sábado, 1 de setembro de 2012

Venci(da)

O silêncio ocupou o espaço que era dos risos e das conversas. Qualquer lugar era o lugar perfeito pra olhar desde que não fosse um para o outro. Dois corpos que não sabiam mais preencher o mesmo espaço e não estavam na mesma sintonia, mas insistiam em tentar. Tentar, não sei pra quê, porque na verdade era um tentando e o outro apenas levando em frente; ou não levando a lugar nenhum. Os olhos se encontravam, mas não se achavam, não se entendiam. As palavras não faziam mais sentido e por isso eram poupadas. Levamos muito tempo numa brincadeira meio sem razão e meio sem entender nada, jogando fora e depois catando de volta. A perda não é fácil pra ninguém. Nós sabíamos, mas não entendíamos. Nunca faltou amor. Não faltou atração, nem cumplicidade. Somente morreu a palpitação no coração e o frio na barriga e a sensação de conquista. Mas nós não tínhamos morrido, apenas não sabíamos mais nos reinventar, e desistir parecia mais fácil. Mais fácil pra você, pelo menos.
Você queria desistir e eu queria insistir. Uma briga que só teria um fim e a gente sabia. Mas nenhuma guerra é de verdade se um dos lados não insistir, não é? E lá fui eu, espada numa mão e escudo na outra, tentar buscar o que perdemos. A verdade é que eu já tinha jogado meu escudo fora há muito tempo, e minha espada não tinha mais ponta. Eu lutei por força do hábito. Eu lutei por acomodação. Lutei porque não quis aceitar que tinha que sair da nossa rotina e do nosso castelo, mesmo vendo ele desmoronar a minha volta. Eu lutei porque era a única coisa que eu sabia fazer ainda, e de tanto ter feito, tornou-se automático. Minha reação era lutar e tentar manter unido o que não tinha mais ligação. Mas se me perguntassem, eu não saberia explicar porque estava na guerra. Eu olhava pra você e implorava um pouquinho de ajuda, mas você jogou a toalha, rendendo-se. Não sei porque gastei as últimas palavras sabendo que eram em vão. Não sei porque tentei continuar em algo que eu nem sabia mais se era o que eu queria. Não sei porque eu hesitei em vez de aceitar a derrota. Força do hábito. Amor, talvez.

Um comentário:

  1. Muito bom!
    Jamais desista das pessoas que ama. Jamais desista de ser feliz.
    "Sonhar um sonho a dois,e nunca desistir da busca de ser feliz, é para poucos!" Cecília Meireles

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