quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Compreender

Quando você chegava em casa e eu te ligava tarde da noite querendo conversar e você dizia que tava cansado, eu ficava brava. Nunca entendi todo esse teu cansaço. Achei por muito tempo que era desculpa tua, não sei pra quê. Quantas vezes criei uma briga enorme por causa disso, e você só ficava mais cansado de ter que ouvir uma hora a namorada reclamar da falta de atenção pelo telefone. Muita gente trabalha e estuda e namora, e você é o única que fica cansado? Nunca entendi. Nunca tentei entender. Sempre tive essa coisa de mulher de ficar procurando defeito onde não tem, e achava fielmente que era tudo mentira tua porque não queria falar comigo. Achei que o problema era eu.
Hoje, te vejo sozinho chegando em casa... E cansado. Fazendo exatamente as mesmas coisas que fazia quando tava comigo. Chegava em casa estragado de fome, limpava a geladeira, assistia televisão e depois jogava o sagrado video game. Jogo de futebol, seu preferido e o único que eu não sabia jogar. Ficava quieto, não queria falar, não queria pensar. Queria teu tempo, teu espaço, teu silêncio. E eu nunca entendi.
Quando eu chegava em casa e te ligava tarde da noite, eu dizia que tava carente e queria conversar, e você ficava bravo. Você nunca entendeu minha carência e minha necessidade de atenção. Achou por muito tempo que era drama meu, só pra te incomodar. A gente brigava pelo teu cansaço, minha carência, nossa falta de diálogo e excesso de discussão. Um não via o lado do outro e isso matava aos poucos, lentamente.
Eu chegava em casa, estudava o dia todo, e não falava com você. Tudo o que eu queria era largar os livros, pegar o carro e ir até o teu trabalho pra te dar um beijo. Quando te mandava uma mensagem, você demorava pra responder, alegando que estava ocupado demais trabalhando. Tarde da noite, a hora que você chegava em casa, eu te ligava saltitante querendo jogar papo fora e ouvir tua voz. Cansado. Você tava cansado demais pra ouvir ou pra falar ou pra explicar. Tua grosseria e minha sensibilidade batiam de frente e magoava.
Me surpreendo de saber que foi isso que nos levou ao fundo do poço. Isso, principalmente. Justo nós, que sempre decidimos pelo diálogo quando houve alguma problema, deixamos a falta dele nos enforcar até matar. E matou. Matou porque faltou compreensão na hora mais simples do relacionamento. Você tava cansado e eu tava carente, não custava um ceder pro outro. Mas não, na verdade a gente sempre esperava que o outro fosse ceder todas as vezes e não cedia nenhuma. Egoísmo.
Eu deveria ter ido até a sua casa e te levar um chocolate e fazer uma massagem em vez de ligar. Deveria ter engolido a carência um dia ou outro e ter te dado o teu querido silêncio. Você, em troca, podia matar a carência que ficou acumulada pro outro dia me ligando e conversando um pouco comigo, ou só vindo me ver. O cansaço deixava pra hora de deitar a cabeça no travesseiro.
Um erro tolo, básico e simples de ser resolvido, e nós deixamos escapar. Tão óbvio que parecia invisível. Me perdoa se sentia tua falta só de ficar sem ti o dia todo. Me perdoa se te liguei carente e não entendi o teu lado. Hoje eu preferia passar o dia sem ti do que passar todo esse tempo longe. A falta que eu sinto acumula, e eu desabafo aqui. Espero que um dia, sem estares cansado, você possa ler aqui o nosso erro e, finalmente, compreender o meu lado.

Um comentário:

  1. Nossa, me vi completamente nesse post! Felizmente não chegamos ao fim.
    Parabéns pelo texto, muito bom!

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