. Reparar em mim já basta.
Sabe quando você passa reto? Numa festa, na rua, em qualquer ocasião. Isso me mata. Mata aos poucos, mói minha sanidade, queima meu peito. Tenho vontade de exigir atenção, carinho, algumas palavras, ao menos, ou um simples olhar. Um simples olhar! Aquele olhar que costumava parar o mundo ao nosso redor para existir apenas eu e você.
"Eu e você", engraçado pensar em nós dois juntos novamente... Parece que passou tanto tempo. E na verdade, passou muito mais que isso. Quase não lembro do seu cheiro, do seu toque, da sua voz. Quase. Ainda há vestígios disso tudo em mim, como uma marca que eu não posso tirar. Não que eu não queira ou não deva, mas eu simplesmente não posso. Não dá.
Me pergunto se isso um dia vai passar. Esse sentimento que eu juro que não existir mais, que eu nego sentir. Essas lembranças que me fazem repensar no perdão, na segunda chance, num outro caminho, que me leve mais uma vez à elas. Quero saber se um dia vou ser capaz de olhar para trás e rir de tudo o que passou. De olhar para você e não ter as pernas bambas ou o coração acelerado ou a vontade insana de correr ao seu encontro e me jogar nos seus braços. A possibilidade disso acontecer parece ser tão mínima que já me recuso a nadar contra a corrente desse mar. É tão inútil. Muito mais fácil deixá-la me levar.
Mas, em caso de desistência, me sobra o afogamento. Morrer afogada nesse mesmo oceano de palavras e mentiras... e amor.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Desconhecido

Pra ser sincera, não sei por que comecei a escrever sobre ele. Foi um impulso sem motivos. Eu nem sequer conheço ele direito, as pouquíssimas palavras que trocamos foram no meio de uma conversa com muitos outros amigos nossos. E mesmo assim ele não tirava os olhos de mim e sempre dava um jeito de me elogiar – indiretamente, é claro. Discreto, engraçado. O tipo perfeito de “não corre atrás das mulheres, elas que correm atrás”. Já sofreu. Talvez não por muitas, até nem mais de uma. Apenas sofreu por alguém que virou seu mundo de cabeça pra baixo e hoje ele... Ele é assim. Misterioso, fechado, frio, não-romântico. Apaixonante. Mas nunca mais apaixonado.
O que me deixou inquieta foi o fato de eu sorrir tanto. Sorrir por nada. Sorrir apenas por o ver sorrir. Não é o sorriso perfeito, nem o mais bonito que eu já vi, ele era apenas contagiante. Os olhos transmitiam intensidade, maturidade, uma ponta de brincadeira e aquela dorzinha escondida ali, pra ninguém ver. Mas eu vi. E eu senti uma vontade inexplicável de curar o que ficou pela metade, que ele se negou a aceitar. Quis curar o incurável, tratar da ferida aberta. Olhava, ardente, o que sou por fora. Pena que não pode me ver por dentro. Pena que não pode sentir o que eu sinto, imaginar o que eu penso. Porque se pudesse, não me olharia assim. Fugiria de mim. Teria medo do que se passava na minha cabeça naquele momento, do meu estranho desejo de tirar dele aquilo que o prendia a um passado recente, um presente turbulento. Eu pretendia mexer em partes dele que provavelmente ficariam guardadas se dependesse somente daquele coração. Que se tornara frio, mas que de frio não tinha nada. Ele transmitia calor, sentimento, vontade de se entregar. E eu quis tanto abrir meus braços pra tudo aquilo. Quis tanto quanto ele lesse minha mente e fugisse de mim. Porque, nesse instante, já basta o que está acontecendo comigo. Basta eu não saber o que sinto pelos que já estão presentes na minha vida, não preciso de mais uma complicação. Mas é justamente quando a gente menos deseja, que acontece. Ou quem sabe eu só esteja usando-o como distração, para mudar o dono das minhas palavras. Tudo isso, por sua vez, pode ser fruto da minha imaginação. Mas seja como for, que apenas seja. Estou esperando sempre pelo pior, na esperança de que aconteça o melhor... Pelo menos uma vez.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Verão


Sexta à noite. Eu não fazia ideia de que era sexta-feira até ficarem tão assustados quando eu disse que hoje ia ficar em casa. “Mas hoje é sexta!”. Ah, sim... aquele tal dia que passamos o ano inteiro, a semana toda, choramingando para que chegue. A alegria de ser final de semana não é a mesma. Vai voltar a ser em algumas semanas, mas prefiro não pensar nisso. No momento, me concentro no fato de que nem sei que dia é hoje, estou completamente perdida no calendário. E isso, ao invés de me preocupar, me traz alívio. Eu estou de férias.
Sinto-me livre das cobranças, dos estudos, e, até sendo meio suja, dos amores também. Porque o meu verão são férias. E verão são aqueles dias pra vender a alma ao diabo e querer lembrar – ou não – pra sempre. Cada um vê de um jeito, mas podemos resumir em sol, calor, praia, água-de-coco, Coca-Cola bem gelada. Festas, pegação, bebida, loucura, amores-de-verão. Beber pra esquecer, beber pra não lembrar, beber pra curar a ressaca. Todo dia é sexta. Todo dia é festa. Pros solteiros, pros comprometidos, pros mal-amados. Sem preconceito.
Verão? É a melhor época do ano. Quando ele tá chegando, tenho orgasmos imaginários só de pensar. E quando vai embora... eu sento e espero pelo próximo. Porque ele vai chegar. Ele sempre chega. Cada vez melhor, cada vez trazendo mais paz e alívio. Ah, meu Deus, obrigada por ter inventado essa estação maravilhosa e ainda ter me dado férias nela. Eu não trocaria meu verão por nenhum amor. Porque os amores, as paixões, acabam nos deixando uma hora. Já o verão? Ele nunca me abandona. Tá sempre lá, no fim e começo do ano, de braços abertos pra me fazer sorrir. E, incrível, ele sempre consegue.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011


"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis". Fernando Pessoa

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Alguém


Questionei-me, hoje, por volta das cinco da manhã, o quão (in)útil você foi na minha vida. Flagrei-me afundada no mesmo oceano de mágoas, lembranças, lágrimas, vontades e infinitos desejos no qual eu vivera um tempo atrás. Sentia, desesperadamente, sua falta. E fechava os olhos com força, o máximo que eu pudesse, tentando expulsar da minha mente a necessidade insana de ter você aqui comigo. De ceder ao seu pedido, deixando-o vir até minha casa, pisando na minha calçada, passando pelo meu portão, entrando pela porta da sala, subindo as escadas... A necessidade de chamar seu nome e sentir teu cheiro tão perto de mim. De ficar pronta, perfumada, arrumada, só para encontrar o teu sorriso ao me ver. Necessidade de acreditar nas suas palavras, e querer fazê-las se tornar realidade. Queria deixar meu corpo respirar o teu calor, deixar minha boca provar novamente de ti. Eu sentia falta. A falta que eu negava, recusava, repelia de mim. Sentia-me equivocada ao sentir saudades suas. Como se, sentir saudade de algo que me fez mal, fosse um pecado. Pecado que eu queria cometer repetidamente.
Balancei a cabeça furiosamente, como se esse movimento me livrasse de todos os pensamentos que só apertavam mais meu peito. Eu não posso mais sentir saudades. Não suas, pelo menos. Prometi, me comprometi. A vida segue. Talvez lenta e dolorosamente, mas segue, não importa quão difícil seja o caminho. Por mais que eu chore e esperneie toda noite, querendo sucumbir ao meu desejo, querendo deixar você vir me buscar aonde quer que eu esteja, isso não passa de um momento. Não me refiro ao meu sentimento, e sim a nós dois. Você virá me conquistar mais uma vez. Perderemos horas e mais horas nos emaranhados de nossos próprios problemas e carinhos e cabelos. Pode ser ótimo. Pode ser horrível. Isso pouco importa. Na verdade o que é importa é que, logo, acaba. Você me deixa em casa e não passa de mais uma noite. Que ficará gravada na minha, na sua memória. Nos meus textos, nas nossas histórias. Mas na noite seguinte, é como se nada tivesse acontecido. Nós dois, eu e você, nunca existimos. Somos duas estrelas no céu, que pode brilhar hoje, ofuscar-se amanhã, e desaparecer por uma semana. Talvez reaparecer brilhando do lado de outras estrelas. Gosto de pensar que seja assim, do que aceitar o seu pensamento. Você acha que somos a lua e o sol – podemos nos amar, mas jamais ficaremos juntos. Ah meu amor, se você soubesse a imensidão que há dentro de mim, não me deixaria assim, livre, por aí. Mas não deve fazer ideia de como sou incondicional. Pensando em você, te desejo de novo. Incontrolavelmente. Mas me dou conta de que não passará disso – desejo. Que será esgotado em minutos e reconstruído logo depois, nunca satisfeito. Mas você insiste em me abandonar. Não é nada sério, nunca é para você. Isso até eu achar alguém. Alguém que seja de verdade. Que não me veja momentaneamente, mas que pense em mim como sua mulher, sua namorada, sua esposa. Que deseje tanto quanto eu que essa sensação de estar completo não passe, que construa um passado, um presente e um futuro comigo – ou que pelo menos pretenda. Que não fuja dos compromissos e de mim.
Quem sabe eu já achei. Quem sabe não. Mas com você eu viverei assim pra sempre: na dúvida. Só sinto lhe informar, não me apetece deixar chegar tão longe. “Pra sempre” não combina com você.