quarta-feira, 9 de março de 2011

E se não é amor...


Novamente, lá estava você me fuzilando com aqueles olhos de cor indefinida. Olhando-me de cima à baixo, como se já não conhecesse muito bem, e melhor do que todos, meu corpo inteiro. A intensidade do teu olhar ainda me trazia vertigens, fazia minha mente delirar e desejar você. Ah, sim, essa sensação de novo. Conhecia-a tão bem.
O que era aquilo eu não sei. Na sua cabeça se passavam coisas indecifráveis, que nem você sabia explicar. E também não fazia questão de tentar. Deixava-me na dúvida. Cruel.

Mas, querido, eu te conhecia. Eu te lia, como um texto; lia você por inteiro. Satisfazia-me saber que te incomodava ver todos aqueles homens perto de mim. Perto demais, na sua opinião. Você queria ser um deles e poder substituir todos. Queria estar lá comigo, sendo único pra mim. Mas não admitia. Nunca, jamais, deu o braço a torcer. Nunca vi sua cara à tapas por mim. E nem por ninguém.

Eu sempre disse que uma hora ou outra você ia ter que largar esse escudo, essa máscara toda. Eu estou aberta. Ferida, exposta, aberta. Para você.

E apesar de ninguém ter recusado, ignorado, não-desejado isso, você não conseguia. Não conseguia olhar no fundo dos meus olhos e dizer o que queria dizer. Por mais que eu sentisse aquilo pulsando das suas veias, chegando em mim pelo seu calor, jamais ouvi de ti.

Se foi falta de coragem, pouco me importa. Se foi falta de maturidade, pouco me importa. Tua covardia e tua infantilidade te tornaram o homem que você é hoje. Sozinho. Amargurado. Arrependido. Ainda sinto tudo isso vindo de ti, sem precisar de palavras. Nós nunca precisamos de palavras.

Nos entendíamos tão bem, nos completávamos perfeitamente. Jamais outro corpo irá encaixar no teu abraço tão magistralmente, ninguém vai servir pro meu molde tão bem quanto você. Não precisávamos ser comuns ou convenientes. Apenas sinceros. Mas nem isso soubestes ser.

Sou curiosa, somente isso. Vim atrás de respostas, explicações. Pois não me conformo em ver um sentimento transbordar por casa orifício de um corpo mas não ser colocado pra fora em palavras. Eu preciso dessas palavras. Preciso ouví-las. Preciso que sejam admitidas. Não para ficarmos juntos, não para tentar te convencer - mais uma vez, fracassadamente - de que posso te fazer feliz. Não, hoje não preciso mais disso. Quero ouvir tais palavras para seguir em frente. Para tirar esse peso da minha consciência, de que ficou algo inacabado no passado.

Você arde em ciúmes quando me vê com outro alguém. Tenta me convencer, e se convencer, de que ele não é tão bom para mim quanto você.

Você sorri quando me vê. Talvez não na minha frente para eu não entender, mas sorri. E daquele jeito que eu mais gosto.

Você, antes de dormir, pensa em mim. Talvez tenha algo pra olhar e lembrar. Ou eu subitamente apareço lá, na sua mente, cansada de ficar escondida no canto mais escuro do seu peito.

Por mais que tente evitar, você sente saudade minha. Caso contrário não mandaria de vez em quando uma mensagem como quem não quer nada, ou me ligaria de madrugada, procurando alguém pra te reconfortar. E sou eu a dona dessa função. É a minha voz, as minhas palavras, o meu reconforto que você procura.

Se não é o bastante, darei-te mais infinitos motivos, não me faltam. Mas não preciso. Um dia você vai acordar com um corpo deitado no seu peito. Vai murmurar meu nome, só até encontrar um outro alguém. Vai se dar conta de muita coisa. Pra começar, vai notar que aquela silhueta não se encaixa no seu abraço... que apenas só uma - e você sabe muito bem de quem - era perfeita pra estar ali. E que, na verdade, ela já está com outra pessoa. E que você perdeu... Mas, principalmente, se dará conta de outra coisa. Muito maior.

E se não é amor... então não sei o que é.

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