terça-feira, 9 de julho de 2013

Desequilíbrio

Você me olha com aquela cara de safado, cachorro, sem vergonha, apesar de ser assim só dentro de casa. Analisa-me da cabeça aos pés, e, diferente da maioria das pessoas que faz isso, sente amor, orgulho e desejo ao fazê-lo. Não cansa de repetir o quão linda eu sou assim, deitada na tua cama, entregue de corpo e alma. Você me faz sorrir e chorar e gemer e gritar e amar, tudo ao mesmo tempo. Eu só tenho tempo de pedir que essa sensação nunca termine. Levanto, visto teu moletom e um par de meias que deixei na tua casa, junto com tantas outras coisas que foram vindo aos poucos e agora já moram com você. Passo tanto tempo nessa casa que já é nossa casa, já é minha casa, já não encontro motivos pra sair. Minhas meias aquecem, não tanto quanto teu corpo, mas bastam pra me deixar fazer nosso almoço. Sou um desastre na cozinha, no entanto procurei mil e uma receitas diferentes pra tentar te agradar, porque é isso que você faz comigo. Você desperta em mim a melhor parte que existe, faz com que eu queira ser melhor do que já sou todos os dias, dá a sensação de que o despertador tocar nem é tão ruim assim porque, depois do despertador e das aulas e do almoço e das provas, vem você, a melhor parte do meu dia. Agora, insistentemente, procuro ver um lado bom em tudo o que acontece. Você me incentiva a ser assim apenas por ser também. E eu me torno uma pessoa melhor por estar com a melhor pessoa que tem. Acordo manhosa, descabelada e sonolenta, e tudo o que você consegue cochichar é que sou muito mais bonita assim, sem maquiagem, sem preocupações, sem nada. Segura minha cabeça, me beija e deixa o mundo de lado e o arrepio subir pela minha espinha. Acho que nem tem ideia do quanto fica estonteante com essa cara de sono, sem camisa e os pêlos recém nascidos no peito. Encosto minha cabeça nele e não preciso de mais nada. Com teus braços me envolvendo, nada pode me atingir, me abalar, me desequilibrar. Não que sejamos equilíbrio, apesar de nos completarmos num balanço perfeito. São os altos e baixos que nos jogam pra frente, nos impulsionam num salto que parece não ter fim. E, pela primeira vez na vida, não quero que tenha fim. Não quero abrir mão, não quero esperar o ponto final, ou colocar reticências. Pontuações não bastam quando o assunto é você. Pra nos escrever, quero que sejamos um texto, um livro, qualquer coisa que não tenha pontos, apenas continuação. Tonta, sento-me na beira da cadeira e tento absorver tanta novidade, todas as sensações novas, que fazem de mim outra pessoa sem me mudar nem um milímetro. É isso que gosto em você: sou eu mesma, mesmo quando sou toda nova, toda modificada, toda aos pedaços. Sou inteira. E eu sou feliz. Sou feliz quando sou eu mesma e só sou eu mesma com você...

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