sábado, 14 de agosto de 2010

Quebra-cabeça


Não entendo. De verdade, não entendo. Como é possível, no meio de tanta gente, sentir falta de uma só? E quando falo “muita gente” me refiro a seis bilhões de seres humanos, de indivíduos, de pessoas que poderiam completar meu dia... E simplesmente não completam. Como se faltasse um pedacinho em cada uma, ou sobrasse algo, como se não fosse a peça pro meu quebra-cabeça. Sinto-me exatamente assim, procurando a última peça, como se eu tivesse bilhões de opções e a única, e certa, não estivesse ali. Não digo que ela deixa um buraco em mim; só sei que pareço incompleta, faltando alguma coisa pra dar o toque final. E esta tal coisa, no meu caso, seria você.
Acho que os únicos entendedores do que falo serão aqueles que já passaram por isso. Não tenho ideia de como explicar a sensação que tive hoje, o turbilhão de sentimentos e lembranças que me atingiram como um raio, quando eu, tão desligada e apoiada no vidro do carro, coloquei meus olhos naquele carro do outro lado da estrada. Quando eu, sem querer, perdi o fôlego por dois breves segundos, avistando você dirigindo despreocupadamente, de óculos escuros, com aquele mesmo sorriso, o qual ficara gravado em minha cabeça. Foi tão rápido. Tão bom. Minha vontade era de pular da janela e sair correndo em sua direção, pro seu colo, implorando perdão e um pouquinho de amor. Querendo, nem que fosse pelo menor tempo possível, ter sua atenção de novo, conseguir fazer você ver em mim o que via antigamente. Me senti extremamente impotente, como se você estivesse ali e, por mais que eu esticasse o braço, nunca conseguia te alcançar.
Admito que fui pega de surpresa. Eu, que me julgava tão forte e determinada, que aprendi tanto contigo em relação a homens e a sofrimento. Havia me ensinado que vocês, homens, eram todos iguais e que sofrer por vocês era perda de tempo, mas inevitável, e que o remédio para tudo isso seria a indiferença, ou não se apegar e depender tanto de alguém. Mas hoje tenho que discordar desse pensamento. Se os homens são todos iguais, por que não podemos simplesmente substituí-los? Parar nossa vida quando estivesse sofrendo ou descontente, e falar “ei, juiz, substituição! Entra o 9 e sai o 7...”. Diz-me, não seria tão menos complicado? Mas é claro que não é assim. Tirar alguém da nossa vida dói, sem contar que leva tempo para ser superado. Basicamente, não é só conhecer outra pessoa e querer que ela fique no lugar daquele que foi embora. Porque, infelizmente, só ele foi embora. O maldito não levou as lembranças, as fotos, as cartas. Ele deixou seu cheiro na minha roupa, seu gosto na minha boca, sua voz no meu ouvido... Deixou suas manias que viraram minhas manias, e me flagro fazendo exatamente aquilo que eu reclamava tanto que ele fazia. Deixou saudade no meu coração, lágrimas nos meus olhos. Suas mensagens no meu celular e sua foto no meu plano de fundo. Ficaram as dúvidas que nunca tiveram suas merecidas respostas. Foi embora, mas não levou absolutamente nada, que quando viro pro lado me esqueço de que você não está mais aqui. Porque as memórias ainda estão frescas. Às vezes fico me perguntando por que ele não me ligou hoje nem entrou no computador. Foi tão repentino e sem motivos que não consigo entender a razão de ter desistido de mim. De nós. Será que eu era a única, sinceramente, que acreditava na gente? Que ainda acredita? Que vai dormir toda noite com um pinguinho de esperança de que você venha com saudade no dia seguinte? E você... Você não se importa? De jogar tudo fora, de me deixar desamparada? De sair e fechar a porta na minha cara, me puxar o tapete e tirar a base na qual eu havia construído tanta coisa em cima? Será que você pode, por favor, largar esse orgulho por um minuto e vir me encontrar em casa só pra me explicar o que está acontecendo? Porque eu não escolhi ser mais nova que você, nascer anos depois. Não escolhi te conhecer e gostar de ti. Essa minha mente adolescente, com tantos problemas e princípios diferentes dos seus, a qual eu não queria ter. Maturidade, meu amor, não é algo que vem do nada, que ganhamos quando queremos. Porque se fosse, escolheria ser a pessoa mais madura do mundo, largaria minha infância, minha adolescência, excepcionalmente pra agradar-te, para acompanhar-te. Mas não é assim. E você, injustamente, ao em vez de me ajudar a crescer, simplesmente vira as costas e diz que volta quando eu fizer isso sozinha. Como você espera que eu lide com tanto sofrimento e ao mesmo tempo torne-me uma mulher? Sinto lhe dizer, mas era assim que eu me sentia contigo. Forte, poderosa, mulher. E por mais que você tivesse seus momentos infantis, que predominavam seu comportamento, nunca lhe cobrei mais do que isso. Aceitei tudo, afinal é assim que você é, que eu sou. Pedir pra alguém mudar é algo tão injusto. Mas mesmo pensando assim, mudaria se você pedisse.
E aqui estou, novamente, procurando a tal peça do meu quebra-cabeça. Eu sei que a acharei. Talvez eu tenha que, momentaneamente, colocar aquelas pecinhas que parecem encaixar-se tão bem, que de perto montam certinhas, mas que olhando de longe você enxerga a diferença delas pro resto do quebra-cabeça e, quando cansa dessa diferença, volta a buscar a peça certa. Seis bilhões de almas que poderiam me fazer feliz. Sinto falta de uma. Seis bilhões de corações batendo freneticamente, que poderiam bater por mim. Sinto falta daquele único que se nega a me ter como motivo de sobrevivência. No meio de uma multidão, sinto-me sozinha. Falta você.

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